Noites de verão @ MNAC

Os concertos, das Noites de Verão no Museu do Chiado, regressam e prometem ficar até Setembro. O Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (MNAC), em Lisboa, volta a deixar que a música habite o seu Jardim das Esculturas durante várias noites, pelo quinto ano consecutivo, comprovando o sucesso que tem sido o som, a visitar o museu.

Deixamos o programa para que marquem na vossa agenda os concertos, com um pequeno lamiré sobre cada músico, de cada noite. Eis o alinhamento (todos os concertos têm início marcado para as 19h30):
11/07 – Lau Nau (FI):
Escritora de canções, cantora, instrumentista e compositora finlandesa, que vem ao longo da última década a explorar e trabalhar sobre as formas de vocabulários musicais – poder-se-á dizer – indígenas dessa cultura, e o jeito como se podem agregar a tradições do resto do Ocidente. “Valohiukkanen” é a primeira aproximação marcada de Lau Nau a trabalhos com uma orquestração e produções mais ambiciosas. Boa ocasião para ver por onde passam, hoje em dia, as movimentações da mais rebelde e organizada comunidade de escritores de canções da Escandinávia contemporânea, por uma das suas figuras mais emblemáticas.

Chris Corsano © Esther May Campbell.

18/07 – Chris Corsano (US):
Baterista e percussionista que irrompeu do jazz, do rock avant-garde e da música improvisada há mais de uma década, Chris Corsano tem criado em palco e registo gravado. Surgindo em igual medida da tradição punk/rock mais esclarecida do final dos anos 80 e início dos anos 90, foi talvez o free jazz, feito após o desaparecimento de John Coltrane e Albert Ayler, que mais acaba por formar o trabalho de Corsano, nas figuras de bateristas visionários como Milford Graves, Rashied Ali, Rashied Sinan ou Beaver Harris. Os seus solos são um tratado sobre as propriedades expressivas, tímbricas, frásicas dos materiais técnicos e poéticos que a bateria oferece.
25/07 – Mdou Moctar (NE):
No concorrido campeonato de guitarristas Tuareg, Mdou Moctar distingue-se dos seus contemporâneos. É um dos poucos escritores de canções e intérprete decidido a experimentar e a fazer progredir o género, e as suas estratégias estéticas pouco ortodoxas têm-lhe conquistado, cada vez mais, seguidores tanto no Níger como além fronteiras. Mdou é originário de Abalak, no deserto Azawagh do Níger, com o seu primeiro album “Anar” gravado na Nigéria em 2008, uma colecção de temas com uso de autotune na voz; nunca foi oficialmente editado, mas as canções tornaram-se um sucesso popular no Sahel – a faixa territorial de costa a costa de África, divisionária do deserto do Sahara a norte e a savana sudanesa a sul. “Tahoultine”, uma das faixas mais emblemáticas, foi mais tarde incluída na compilação “Music from Saharan Cellphones: Volume 1”, editada pela Sahel Sounds. A mesma editora lançou em 2013 ‘Afelan’, o primeiro album com distribuição internacional de Mdou, gravado ao vivo no Níger.
01/08 – Josephine Foster (US):
Música, vocalista e escritora de canções norte-americana, atualmente sediada na Andaluzia. Josephine Foster cantora lírica de formação, inicia o seu percurso público autoral em Chicago, a tocar uma canção que vinha tanto do amor pelo repertório da música clássica europeia, dos exemplos dos músicos dos espetáculos de variedades norte-americanos da viragem para o séc. XX, de Karen Dalton, Shirley Collins e de alguns da cultura psicadélica, entre outras singulares referências.  Após estreia a solo, em maior escala, com ‘Hazel Eyes, I Will Lead You’ (Locust, 2005) passa por um disco em trio de acid rock; um álbum de Schubert, Schumann e Brahms; o regresso à base com “This Coming Gladness”; em “Graphic As a Star” pega nos colossais poemas de Emily Dickinson, musicando-os; em 2010 fez um álbum com Victor Herrero e a sua banda, dedicado ao cancioneiro de Lorca, banido em Espanha em 1931.
08/08 – Ghédalia Tazartès (FR):
Artista francês de origem turca nascido em 1947, Ghédalia Tazartès é dono de uma obra singular, tem vindo a empregar técnicas muito suas e constantes ao longo do seu percurso, com alterações relativas de meios. Utiliza gravações de campo cortadas e coladas desde a época da fita, teclados e electrónica para resultados de um grão e estranheza, muito particulares. Com a voz é invadido por várias viagens internas, que o levam de um francês real, a outro inventado, passando por uma série de outras línguas, umas existentes, outras obra dos momentos que decide desenhar. Veremos onde vai a viagem neste Verão de 2014.
15/08 – Norberto Lobo & João Lobo (PT):
Amigos de longa data ligados pela música, Norberto Lobo e João Lobo concretizaram o seu limiar entendimento simbiótico através da gravação de “Mogul de Jade”, o seu album de estreia publicado no Verão do ano passado na editora Mbari. O disco, e os concertos, mostram o patenteado estilo de Norberto, sendo que aqui também se mune da guitarra elétrica para além do seu domínio na acústica já conhecido, assim como evidenciam o trabalho do baterista, sediado em Bruxelas, João, com a sua marca singular de percussão tonal. Vêm ao Jardim das Esculturas com temas fixados no seu disco, assim como novas composições que têm vindo a trabalhar.

Timespine © Vera Marmelo.

22/08 – Timespine (PT):
Timespine são Adriana Sá, John Klima e Tó Trips e editaram este ano o disco de estreia homónimo na Shhpuma, trabalho desenvolvido a partir das partituras gráficas de Adriana. Uma música envolvente, sendo permeada pela improvisação para navegar entre os campos da folk e da composição contemporânea. Adriana tem um percurso na música electrónica experimental, destacando-se o seu trabalho de pesquisa e prática no uso de tecnologia de sensores. Nesta formação centra-se na abordagem à “zither”, que dedilha e aplica um arco de violino num trabalho de exploração tímbrica. Tó Trips, com um legado incontornável na música nacional recente, ocupa-se do dobro, onde a frase e o silêncio são argamassa de um registo distintivo folk. O californiano e baixista John Klima (ex-membro do grupo Presidents of United States of America) com trabalho no campo das artes visuais, constrói instalações electro-mecânicas de larga escala operadas por software de jogos 3D, programa de origem, expondo regularmente no panorama internacional.
29/08 – Tropa Macaca (PT):
Tropa Macaca são André Abel e Joana da Conceição, banda sediada em Lisboa do campo da composição contemporânea eletrónica. Com cerca de sete anos de parceria criativa e actividade pública, editaram a sua música em selos fundamentais do underground europeu e norte-americano como a Qbico e a Siltbreeze, tendo o mais recente “Ectoplasma” sido lançado na nova-iorquina Software de Daniel Lopatin (Oneohtrix Point Never).  Em actuações dos últimos tempos, contudo, temos vindo a assistir a novos desenvolvimentos na prática. Temas de duração mais variável apresentam maior quantidade de eventos, que se desenrolam de maneiras novas e inesperadas. Como sempre tem sido o caso com a Tropa Macaca, torna-se muito complexo fazer referências a outros trabalhos artísticos passados, havendo mais semelhanças do ponto de vista tímbrico e textural, do que propriamente estruturas musicais familiares.
05/09 – Kimi Djabaté (GW):
Escritor de canções, vocalista, balafonista, guitarrista e embaixador da cultura mandinga e guineense em Portugal e no mundo, Kimi Djabaté  trabalha as canções com precisão e critério dos sérios e serenos. É filho de uma família secular de músicos, que se filiou na Guiné Bissau há mais de dois séculos, e é seu assunto vivencial, social e cultural tratar na forma de música as questões e resoluções de sempre e de hoje; a observação do mundo através da oralidade da música. Numa altura em que se dão os últimos toques para a edição do seu próximo álbum, ouviremos várias canções dos seus anteriores “Terike’ e ‘Karam”, o último rendeu-lhe rasgados elogios da imprensa internacional, e uma preenchida agenda em palcos na Europa, América e Ásia.

A tomar nota, a ir.  •

+ Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado
© Vídeo: Lau Nau, “Valolle”.
© Imagem de capa: Josephine Foster, “Im a Dreamer” cover.