Julho foi, para a editora Clean Feed, sinónimo de sete novos álbuns a sair para o mercado. As sonoridades jazz não param, no universo desta editora nacional.
Baloni, “Belleke” com: Joachim Badenhorst (clarinete baixo, clarinete e saxofone tenor), Frantz Loriot (viola), Pascal Niggenkemper (contrabaixo). Depois do sucesso da gravação de estreia e uma extensa tour, Baloni está de volta para levantar fervura lentamente com chambre jazz camera-like e paisagens sonoras surrealistas. É um trio nova-iorquino de músicos europeus. Badenhorst, Loriot e Niggenkemper interpretam um música com raízes europeias óbvias (as influências clássicas e contemporâneas são evidentes), mas eles fazem-no ao estilo e gosto da Big Apple. Há em “Belleke” uma elegância musical com reminiscências de um Erik Satie e de compositores impressionistas, mas a unidade, o foco de improvisação, a inquietude são distintos do jazz americano. Imagine os minutos antes de uma tempestade: o que se ouve é apenas aquele breu, ameaçador.
Sao Paulo/Chicago Underground, “Pharoah and the Underground – Primative Jupiter” + Sao Paulo/Chicago Underground, “Pharoah and the Underground – Spiral Mercury”com: Pharoah Sanders (saxofone tenor, voz), Rob Mazurek (corneta, electrónica, flauta, voz), Chad Taylor (bateria, mbira), Matthew Lux (baixo), Mauricio Takara (cavaquinho, percussão, electrónica), Guilherme Granado (sintetizadores, samplers, percussão, voz). Este encontro, do compositor e conceptualista Rob Mazurek com mais cinco brilhantes músicos, aconteceu como o ato final da edição de 2013 do Jazz em Agosto e esta é a gravação, ao vivo, desse evento único. É mais um item, especial, na série Clean Feed criada em associação com o festival organizado pela Fundação Calouste Gulbenkian. A música vive entre o jazz e música improvisada livre, com um sentir tropical e muita eletrónica, algo que nunca ouvimos em Pharoah, mas seu saxofone tenor está em todo o lado, no seu modo de sentir e pensar.
Joe Morris Quartet, “Balance” com: Joe Morris (guitarra), Mat Maneri (viola), Chris Lightcap (baixo, Gerald Cleaver (bateria). “Balance” pode ser o regresso de um velho projeto de Joe Morris e banda, mas o guitarrista, sempre inovador, abraça-o como uma nova aventura. É um trazer da música para territórios nunca antes cruzados e é principalmente uma questão de atitude: não fazer o que já foi feito. Encontrar semelhanças com álbuns como “Underthru” e “Live at the Old Office” é inevitável – afinal, são os mesmos músicos -, agora estamos diante um ponto de partida para outros caminhos e soluções. Joe Morris continua a surpreender-nos, de novo e de novo.
Adam Lane Full Throttle Orchestra, “Live in Ljubljana” com: Nate Wooley (trompete), Susana Santos Silva (trompete), Reut Regev (trombone), David Bindman (saxofones tenor e soprano), Avram Fefer (saxofone alto), Matt Bauder baritone (saxofone), Adam Lane (baixo), Igal Foni (bateria). Lane, está de volta no formato Big Band que tanto gosta, com um conjunto grande o suficiente “para permitir um densa e multi-dimensional paleta sonora“, mas pequena suficiente “para uma improvisação de grupo bem sucedida“. Lane incorpora estratégias de organização que ele aprendeu com o jovem compositor Earle Brown porém, nunca se afasta muito da lógica do jazz tradicional. Como de costume, ele integra uma miríade de influências no seu som, como de Duke Ellington, Charles Mingus e Muhal Richard Abrams, mas também Luigi Nono e Parliament/Funkadelic. Como Lane diz: “It’s all about the groove.” É música para o corpo se deixar levar ao som do ritmo.
Kullhammar/Aalberg/Zetterberg/Mathisen, “Basement Sessions vol. 3 (the Ljubljana tapes)” com: Jonas Kullhammar (saxofones tenor e soprillo/sopraníssimo, flauta), Jørgen Mathisen (saxofone tenor), Torbjörn Zetterberg (baixo), Espen Aalberg (bateria). No terceiro volume das “Basement Sessions”, o trio Jonas Kullhammar / Torbjorn Zetterberg / Espen Aalberg traz um quarto elemento para o conceito “mutated hardbop” que foram colocando em estágio: Jørgen Mathisen, saxofonista tenor norueguês – combinação perfeita para o twin sax de Kullhammar. Lado a lado, eles improvisam dentro (e fora) composições de todos (chegando a Marilyn Mazur’s Fresk Baglæns) e estando no topo de uma das secções rítmicas da Europa, de hoje, fornecido pelos sempre surpreendentes Zetterberg e Aalberg. A música soa à velha escola, misturando referências dos anos em que o hardbop transitou para o free jazz, mas não se engane, não encontrará aqui uma reprodução dos anos 1950. É novo som.
Cortex, “Live!” com: Thomas Johansson (corneta), Kristoffer Alberts (saxofones tenor e baritono), Ola Høyer (contrabaixo), Gard Nilssen (bateria). A parceria da Ornette Coleman com Don Cherry tinha na linha de frente formada por John Zorn e Dave Douglas, na banda Masada, um legado bem-vindo. Agora é a vez de Cortex continuar essa linhagem sobre o trabalho interativo entre um alto e barítono (Kristoffer Alberts) e um trompete (ou, no caso de Thomas Johansson, uma corneta). Com o contrabaixista Ola Høyer e o baterista Gard Nilssen, estes quatro músicos noruegueses são representantes notáveis de uma nova geração escandinava, ao mesmo tempo que preservam a identidade de uma linguagem musical sujeita a muitas variações e evoluções, ganhando cores locais ou mistura com outros géneros e estilos. Este quarteto pratica um conceito de jazz exploratório e criativo com patine dos anos anteriores do free jazz, quando a matriz bop estava muito em evidência. A música em “Live!” é intensa com uma atitude “in-your-face”, sem um momento de descanso. No final do álbum, não estamos cansados, estamos preparados para o que virá a seguir.
Sete álbuns a ter para os amantes do estilo jazz e não só. Bons sons, a descobrir e ouvir. •