Livro: “A Peregrinação do Rapaz sem Cor”

Com o seu mais recente livro, Murakami abandona o universo mais fantástico dos seus últimos romances, como “1Q84” e “O Impiedoso País das Maravilhas e o Fim do Mundo”, e regressa às histórias das pessoas, na sua essência mais real: a descoberta do nosso lugar no mundo.

Confesso que não fui seduzida pelos dois últimos títulos de Murakami. A leitura angustiou-me, e sempre que pegava neles ficava com aquela sensação como quando comemos demasiado rápido e a comida parece ficar entalada na garganta. Queria que aquilo acabasse, rapidamente.black stetson hat castelli gabba custom youth nfl jersey air jordan 1 element black friday wig sale stetson straw cowboy hats yeezy boost 350 v2 hyperspace NFL College Jerseys casquette femme von dutch air max 270 women borsa prima classe stetson casquettes keyvone lee jersey blow up two person kayak luvme human hair wigs
Por isso, voltar a ler o ‘simples’ “A Peregrinação do Rapaz sem Cor” fez-me regressar ao universo Murakami de que eu gosto: o das personagens e das histórias que poderiam ser de todos nós, a tentarmos enfrentar os nossos medos e as nossas angústias, a querer ser pessoas melhores.
No início deste livro, deparamos com Tsukuru Tazaki à beira do suicídio. Um jovem que no seu segundo ano de faculdade, e depois de ter sido abandonado pelo seu grupo de amigos de sempre, só pensa em morrer. E este período de cerca de 6 meses leva-o a uma transformação, tanto física como psicológica. Mas se se pensa que desta crise, emerge uma personalidade que reconhece o valor da vida, é exatamente o contrário que acontece: Tsukuru considera-se um indivíduo aborrecido e insignificante, que adora passar horas em estações de comboios a vê-los chegar e partir. É, aliás, essa paixão infantil que o leva a seguir a profissão de engenharia para construir e transformar estações de comboio (interessante jogo de palavras, uma vez que Tsukuru significa ‘fazer’, ‘construir’ ou ‘criar’ em japonês). Ao longo do livro, a nossa visão é sempre dada por esta personagem triste, que se apresenta sempre de forma desinteressante, monótona, rotineira. Um novo olhar sobre Tsukuru é-nos oferecido pelas diferentes personagens com as quais se vai cruzando – Sara, Haida, Ako, Ao e Kuro -, algumas do seu passado, outras que o acompanham mais tarde.
Tsukuro é uma daquelas pessoas com quem todos já nos cruzamos na vida: com um enorme potencial, mas a ver-se sempre como um tipo banal, desinteressante.
E é precisamente Sara a personagem que o agita, que o leva a procurar as respostas que ele desconhece sobre o seu passado e a enfrentar os seus próprios medos. É também a Sara que Tsukuru confessa o seu amor no final. Mas, como em muitas coisas na vida, a resposta fica em aberto.
A música, que Murakami traz para muitos dos seus livros, é também aqui uma chave fundamental, sobretudo a peça “Lu mal du pays”, da autoria de Franz Liszt e que acaba por acompanhar a ação em diferentes situações. Há personagens e histórias que dão cor a este romance, mas cujo objetivo fica por perceber, como se fossem hipóteses ou até rascunhos para futuros romances de Murakami. Mas, no final, “A Peregrinação do Rapaz sem Cor” é uma história positiva, de esperança, de mudança e de amor. Uma história sobre algumas das coisas que realmente importam.

362 páginas / €19,80
Casa das Letras