Conforme prometido, hoje os outros quatro álbuns editados pela Clean Feed. Edições a ter, se amante do jazz for, se novas sonoridades do universo jazzístico quiser (re)descobrir.
Eve Risser “Des Pas Sur la Neige” / com Eve Risser (piano). Demorou um pouco para Eve Risser se considerar “pianista” pois, tocando também outros instrumentos via o piano apenas como mais um recurso sonoro entre outros. Porém, isso mudou nos últimos anos e diz, humildemente: “above all, I like the idea of trying to be a pianista“. “Des pas sur la neige” é a confirmação definitiva de que o é. Mais: atualmente é uma das pianistas mais interessantes da Europa e do mundo. O ponto de viragem deu-se com o lançamento de “En Corps”, um trabalho aclamado em formato trio com Benjamin Duboc e Edward Pérraud. Desde então, a sua carreira a solo, os seus trios, quartetos e ensembles (White Desert Orchestra) tornou-se a rendição definitiva ao teclado preto e branco e a tudo o que envolve a invenção de Bartolomeo Cristofori, na viragem do século XVII para o século XVIII. As suas movimentações, a sua abordagem, muito diferentes de um John Cage, são únicas: às vezes soa como um dulcimer ou um sintetizador, outros como elementos de percussão, e outros ainda, como qualquer coisa que nunca ouviu antes. E tudo sempre com a identidade do piano preservada. Distinguindo-se como um membro da Orchestre National de Jazz durante a direção de Daniel Yvinec e com o projeto The New Songs, este novo álbum coloca-a sob atenção especial. Aqui, Eve descreve como “interior landscapes with the outside landscapes“, inspirada pela neve das regiões nórdicas, “the spirit of nothingness in the desert“. Um álbum belo, com resultado singular. Gravado no Studio Juillaguet, em setembro de 2012, por Ananda Cherer; misturado e masterizado por Ananda Cherer; produzido por Eve Risser; desenhos por Eve Risser.
Pascal Niggenkemper “Look With Thine Ears” / com Pascal Niggenkemper (contrabaixo). E eis chegada, finalmente, a muito esperada gravação a solo do contrabaixista Pascal Niggenkemper intitulado “Look With Thine Ears”. Tudo o que se ouve de Niggenkemper como líder em grupos como vision7, Upcoming Hurricane, PNTrio, “le 7ème continente”, colaborando com Baloni e Pascali, além de ser membro de Gerald Cleaver’s Black Host, de Thomas Heberer Clarino, Cooper Moore Trio e Nate Wooley / David Rempis Quartet, fez sonhar com a oportunidade de ouvi-lo solo, agora concretizado. Por quê sonhar? Elementar. Niggenkemper faz parte de uma série contrabaixistas únicos que preparam os seus instrumentos, sendo, provavelmente, o que vai mais longe a fazê-lo, pois está rodeado das mais belas sonoridades e porque tem um vocabulário infinito para os sons deste elemento da família do violino, criando mundos e paisagens sonoras inteiras. Vivendo em Nova York, e sendo parte integrante da “Movida” da Big Apple, este virtuoso franco-alemão é, sem dúvida, um dos mais importantes mestres do contrabaixo, em atividade. Gravado e misturado no lacsap Studio, Brooklyn, NY em 2014; masterizado por Jim Clouse no Park West Studios, Brooklyn, NY; produzido por Pascal Niggenkemper; fotografia por Natasha Lebedeva.
Various Artists “I never meta guitar three” / Parte 3 da série “I Never Meta Guitar” compilado por Elliott Sharp. John King, Indigo Street, Joel Peterson, Kirsten Carey, Cristian Amigo, Adam Brisbin, Sandy Ewen, Anders Hilsson, Peter Maunu, Bruce Eisenbel, Simone Massaron, Lily Maase, David Fulton, Jim McCauley, Angela Babin, Brandon Seabrook, Alessandra Novaga e Ed Ricart são os músicos escolhidos para integrar este volume, para confirmar a ideia da Sharp que a guitarra é um instrumento continuamente reinventado, com novos sons, processos, técnicas, melodias, riffs e gestos vindos de mentes criativas e dedilhares de todos os lugares possíveis. O título da série é uma paráfrase do humorista Will Rogers, “I never met a man I didn’t like», e que é o estado de espírito levado para realizar a seleção, que chega até nós. Aqui, música salta para o desconhecido, o inesperado, o que significa que se vai surpreender e surpreender novamente, como as 18 faixas que estão neste alinhamento, que vão prender seu ouvido e a sua mente. Se quer saber qual o futuro reservado à guitarra (seja elétrica ou acústica) na cena jazz que está a ser preparado agora, esta é indubitavelmente a sua fonte de informação segura – “I never meta guitar three”.
Elliott Sharp “Octal: Book Three” / com Elliott Sharp (Koll 8-string). Há um velho ditado português que nos diz que “não há duas sem três” e a confirmação parece universal. No jazz, o novo projeto “Octal”, de Elliott Sharp, o terceiro, com mais sonoridades vindas de sua mui especial guitarra Koll de oito cordas, uma guitarra eletroacústica com duas cordas graves extra, construída pelo luthier Saul Koll. Neste álbum há mais e diferentes sonoridades, é preciso acrescentar, porque o guitarrista de Nova Iorque usa a distorção e o trabalho eletrónico nestas novas peças, bem como a estratégia aqui definida, para este todo, é díspar dos dois volumes anteriores: em vez de composições meticulosas, Sharp trabalhou a partir do improviso com estruturas mais soltas. Porém, na gravação e misturas mantém-se o processo: não há edição e nem correção. O que vai ouvir é o que Sharp tocou, genuinamente, sem disfarces, apenas com um pouco de reverb mínimo, no fim. É um trabalho musical verdadeiro e orgânico que ganha tudo o que o torna ímpar no abandonar de todos os truques possíveis de estúdio. Mais um feito notável por um músico que desafia todos os géneros e clichés, uma e outra vez. Composto e produzido por Elliott Sharp; gravado e misturado no Studio Zoar NYC, em setembro 2013.
Para reler sobre os quatro trabalhos jazz publicados ontem, clique aqui. Álbuns com produção executiva por Pedro Costa/ Trem Azul e Design assinado por Travassos. Sons a ouvir, a descobrir, no jazz. •
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