A Trienal no Alentejo não pára e há mais uma exposição no nosso horizonte, com Santiago Morilla, com um olhar contemporâneo sobre a tradição taurina.
A exposição do artista espanhol reúne materiais resultantes da intervenção que realizou na arena da praça de touros do Castelo de Monsaraz, durante a festa do “touro da morte”, em Monsaraz. O vídeo-registo da performance é acompanhado por esculturas site-specific, uma série de desenhos e um Pantocrator instalado na Igreja de Santiago. Agora, inaugura amanhã, dia 4 de março, pelas 14h00, na vila medieval de Monsaraz “No Veo Nada” – uma exposição temporária do artista contemporâneo que se debruça sobre a tradição do “touro da morte”, exposição da Trienal no Alentejo (TnA) que vai estar patente até 31 de março.
© Rosto de Manolete, Santiago Morilla.
“Não vejo nada” foram as últimas palavras pronunciadas pelo famoso toureiro Manolete, antes de sangrar até à morte ao sofrer o golpe desferido pelo touro Islero, na praça de Linares, a 28 de agosto de 1947. Dizia-se que Manolete era o ícone que representava na perfeição o toureiro mais puro, valente e honesto, e ainda hoje, há quem garanta que nenhum outro o superou na “matança”. Na vídeo-projeção apresentada em Monsaraz, um desenho em cal branca revela o rosto impassível de Manolete sobre a arena do pátio de armas do castelo, na grande festa do “touro de morte” durante as Festas em Honra de Nosso Senhor Jesus dos Passos. A tradição centenária que procede à matança do touro em plena praça foi permitida nesta vila medieval na véspera do evento, que decorreu no dia 13 setembro de 2014, e que consagrou esta garraiada (muito polémica) como a última a ver aprovado o seu regime de exceção em Portugal.
No decorrer do festival, diletantes e demais aficionados saltam, tropeçam e bebem sobre a face do mito, apagando a sua imagem, até à sua completa desfiguração no cenário real e simbólico de uma dupla morte, a de Manolete e a do animal. Além do vídeo-registo performativo da execução do desenho, o artista produziu esculturas site-specific, uma série de desenhos que se adoram e mutilam a si mesmos e um Pantocrator a ser instalado no altar da Igreja de Santiago. As palavras “no veo nada” estão ainda bordadas num capote personalizado com a imagem do toureiro mítico, simbolizando a impossibilidade de ver, em contraponto com a reverência a uma representação de algo que se adora. Alegorias, metáforas… figuras que representam a tradição taurina e um nome da história, Manolete.
© Sequência do vídeo, Santiago Morilla.
Santiago Morilla é um artista multifacetado que trabalha em formatos digitais muito atuais como o vídeo, fotografia, multimédia e pintura. Natural de Espanha, é conhecido pela sua vertente urbana de intervenção em exteriores de edifícios, como é o caso da Fondazione Pastificio Cerere de Roma e a Real Academia de Espanha, em Roma. É licenciado em Belas Artes pela Universidade Complutense de Madrid, estudou ainda no Media Lab da Universidade de Arte e Design de Helsínquia, na Finlândia. Sendo um dos primeiros jovens a quem o Museu de Ilustração ABC, em Madrid, dedicou uma exposição individual, em 2011, conta já com várias exposições nacionais e internacionais. Um nome a ter de reter na arte contemporânea pelas temáticas e formas de expressão.
Trienal no Alentejo continua a levar além Tejo alguns dos mais significativos nomes da cena artística contemporânea colocando a região no mapa artístico nacional. Uma exposição a visitar, em Monsaraz. •
+ TnA
© Imagem de destaque: Pantocrator.
Partilhe com os seus amigos: