Dallëndyshe / Elina Duni Quartet

Nascida em Tirana, Albânia, em 1981, Elina Duni deixa-nos este abril rendidos ao seu novíssimo trabalho “Dallëndyshe”, pela ECM Records.

“Dallëndyshe”, segundo trabalho de Elina Duni Quartet, é álbum onde o jazz encontra o folk, e não o inverso, numa simbiose subtil, num som onde se sente que o improviso tem e terá um papel preponderante, nas 12 músicas que nos contam estórias tradicionais da região dos Balcãs – Albânia, Kosovo, Arvanitas, Arbëresh. Duni, crescida na Suíça, traz a sua voz formada na cena jazz ao folk, cantando-o de forma excepcional e numa química perfeita com o piano de Colin Vallon, acompanhados de uma bateria no tempo certo e do corpo indispensável do contrabaixo.

Do primeiro ao último acorde é sentida toda a emoção que cada música carrega na voz, na música, na palavra – com a edição bilingue da lírica, albanês/inglês, podemos decifrar as estórias contadas. É sentido, e.g., o amor – “Kur të pashë / When I saw you” ou “Bukuroshe/ Beautiful Girl“- é cantado o exílio – “Unë do të vete/ I am going to go” ou “Nënë moj/ O, Mother“, e tudo se encerra com chave de ouro, superlativa, com a música homónima do álbum (em português, significa andorinha), onde a emoção voa mais alto, nesta música tradicional da comunidade Arbëresh, que foi para a Itália, a partir de Peloponeso, no século XV. “From north to south, from east to west, in all these songs, men go away and women stay. Exile has always been humanity’s burden and love its faitful companion. (…). In these songs of my native Albania, men often call their abandoned lover ‘Lule’ (flower) while ‘Ylber’ (rainbow) is the nickname women give to the men who leave“, nas palavras de Elina Duni.

Voz que sussurra a todos que “I never wanted to be a singer with backing trio. From the beginning I gave a lot of space to the musicians for improvising, and experimented also with my voice. It’s another instrument. Over time, we have built up an understanding that allows us to go anywhere…”. Em “Dallëndyshe” é a confirmação desta vontade de Duni que nos envolve a cada nota cantada, a cada nota tocada, por vezes numa melancolia, por vezes num amor forte, outras vezes, outras emoções, mas numa união musical sentida onde os protagonista são sempre a música e a lírica interpretadas por quatro instrumentos.

E se, no álbum, cada nova audição é igual à anterior (embora se vão descobrindo sempre novas minúcias, pois a excelência deste álbum assim o permite), ao vivo nunca espere dois concertos iguais pois como acima dissemos, o improviso vive aqui: “We focus all the intensity that this poetry needs. We have tried to convey its essence through our musical interpretation. To me, all improvised music is a jazz state of mind. We feel no obligation to play a song the same way twice.” Aqui reside outra parte da riqueza deste projeto, a capacidade de improvisar na tradição.

Ao longo dos últimos anos, Elina Duni Quartet tem vindo a consolidar este quarteto na integração do jazz e do folk num som que nos cativa ao primeiro acorde. Há, indubitavelmente, um entrega ímpar de Duni e dos restantes músicos que parecem ser eles a própria música.

Um trabalho que tem Elina Duni – voz, Colin Vallon – piano, Patrice Moret – contrabaixo, Norbert Pfammatter – bateria. Um álbum a ouvir e (re)ouvir e sentir, sem mais demoras. •

+ Elina Duni
+ ECM
© Fotografia: Sara Quaresma Capitão.

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