O projeto de arquitetura da autoria de Nuno Ladeiro e Marco Martins insere-se no núcleo urbano de Vila Nova de Tazem, uma pequena vila próxima da Serra da Estrela, a norte de Portugal, e que se caracteriza por um tecido urbano consolidado, cujas características predominantes são edifícios de dois e três pisos destinados à habitação. A configuração, os limites do terreno e a envolvente construída, influenciaram fortemente a forma e implantação do edifício.
O projeto de arquitetura de um ponto de vista formal, teve como ponto de partida a obra do arquiteto Ludwig Mies Van der Rohe e, em particular, os princípios que estiveram por detrás da formação do Movimento Moderno.
As formas dos volumes puros que compõem as fachadas lêem-se melhor do que as formas complexas ou sinuosas. De acordo com Victor Consiglieri (1995), a nossa vista determina a sua estrutura exata, uma vez que as formas prismáticas tem de revelar o número das suas faces. O nosso olhar desliza e envolve estas formas lentamente na passagem de uma face para a seguinte, o que nos permite apreender a forma mais intensamente. Normalmente sentimo-nos atraídos pelas formas imponentes, abstratas porque elas se tornam belas ao nosso olhar.
A “forma geométrica simples, tende a complementar-se mesmo se parecer incompleta ao olhar. É aquilo que os psicólogos do gestaltismo chamam a lei da Boa Forma”. Descrever esta regra fundamental do gestaltismo é descrever a tendência para percecionar o mais facilmente possível. Recorre-se, para o efeito, a configurações simples, regulares, simétricas, fechadas e equilibradas, em vez de formas complexas, confusas e fragmentadas.
Estes princípios ligam-se às leis de agrupamento, da continuidade, da semelhança, da proximidade e da relatividade, situadas dentro das respostas visuais e percetivas imediatas, no sentido de perceber os estímulos humanos com um mínimo de meios e de esforços. As formas mais simples, mais regulares e platónicas como: as planas – círculo, quadrado, triângulo e equilátero; as volumétricas – esfera, cubo, tetraedro e icosaedro, são as mais resistentes a qualquer mudança física devido à sua simplicidade estrutural porque se fixam nos padrões geométricos percetivos primários.
Platão no Filebo introduz a tese de que o belo não constitui uma matéria externa dos objetos sensíveis, tal como o ouro, mas um atributo exterior dos artefactos (o que já prefigura a teoria das ideias) que está, vinculada ao bom, tomado como equivalente ao útil e ao apropriado. Para Platão, o belo é a expressão sensível da positividade. Existe uma separação entre o conceito de belo e a classe dos objetos belos, entre o universal (abstrato) e o singular (concreto). A beleza em si, sendo universal, tem validade permanente. Limita o apropriado a uma harmonia entre o conteúdo e a forma do objeto. A matéria deve ser adequada à forma, e vice-versa. A aparência é mutável e enganosa. Por isso, Platão insiste em separar radicalmente a aparência da essência, para que a última permaneça a mesma, enquanto a primeira se transforma, arrastando consigo a opinião da maioria. O apropriado é diferente do belo. O belo está na utilidade, na adequação do ente a um fim. Para Platão a funcionalidade não proporciona uma beleza aparente ao objeto, mas produz um bem real para o sujeito que o utiliza.
Diversamente das artes plásticas, as construções não copiam os homens e as coisas – elas copiam-se a si mesmas. Um edifício é simultaneamente um bem (um ente) e um signo (a imagem de um ente). Por isso os signos arquitetónicos, não precisam de referências externas, pois encontram as suas referências nos próprios bens arquitetónicos.
Tratando-se claramente de uma opção arquitetónica moderna, entenderam os autores que a geometria elementar de inspiração nestas teorias e nas suas consequências de racionalidade, associadas aos aspetos da lógica simples, não são apenas manifestações de uma época passada. O uso geométrico do cubo e do paralelepípedo que se expressa nas fachadas tem uma universalidade que continua a “contaminar” a arquitetura do século XXI.
O projeto do edifício para Vila Nova de Tazem baseou-se, assim, nestas teorias e na otimização do espaço habitacional e comercial.
O edifício com 15 apartamentos de tipologias variadas, de T1, T2 e T3, servidos por três núcleos de comunicações verticais totalmente independentes, favoreceu especialmente a zona social dos apartamentos, não só em termos de área como também no que respeita às vistas sobre a Serra da Estrela. Assim, estabeleceu-se uma relação direta entre as salas e cozinhas, criando uma zona de circulação mais íntima para os quartos.
Autores (projeto de arquitetura): Nuno Ladeiro / Marco Martins
Colaboração: Paulo Pedreira / Mafalda Brandão
© Fotografia: FG+SG
Texto: Nuno Ladeiro
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