Festivais Gil Vicente / CCVF

De 04 a 13 de junho, os Festivais Gil Vicente voltam a tomar conta da cidade de Guimarães. Ao longo de duas semanas há teatro para todos os gostos com uma programação que reúne no cartaz o que de melhor se faz no teatro contemporâneo, em Portugal. É a 28.ª edição ininterrupta do Festival, feito que merece ser sublinhado pela sua longevidade, uma celebração ímpar da arte da representação e é no Centro Cultural Vila Flor (CCVF).

© “Fausta”, por Mariana Silva.

Pensar o programa para um dos Festivais de maior longevidade no país, implica (também) tentar caraterizar esse mesmo país de forma profunda, através do mapeamento das ideias e do estado da sua criação atual, projetando para os vários palcos de apresentação a exploratória diversidade atribuída à obra de Gil Vicente“. Se se debruçar sobre o elenco da edição deste ano do Festival facilmente identificará “várias propostas que sugerem a renovação desse olhar sobre a sociedade atual e por inerência sobre nós próprios, quer a partir da utilização de textos históricos e portanto já existentes, mas portadores de uma certa visão intemporal do mundo, quer pela tentativa de produção de novas dramaturgias resultantes de trajetos de vida que nos transmitem ensinamentos importantes a descodificar, sobretudo neste tempo de acentuada mudança permanente“. As imensas possibilidades da criação contemporânea, em palco, surgem agora pelas mãos de uma geração de artistas que, abertos à transformação do país e do mundo, transportam para dentro das suas composições um inconformismo estético e um discurso que ora levanta questões, ora repõe a necessidade de produzir respostas. Temos uma força teatral, crescente, por cá que deve seguir de perto.

© “António e Cleópatra”, ensaio, por Magda Bizarro.

Os Festivais Gil Vicente começam a 04 de junho, no Pequeno Auditório do CCVF, com a peça de Dinarte Branco e Nuno Costa Santos, “I Don’t Belong Here”, um projeto artístico sobre a deportação e seus problemas. A singularidade estética do espetáculo advém de um dado essencial: em palco vão estar homens e mulheres que foram expulsos dos E.U.A. e do Canadá, depois de terem cumprido penas de prisão, e foram viver para uma espécie de pátria estrangeira – o sítio onde nasceram, mas no qual não se sentem em casa.

© “I don’t belong here”.

No dia 05 de junho, a Black Box da Plataforma das Artes e da Criatividade apresenta no seu palco “Orlando”, de Sara Carinhas e Victor Hugo Pontes. “Orlando”, de Virginia Woolf, é uma biografia fábula de um ser que nasce homem e, a meio da sua vida, acorda mulher. Os criadores aceitaram o mútuo desafio de pôr em cena a coreografia deste corpo ficcional, a recriação deste mundo e as questões de género e de tempo, num solo que é a cartografia biográfica da personagem, mas que será e não será o texto de Woolf. No sábado, dia 06, novamente no Pequeno Auditório do CCVF, é a vez do Teatro Oficina, companhia da Cidade Berço, trazer aos Festivais Gil Vicente a peça de Annie Baker, “Círculo de Transformação em Espelho”, espetáculo estreou no 31.º Festival de Teatro de Almada onde foi aplaudido e elogiado pela imprensa internacional, nomeadamente pelo britânico The Guardian. Em “Círculo de Transformação em Espelho”, cinco atores convidam o público a participar num exercício teatral onde são todos testemunhas e vítimas de uma transformação comum.

© “Círculo de Transformação em Espelho” Teatro Oficina, por Paulo Pacheco.

Já na segunda semana do Festival, no dia 11, no palco do Grande Auditório do CCVF, chega a peça de Tonan Quito e Pedro Gil, “Fausta”. Este espetáculo nasce do desafio lançado à escritora Patrícia Portela e tem como ponto de partida o seu mais recente romance, “O Banquete” (2012). A partir de uma seleção do livro, pretende-se reescrever a história de uma Fausta e das suas trocas diárias de almas. O público reúne-se para ouvir uma mulher que narra a sua vida depois de morta na voz de dois homens. No dia seguinte, dia 12, sobe ao palco da Black Box da Plataforma das Artes e da Criatividade a peça “Oslo – Fuck them all and everything will be wonderful”, o segundo projeto de parceria entre o dramaturgo Mickaël de Oliveira e o encenador Nuno M. Cardoso. “Oslo” é uma peça sobre “tudo” o que não retrata: a relação entre uma mãe (Mónica Calle), de cuidados obsessivos e a sua filha, cujo estado é enigmático. Ambas vivem numa casa, longe da cidade, visitada por várias pessoas, uma amiga da família (Raquel Castro) e quatro homens (todos representados por Albano Jerónimo) com funções distintas. O espetáculo é sobre o que escapa ao retrato: uma tentativa de viver sem a perda.

© “Oslo”, por Nuno M. Cardos0.

Os Festivais Gil Vicente terminam no dia 13 de junho, no Pequeno Auditório do CCVF, com “António e Cleópatra”, uma encenação de Tiago Rodrigues para a Mundo Perfeito. Este “António e Cleópatra” não é a peça de William Shakespeare. É uma peça original, escrita e dirigida por Tiago Rodrigues, e interpretada pela dupla de coreógrafos Sofia Dias e Vítor Roriz. “António e Cleópatra” é um inventário de dicotomias: oriente e ocidente; razão e sentimento; masculino e feminino; política e sexo; guerra e amor; trabalho e ócio; tragédia e comédia. Em confronto, em paralelo, em complementaridade ou simbiose, cada ingrediente desta peça encontra sempre o seu par ou o seu reverso.

Todos os espetáculos dos Festivais Gil Vicente têm início às 22h00. Como tem sido habitual, ao cartaz principal do Festival, junta-se um conjunto de atividades paralelas que prometem multiplicar as possibilidades de vivência da criação teatral no máximo número de experiências possíveis. Anote na sua agenda estas peças e acompanhe o teatro nacional. •

+ CCVF
© Fotografia em destaque: “Orlando”, por Jorge Caldeira.

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