Se estiver em Coimbra, ou por esta cidade passar, não perca a exposição de pintura de João Teixeira, a qual se encontra na Casa Municipal da Cultura. Inaugurou no dia 4 de Setembro e irá manter-se até ao dia 17 de Outubro.
A folha de sala da exposição “no limite do real” abre com uma citação de Manet: “Pinto o que vejo e não o que os outros se dignam a ver.” Além desta frase, outro motivo acaba por conduzir-nos ao mestre: Trata-se da alusão à “memória”, por parte de João Teixeira. Ora, basta lembrar os conselhos dados por Manet a um jovem pintor, para que cultive a memória, já que a natureza não lhe poderá mais valer. E aqui começa a intrincada relação entre a pintura e o limite do real. Com efeito, no conjunto de obras que compõem esta exposição podemos ver concentrada, qual cristal facetado, a própria história de uma pintura em vertigem. Manet, Impressionismo, Cézanne, ou seja, os fermentos e efectivos diferimentos pictóricos que serão o motivo de uma nova ponderação imagética.
Atentemos nas obras de João Teixeira. Existe uma forma que persiste em inúmeras delas – por um lado, a aposição de duas linhas, uma horizontal e uma vertical; por outro, um movimento espiralado que se propaga a partir do centro gerado pelas duas linhas inicialmente focadas. Ou seja, a relativa estabilidade da linha de horizonte, que ancora o olhar na terra, é atravessada pela espiritualidade daquela que remete à transcendência, mas que igualmente, e seguindo John Berger, nos encaminha para o submundo dos mortos. A partir desta verdadeira grelha perceptiva a pintura explode, na espiral acima enunciada, mas, simultaneamente, nela se contém. Então, é como se João Teixeira tivesse congelado, em cada limite do quadro, um real mais real, como afirma no texto que acompanha a exposição. Concretamente, as suas palavras são estas: “O meu trabalho é a tradução pessoal de uma realidade, da imagem, que é ela mesmo também uma tradução de uma realidade. Durante este meu processo criativo crio uma nova tradução, que é para mim, mais real que a própria realidade já traduzida por essa mesma imagem.”
João Teixeira é natural de Coimbra e expôs individualmente, pela primeira vez, em 2013, através da Mercearia de Arte que, em parceria com a Câmara Municipal de Coimbra, organiza esta exposição. Além desta cidade, tem mostrado o seu trabalho em Lisboa (Fábrica Braço de Prata), Porto (Galeria-Atelier Metamorfose) e Braga (4ª e 6ª edição DST Emergentes).
Para visitar na Casa Municipal da Cultura, na Rua Pedro Monteiro, de segunda a sexta-feira, entre as 9h00 e as 19h30. A partir do dia 19 de Setembro, também aos sábados, no horário compreendido entre as 11h00 e as 13h00, e das 14h00 às 19h00.
© Fotografia: João Teixeira
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