No Museu do Oriente, neste novembro, fica patente uma exposição que vai querer visitar: “A Arte da Falcoaria de Oriente a Ocidente”, através de 2.000 anos e três continentes.
Numa iniciativa extraordinária na Europa, pela profundidade e amplitude da abordagem, a exposição “A Arte da Falcoaria de Oriente a Ocidente”, que o Museu do Oriente inaugura a 19 de novembro, traça o percurso histórico desta prática desde as suas origens no continente asiático, há 2.000 anos, acompanhando a sua expansão por toda a Europa, até à actualidade. Uma viagem na história, uma aula única sobre uma arte de excelência.

“Antologia de Iskandar (1º volume)”, Aguarela opaca sobre papel, Pérsia, Chiraz, 1410-1411. 27,40×17,20cm. Museu Calouste Gulbenkian, Inv.º LA 161 © Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa. Fotografia: Catarina Gomes Ferreira
Elevada, em 2010, a Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, a arte do treino e caça com falcões é apresentada em seis núcleos, integrando 180 objetos e obras de arte, alguns dos quais nunca antes expostos ao público. Na exposição vai encontrar pinturas, gravuras, esculturas, têxteis, azulejos e equipamentos, bem como fotografias e vídeos, provenientes de museus, fundações e coleccionadores privados, nacionais e estrangeiros.
O primeiro núcleo – Ornitologia e Falcoaria – é a introdução às espécies, suas características e estratégia de caça, com destaque para aves autóctones, como o Falcão Tagarote ou a quase extinta Águia Imperial, aqui num raríssimo exemplar naturalizado, do século XIX. Para ver, também, e pela primeira vez, desenhos de várias espécies, da autoria dos príncipes D. Pedro e D. Luís.
Voamos para – Falcoaria no Oriente, Prática Histórica – apresentação das origens do adestramento de falcões para a caça, uma tradição entre os beduínos nómadas do Norte de África como recurso alimentar, mas, também, pelas cortes da Pérsia, Japão e China, como marca reconhecida de distinção social. Símbolo de beleza e altivez, o falcão surge representado nas artes decorativas e plásticas, como na Antologia de Iskandar, (Pérsia, 1410-1411) ou nas gravuras japonesas de Ando Hiroshige (Japão, séc. XIX).
Poisamos na Falcoaria na Europa – Prática Histórica que acompanha a disseminação pelo continente a partir do século IV, onde esta arte cinegética conheceu o apogeu na Idade Média, estabelecendo-se como passatempo da nobreza. Muito apreciadas e tão valiosas quanto cavalos puro-sangue, as melhores aves eram oferecidas de presente a reis e príncipes, viajando entre cortes com um pequeno séquito, como autênticos embaixadores.
A prática histórica da Falcoaria em Portugal e a actividade da Falcoaria de Salvaterra de Magos, desde meados do século XVI até à sua extinção em 1821, são exploradas nos núcleos seguintes. Aqui se encontram os vários equipamentos usados no treino do falcão, bem como na caça, a par de documentação histórica.

“Caçadores Árabes”, Pintura a óleo sobre tela, Alberto Pasini (1826-1899), Itália, 1865. 100×71,5cm. Palácio Nacional da Ajuda, Inv.º PNA 3534 © DGPC/ADF – José Paulo Ruas
Sem esquecer que se trata de uma prática viva em mais de 60 países, que se traduz em saberes, objetos e vivências culturais, bem como um forte cariz ecológico, a exposição retrata a Prática Actual, na Ásia, do Turquemenistão a Marrocos, e Portugal, incluindo a aprendizagem entre as novas gerações e a actividade dos falcões no controlo aéreo. Até 6 de março de 2016, o Museu do Oriente dá a conhecer esta tradição que perdura há milénios, unindo o Oriente ao Ocidente. A exposição é comissariada pela historiadora Natália Correia Guedes.
E terminemos este artigo com curiosidades. Sabia que…?
• A prática moderna da falcoaria tem em vista, não só, a salvaguarda dos falcões mas, igualmente, os seus habitats e a preservação cultural da modalidade cinegética;
• Atualmente, esta arte respeita a Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies de Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção (CITES) e a Convenção da Diversidade Biológica (CBD);
• A falcoaria é muito praticada nos Emirados Árabes Unidos (na Península Arábica e no Golfo Pérsico), por príncipes e emires que se deslocam, habitualmente durante um mês por ano, com comitivas de centenas de pessoas, para zonas desérticas munidas de equipamentos modernos, transportes, caravanas e tendas climatizadas. Fazer parte destas comitivas é uma honra ou prova de amizade únicas;
• No ano de 2011 foi inaugurado, em Abu Dhabi, o único hospital para aves de rapina existente no mundo: o Abu Dhabi Falcon Hospital, com especialistas em patologia clínica, microbiologia, biologia molecular, cromatografia, espectrometria, radiografia digital e endoscopia. Recebe, anualmente, cerca de cinco mil aves para tratamento, dando assistência às aves que tenham sido vítimas de caçadores furtivos ou de doença e que, posteriormente, são devolvidas à natureza através do Sheikh Zayed Falcon Release Programme.

“Escritório”, Índia mogol, séc. XVII, Teca, sissó, marfim natural e tinto e ferro. 33×49,3×37,3cm. Museu do Oriente, FO/0531 © Hugo Maertens/BNP Paribas/Museu do Oriente
Uma exposição com peças surpreendentes, uma viagem pela história de uma arte admirável e bela. A descobrir no Museu do Oriente. •
+ Museu do Oriente
© Imagem em destaque: Placa, “Falcoeiro a cavalo”, Irão, Qajar, séc. XIX, Cerâmica com decoração policroma sob vidrado transparente, 22×14,4cm, Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Inv.º CMAG 496; DGPC/ADF – José Paulo Ruas.
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