Há dias, no dia 8 de janeiro, mais precisamente, esgalhava-se um artigo totalmente diferente. Os dedos estavam nervosos, percorrendo o teclado e indagando-se como se escreve sobre alguém tão genial, que não pára de se reinventar a cada novo álbum.
Tudo mudou…
Já tanto se escreveu.
Tanto sobre a pessoa, a família, os primeiros anos, Berlim, causas, os últimos anos, o que ainda ficou por editar, o que vem por aí, o musical que se espera, vícios, dependências, colaborações, experimentações, elogios, criticas, sentimentos, Brixton, discografia, o estilo, música, cinema, o cabal artista sempre à frente de todos, moda, curiosidades, visão, Nova Iorque, livros lidos, filmes participados, questionários esquecidos, entrevistas idas, concertos arrebatadores, exposições memoráveis, gestos, o sorriso, o olhar… sempre aquele olhar e tanto, mas tanto mais que o pensamento se perde em tantos, merecidos e notáveis, artigos esgalhados em jeito de homenagem a David Bowie, publicados desde o dia em que nos deixou.
Ah! “Rebel Rebel”, foste e serás sempre um “Starman”, o “Ziggy Stardust” que nos deu a melhor “Space Oddity” de sempre. Foste, de certeza, “The Man Who Sold The World” sem ninguém ver, ou não tivesses tu questionado “Life On Mars?”.
Aqui, já “Without You”, somos “Absolute Beginners” no sentir que “Something In The Air” está diferente… que alguém está, definitivamente, “Dancing Out In Space” a “Magic Dance”. Tu que não gostas de dançar e nos fazes mexer ao som de “Let’s Dance”.
“Can You Hear Me?”… Duvido. Não te preocupes, era só para saber “How Does The Grass Grow?” por aí.
“As The World Falls Down” “Into The Labyrinth”, “After All”, isto sem ti fica mesmo diferente, afirmamos, para que fique claro, que os anos em que saíram álbuns teus foram, indubitavelmente, “Golden Years”, cada um deles foi e é uma “Brilliant Adventure” musical, e a cada nova aquisição de um trabalho teu, lá saia um “Oh! You Pretty Things”, “Let’s Spend The Night Together”, sempre a tocar, in repeat.
“Changes”. O cenário musical, contigo, era e é mudança constante; “Day-In Day-Out”, eras e és uma nova personagem, sempre surpreendente, sempre mutante. Novembro de 2015, inevitável pre-order de “Blackstar”. “Loving The Alien”, há tanto tempo, só podia dar nisto: pre-order.
Durante a espera, havia que dizer “Hang On To Yourself” que o álbum está quase aí, mas sabes bem, “It Ain’t Easy”. Para acalmar os “Diamond Dogs” lanças o single “Blackstar” e… Excentricidade superlativa, jazz como não havia sido trabalhado, sonoridade particular, um teledisco surrealista e quelque chose sci-fi que nos faz ir ao filme “Moon” (do Duncan, claro). Uma música como só o teu “Sound and Vision” conseguiriam executar. E regressamos ao início, ao dia 8 de Janeiro com “Lazarus”. Primeiro, soberbo. Depois, a estranheza de um teledisco onde um provável incomodo é hipnotizante. És sempre Bowie, sempre. Letra, imagem, música, tudo resultado do teu processo criativo exímio onde deixavas no ar a noticia de dois dias depois. Visionário, utopista avant-garde… e futurista até ao último acorde escrito. E tudo ganhou uma força arrebatadora.
Em jeito de heresia permitida, “Ashes to Ashes”, Major Tom confirmará, inequivocamente, e olhando para cima como dizes para fazer, ocorre-me apenas um: Levanta-te e anda! Creio que nos tornaste, a todos, mesmo a quem não te seguia tão de perto, em “The Dreamers”. Todos crentes em algo, crentes que “There Is A Happy Land”, talvez. Afinal, “The Stars (Are Out Tonight)”…
“Blackstar”, último álbum de David Bowie é genial, completo, excêntrico e algo e sempre muito mais. É David Bowie. Apenas e só. Basta de quiméricas análises. O vinyl chegou e permanece intacto, por abrir. “Holy Holy”, assim vai permanecer. Vai-se ouvindo o digital e… Star control to Major Bowie. •
+ David Bowie
© Fotografia: Henrique Toscano.
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