“Winterreise” / Gulbenkian Música

Hoje, começamos um novo mês, na música, com um convite irrecusável para uma viagem visual imaginária, na Gulbenkian, com “Winterreise” de Franz Schubert.

“Winterreise” é o segundo dos três ciclos de Lieder que Franz Schubert compôs e, segundo o próprio, o seu preferido (é, desculpem o português menos elaborado, fabuloso). Considerada como uma obra prima absoluta da história da música e um monumento da cultura germânica – se ouvir, compreenderá porquê – “Winterreise” é composta por 24 canções para voz e piano que têm como base os poemas sombrios e melancólicos de Wilhelm Müller, autor que Schubert já tinha trabalhado noutro ciclo desta série, “Die schöne Müllerin”. Os poemas narram a história de um jovem enamorado que, numa noite gelada, se vê forçado a partir, deixando para trás os meses quentes de verão e a bela rapariga por quem se apaixonou, perdendo-se então numa deambulação profundamente melancólica e introspectiva.

O barítono Matthias Goerne e o pianista Markus Hinterhäuser são os protagonistas de “Winterreise”, neste espetáculo multimédia com criação visual e encenação de William Kentridge, um dos mais conhecidos artistas sul-africanos da atualidade. O cenário visual em movimento criado por William Kentridge (ver vídeo acima) em “Winterreise” funciona como contraponto poético à interpretação do pianista Markus Hinterhäuser, recentemente nomeado Diretor do Festival de Salzburgo, e do barítono Matthias Goerne, um dos mais aclamados cantores de Lieder (palavra do século XIX, termo usado para classificar arranjos musicais para piano e cantor solo, com letras, geralmente, em alemão; por vezes Lieder estão reunidos num Liederkreis ou “ciclo de canções”,  que formam uma única narrativa como acontece em “Winterreise”).

A interpretação de Matthias Goerne em Winterreise tem sido muito elogiada, tanto pela perfeição da sua voz, como pela carga dramática colocada em cada palavra. Esta obra colossal, não é exagero, de Schubert inspirou o sul-africano William Kentridge a imaginar uma verdadeira viagem visual. Através de projeções de vídeo com animações, montagens e colagens, as imagens remetem para vários imaginários, onde se incluem memórias de infância de Kentridge e referências à sua cultura, como o penoso trabalho levado a cabo pelas mulheres sul-africanas nas profissões mais tradicionais, ou ainda cenários que nos transportam diretamente para o ambiente subjetivo e obscuro da obra de Schubert, como a presença constante de um homem que caminha sem rumo aparente, retratando de forma singular o que nos conta Schubert através da música.

O espetáculo Winterreise estreou no Festival d’Aix-en-Provence, em julho de 2014, e foi coproduzido pelas seguintes instituições: Wiener Festwochen, Holland Festival, KunstfestSpiele Herrenhausen/ Niedersächsische Musiktage (Hanôver), Théâtres de la Ville de Luxembourg, Opéra de Lille e Lincoln Center, e chega agora a Portugal, ao Grande Auditório da Gulbenkian, no dia 19 de fevereiro, pelas 21h00.

Um espetáculo a não perder para descobrir Schubert ou para relembrar esta obra obrigatória no universo da música. A ir. •

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© Fotografia: “Winterreise”, espetáculo.

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