No dia 21 de Maio, próximo sábado, correspondente à Noite dos Museus, e pelas 21h, reserve o seu tempo para assistir ao filme Domingo à Tarde na Casa Museu Fernando Namora, em Condeixa-a-Nova.
No ano de 1961, Domingo à Tarde, romance de Fernando Namora, veria a luz do dia, ainda que trate essencialmente das sombras. Escritor português que obteve um reconhecimento amplo e mundial, Namora nem sempre ecoou nas gerações literárias que lhe sucederam. A este respeito, afigura-se valioso o testemunho recente de Mário Cláudio; na verdade, alguns foram os que que necessitaram de “matar o pai” para que eles próprios vivessem, impondo à torrente namoriana uma espécie de garrote.
Todavia, e se seguirmos Maurice Merleau-Ponty, saberemos que uma obra tem toda a vida à sua frente, e age por vagas. Logo, oculta-se e revela-se a tempos esparsos; se considerarmos, entretanto, a alteridade de um texto, poderemos eventualmente entender que a sua perpetuação se entrelaça com o eco da leitura, amplificando-o. A recepção é, portanto, determinante; já sincronicamente, a obra de Fernando Namora foi querida.
E seria assim que, logo em 1966, António de Macedo adaptaria Domingo à Tarde à linguagem cinematográfica, no que foi a sua primeira longa-metragem e num progressivo caminho de acesso ao movimento do Novo Cinema. Não seria a primeira vez que tal adaptação sucederia com um romance de Fernando Namora; o mesmo aconteceu com Retalhos da Vida de um Médico, em 1962, e com O Trigo e o Joio, em 1965, por exemplo.
Contando com Isabel Castro, Ruy de Carvalho e Isabel Ruth no elenco, o filme mantém intacto, através da imagem, o fio da trama que o livro encerra mas devolve-nos, num inteligente jogo de luz e sombra, tanto presente na sua plasticidade, como advindo da encenação, uma inquirição muito própria através do seu experimentalismo.
A sessão decorrerá no exterior da Casa Museu Fernando Namora, e contará com uma apreciação crítica por parte de Susana João Carvalho, investigadora atenta no espectro literário e que, aqui, interpolará os sentidos da palavra e da imagem.
Portanto, marque na sua agenda: próximo sábado, na Casa Museu Fernando Namora, Largo Artur Barreto em Condeixa-a-Nova, às 21h. •
© Fotografia: João Pedro Rato
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