Old Meets New / Paula Rego & Eça de Queirós

“Old Meets New” é o regresso de Paula Rego às encantadoras narrativas de Eça de Queirós, numa exposição obrigatória na sua agenda cultural.

A Casa das Histórias Paula Rego – (pintora sobre a qual nos perdemos em palavras aqui) – inaugura a exposição “Old Meets New”, que visa mostrar parte da produção mais recente da artista, realizada entre 2013 e 2015. As séries de pintura d’ A Relíquia (2013) e d’ O Primo Basílio (2015) são inspiradas nos romances homónimos de Eça de Queirós. Se ainda não conhece estas séries…

A exposição, que estará patente entre 25 de maio e 30 de outubro 2016 – tem tempo para visitar com a calma necessária -, apresenta pela primeira vez em Portugal, o regresso a narrativas do admirado escritor do século XIX. Na “obra recente de Paula Rego, essas ficções são encenadas, representadas e reinterpretadas num espaço de intimidade onde estas histórias ganham vida própria através dos modelos vivos – e sobretudo de Lila Nunes – que seguem as visões da artista, enriquecendo-as sempre com as suas vivências e as suas próprias versões das histórias“. São, assim, verdadeiros quadros vivos, reflexos, onde tudo é encenado ao pormenor, criando modelos tridimensionais, as criaturas fantásticas, com uma materialidade fabricada com o mesmo impulso artístico e original da pintora.


© “Breakfast”, Paula Rego

Paula Rego estabelece como ponto de partida narrativo, para as suas novas séries de obras, os dramas morais e sociais construídos nos finais do séc. XIX, numa relação direta com a literatura próxima da crítica de costumes, reinterpretando o retrato político, social e psicológico da sociedade portuguesa – sempre tudo tão bem espelhado na obra ímpar de Eça. O encontro com estas histórias escritas por Eça de Queirós não se traduz, na obra de Paula Rego, numa tentativa de ilustrar a palavra ou o romance. Não. Há antes, simbolicamente, a exploração de lugares e personagens convocados por essas imagens literárias, numa intenção transformadora, de livre reinterpretação, assumida pela artista, que autonomiza as pinturas das histórias originais. Há uma leitura inspiradora, mas nunca orientadora ou limitadora. Como declara Paula Rego “[…] Entro nelas e altero as coisas. As imagens que acabam por ser feitas não emergem porque leio o livro, embora por vezes leia o livro vinte vezes”.

Todo o conhecimento adquirido pela artista na Slade School of Arts, em Londres, de 1952 a 1956, foi determinante para estimular esta linha de pesquisa e a consequente procura e encontro da artista com uma linguagem figurativa pessoal. Mas, foi particularmente o prémio atribuído a Paula Rego, no âmbito da competição anual “Summer Composition”, ainda enquanto estudante da Slade, no ano de 1954, que determinou o seu empenhamento na construção de um território único e pessoal, partindo da literatura para a criação pictórica.

A exposição apresenta também a série D. Manuel, o último Rei de Portugal (2014) onde a artista retorna ao lado episódico de algumas narrativas históricas de Portugal, temática também explorada na singular tapeçaria Alcácer-Quibir, de 1966, e na tela Regicídio, de 1965. Mas, há mais. Nesta exposição poderá ainda ver o tríptico do mais recente auto-retrato da artista (imagem de destaque), um conjunto de gravuras da sua autoria, destacando-se a série sobre a Mutilação Genital Feminina (2009) e a série de seis gravuras intituladas Les Planches Courbes, realizadas a partir dos poemas do poeta francês, Yves Bonnefoy.

Uma exposição a visitar, na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais. •

+ Casa das Histórias Paula Rego
© Imagem de destaque: Self portrait triptych left panel, Paula Rego.

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