Uma anti-peça, um hospital psiquiátrico, uma viagem literária…

Ao centro, no Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), há todo um programa que tem de ter espaço na sua agenda cultural, desta semana que agora corre.

Comecemos com um documentário de Jorge Pelicano, hoje – dia 07 de junho -, pelas 21h30 no Auditório do TAGV. Um hospital psiquiátrico. Na sinopse podemos ler que “o mundo interior da esquizofrenia. Um ator à procura do seu personagem. Cigarrinho, cafezinho. Moedinha, outro cafezinho. Utentes vagueiam pelos corredores. Circulam sós. Dormitam nos bancos do jardim. A espera. Mais uma passa, um cigarro que morre. Vive-se a duas velocidades no hospital psiquiátrico Conde de Ferreira, no Porto. Ora momentos de inércia, ora ápices de euforia. Do mundo exterior chega um ator que procura a sua personagem para uma peça de teatro sobre a loucura. Miguel Borges submerge no mundo interior dos esquizofrénicos. Os utentes ajudam-no a construir o personagem. No meio da névoa, o ator dá de caras com os poemas do poeta louco Ângelo de Lima. Depois desse encontro, o personagem nasce“. “Pára-me de repente o pensamento” é um convite para conhecer e reflectir sobre diferentes condições no mundo em que vivemos; é o contacto com realidades que ou ignoramos ou, simplesmente, não temos tempo para ver e entender.


© “Pára-me de repente o pensamento” (pormenor)

Rumando ao teatro e a peça “O Cerejal”, em cena no dia 09 de junho, pelas 21h30 no Auditório do TAGV. “A minha peça estreou ontem e não estou lá de muito bom humor.” A reacção de Tchékhov, numa carta de janeiro de 1904, à estreia daquela que viria a ser a sua última peça, “O Cerejal”. Se é certo que Stanislavski a encenou como uma tragédia, Tchékhov via-a sobretudo como uma comédia. Há 112 anos que a natureza trágica ou cómica do texto tem dividido gerações de críticos e criadores. Tg STAN junta-se agora à polémica com dez atores a apropriarem-se de forma singular deste texto amplamente debatido. Se “A Gaivota” é tida por muitos como a peça perfeita, “O Cerejal” seria a “anti-peça” perfeita. “O tempo presente quase não existe, abafado que está pela predileção nostálgica e romântica do passado e pela frágil aspiração a um futuro incerto“. Com texto de Anton Tchékhov, numa produção tg STAN e coprodução Kunstenfestivaldearts, Festival d’Automne (Paris), Théâtre de la Colline (Paris), TnBA (Bordéus), Le Bateau Feu (Dunkerque), Théâtre de Nîmes, Théâtre Garonne (Toulouse) e STAN, este é um momento a não perder, de teatro, em Coimbra.


© “O Cerejal” (pormenor)

E no Dia de Camões, 10 de junho, pelas 17h00, nada como uma Viagem Literária com Luis Sepúlveda e Richard Zimler, dois gigantes da escrita internacional para celebrar a arte de bem escrever. O TAGV é a próxima paragem da Viagem Literária, na sua 15.ª etapa de uma grande viagem através dos livros e da literatura reúne estes dois prestigiados contadores de histórias que têm uma grande ligação a Portugal. A partir das 17h00, o jornalista João Paulo Sacadura conduz a conversa entre os dois ilustríssimos convidados, com as respetivas obras recém-lançadas em destaque, os seus ricos e preenchidos percursos artísticos e biográficos e discutindo também questões da atualidade. Durante os 90 minutos, há ainda espaço para questões do público e, no final, para a habitual sessão de autógrafos e contacto mais direto entre os escritores e os leitores – se estiver por Coimbra, no feriado, é um fim de tarde excepcional.

Luis Sepúlveda nasceu em Ovalle, no Chile, em 1949, e atualmente reside em Espanha. Da sua vasta obra (toda ela traduzida para português), destacam-se os romances “O velho que lia romances de amor” (um dos livros mais encantadores que há) e “História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar” (absolutamente doce). Mas “Mundo do Fim do Mundo”, “Patagónia Express”, “Encontros de Amor num País em Guerra”, “Diário de um Killer Sentimental” ou “A Sombra do que Fomos” (Prémio Primavera de Romance em 2009), por exemplo, conquistaram também, em todo o mundo, a admiração de milhões de leitores (e confessamos que todos os lemos e a todos nos rendemos). Em 2016, o autor chileno recebeu o Prémio Eduardo Lourenço, sendo considerado um mediador da cultura ibérica.

Richard Zimler nasceu em 1956, em Roslyn Heights, um subúrbio de Nova Iorque. Fez um bacharelato em Religião Comparada na Duke University e um mestrado em Jornalismo na Stanford University. Trabalhou como jornalista durante oito anos, principalmente na região de São Francisco, nos EUA. Em 1990 veio viver para o Porto, onde lecionou Jornalismo, primeiro na Escola Superior de Jornalismo e depois na Universidade do Porto. Atualmente, tem dupla nacionalidade: americana e portuguesa. Desde 1996, publicou dez romances, uma coletânea de contos e dois livros para crianças.

Na estrada desde abril de 2015, a Viagem Literária, evento organizado pela Porto Editora, completou já 12 etapas em Portugal Continental e duas grandes sessões nas Regiões Autónomas. Depois de Coimbra, a Viagem Literária continua o seu percurso e segue para Aveiro, cumprindo a sua missão de levar os escritores ao encontro dos seus leitores, contribuindo para a descentralização e democratização do acesso à cultura. A sessão no Teatro Académico de Gil Vicente, tal como em todas os outros pontos de passagem, é de entrada gratuita.

Já sabe, hoje, dia 09 e dia 10 é no TAGV que se brinda à cultura de forma ímpar. Alinha numa ida até lá? •

+ TAGV
© Imagem de destaque: Pormenor do cartaz de divulgação da “Viagem Literária”.

Partilhe com os amigos: