CREARE MONDI: Enzo de Leonibus e Triac

Inaugurou no dia 20 de Janeiro, no Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, a exposição Creare Mondi. Permanece até ao dia 21 de Abril deste ano de 2017. E associa: Enzo de Leonibus e o trio Triac, cujo repto aqui seguiremos.

Aliando as artes visuais e a música experimental, de “âmbitos afins mas distintos”, como se assinala no documento escrito que sustém a exposição, acrescenta-se que a “característica distintiva é o reflexo de uma poética extensa que se expande por além dos limites cognitivos e investiga um tipo de fruição multissensorial, dinâmica e ativa.” Entretanto, pela minha parte, gostaria de partilhar convosco o lastro da sensação que se instalou no final da visita-perscrutação: algo de uma leveza absoluta, no registo do etéreo, mas com a certeza da profundidade quanto às prementes questões ali em causa.

Fizemos a “viagem”, que é do que se trata agora, ao contrário, o mesmo é dizer: começámos pelo fim, ou, pelo menos, pela quarta sala, a que seria a última relativamente à disposição da entrada da exposição. Assim, não seguimos o tracejado presente na folha de sala, em que se introduz a matéria desta proposta e se diz, a seguir: “Logo na entrada da exposição”, para depois traçar o caminho. O nosso foi outro, e é dele que aqui fica o registo na forma de uma fábula.

Entre o planeta terra e os cumes altivos onde a música alastra, numa severa inquietude, o homem paira sobre a cidade-mundo, que percorre através de uma fina linha, reconhecendo-a do alto, e com o auxílio de uma vara. Procura ouro? Procura água? Procura equilibrar-se na sua impenetrável solidão? Desamparado, mas corajoso, o homem percorre a cidade-mundo, enunciando o trajecto de uma travessia arriscada. Afinal, o homem, corajoso, repito, deverá fazer a sua pessoal demonstração à cidade-mundo, ainda que a instabilidade o habite.

Feita a demonstração, o homem coloca os pés em solo firme e une o que parece diferenciar-se: o mar e o deserto. Hesita, contudo: um barco apela-o, mas o trilho do deserto enuncia a sua serpentina estrada. O homem, portanto, que continua a ser corajoso, permanece cindido. Perder-se na paisagem? O vento faz ondear a vegetação e o homem fica absorto, suspenso deste movimento.

Então, o homem compreende que não pode perder-se na paisagem, não pode. Impõe-se continuar o seu caminho. Invadido do azul musical, retorno do mesmo, mas ainda assim diferente, o homem sabe agora que tudo é persistente trabalho. E só desta forma acederá ao doce mel da existência.

Enfim, o homem satura o tempo. Qual noz de ouro desde o fim prometida, transforma em imagem a memória da sua viagem. Brotam letras, fixam-se barcos, delineiam-se linhas férreas, recorda-se a natureza, guarda-se em fiapos delicados o desejo. E o homem, corajoso, detém o segredo da sua própria vida.

É esta a fábula.

Relativamente aos artistas que compõem esta etérea, mas firme, exposição: Triac e Enzo de Leonibus. Quanto ao primeiro, trata-se de “um trio italiano de música eletrónica e instalações audiovisuais, criado no final de 2011. Os seus membros são Rossano Polidoro, Marco Seracini e Augusto Tatone. Na base da sua pesquisa está a criação de instalações artísticas audiovisuais que mediam as relações entre ambiente, espaço sonoro e elementos naturais.” Já Enzo de Leonibus foi assistente do fotógrafo Giorgio Colombo, fez fotografia documental, colaborou com Alighiero e Boetti, iniciando a sua actividade de artista em 1983, tal como fica expresso na folha de sala. A curadoria desta etérea, mas firme, exposição, deve-se a Antonia Gaeta.

Repito: até ao dia 21 de Abril, no Colégio das Artes, Largo D. Dinis, em Coimbra, de 2ª a 6ª, e entre as 14:00 e as 18:00.

triac act 
+ Colégio das Artes
© Fotografia: Vítor Garcia

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