35.ª edição do Jazz em Agosto

O Jazz em Agosto chega-nos este ano com a sua 35.ª edição, com uma programação intitulada “John Zorn Special Edition”. Serão 10 dias de música de excelência sem parar, de 27 de Julho a 05 de Agosto, em vários dos espaços que formam a Fundação Calouste Gulbenkian. Como sempre, um festival obrigatório na sua agenda quente, de verão.

Pela primeira vez na história deste já incontornável festival, toda a programação está organizada em torno de um só músico, o norte-americano John Zorn, celebrando assim uma que é daquelas figuras mais intrigantes, inspiradoras e inspiradas, que tem deixado uma profunda marca autoral na música inovadora dos nossos dias. Residente em Nova Iorque, o compositor, saxofonista, produtor e responsável máximo pela editora discográfica Tzadik, onde edita a sua música e a dos artistas que gravitam na sua esfera de influência, tem abordado todos os géneros e subgéneros musicais, do jazz ao rock, passando pela música clássica, as bandas sonoras, a música ambiente ou a música improvisada.

A música e o universo singular de Zorn estão espelhados nos 18 concertos e cinco filmes que o Jazz em Agosto apresenta e onde marcam presença, para além do próprio músico, vários dos melhores músicos da cena nova-iorquina. O concerto de abertura desta edição especial dedicada a John Zorn, apresenta uma formação inédita em que o saxofonista se junta a outros dois improvisadores natos da cena downtown nova-iorquina, o legendário baterista Milford Graves e Thurston Moore, o guitarrista que pertenceu aos icónicos Sonic Youth.

A este primeiro momento no Anfiteatro ao Ar Livre somam-se quatro noites de concertos duplos que focam as composições de John Zorn no âmbito dos projetos Book of Angels e Bagatelles. Ao longo destas noites apresentam-se em palco as formações Mary Halvorson Quartet, Masada, Nova Quartet, Asmodeus, Kris Davis Quartet, John Medeski Trio, Craig Taborn (solo) e Brian Marsella Trio, que incluem também os músicos Dave Douglas, Drew Gress, Joey Baron, Kenny Wollesen, Marc Ribot, Kenny Grohowski, Tomas Fujiwara e Trevor Dunn. Nós dissemos que era obrigatório, este festival.

Os grupos Simulacrum, Highsmith Trio, Insurrection e Secret Chiefs 3, que integram alguns dos músicos já mencionados, completam o programa do Jazz em Agosto no Anfiteatro ao Ar Livre com outros nomes igualmente relevantes da cena nova-iorquina e da órbita de Zorn, como Ikue Mori, Ches Smith, Jim Black, Kenny Grohowski, Matt Hollenberg e a jovem revelação na guitarra Julian Lage, entre outros. O festival apresenta este ano, no Grande Auditório, três eventos inéditos no mesmo dia: o filme John Zorn (2016-2018), nova extensão do retrato intimista sobre este músico que Mathieu Amalric estreou em 2017, e que contará com a presença em sala deste realizador; Jumalatteret, um ciclo de canções para voz e piano inspirado no texto épico finlandês Kalevala, apresentado pela notável soprano Barbara Hannigan e pelo pianista Stephen Gosling, com música composta por Zorn; e por fim o inédito encontro de John Zorn, no órgão, com a sua cúmplice e mestre da eletrónica Ikue Mori no projeto The Hermetic Organ.

Serão também realizados seis concertos no Auditório 2. De Nova-Iorque chegam-nos o grupo de guitarras elétricas Dither, com James Moore, Taylor Levine, Josh Lopes e Gyan Riley, o trio Trigger, com Will Greene, Simon Hanes e Aaron Edgcomb, os guitarristas Julian Lage e Gyan Riley e ainda Robert Dick, que apresentará um raro solo de flauta contrabaixo. A completar esta programação, dois grupos portugueses que, embora não tenham sido editados na Tzadik, partilham com John Zorn um mesmo universo musical: The Rite of Trio, que anula fronteiras entre géneros musicais sem qualquer pudor, e Slow is Possible, que encontrou no projeto Naked City, a sua principal inspiração. Recupere o fôlego que ainda não acabámos a lista…

O Jazz em Agosto dedica ainda espaço à exibição de filmes da editora Tzadik, na Sala Polivalente do Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna: Pomegranate Seeds, um filme-concerto, em que Ikue Mori compõe em tempo real a banda sonora para imagens alusivas a um conto sobre a deusa Perséfone, e os filmes Bhima Swarga, igualmente de Ikue Mori; John Zorn The Book of Heads – 35 etudes for solo guitar performed by James Moore, de Stephen Taylor; Celestial Subway Lines / Salvaging The Noise, de Ken Jacobs e Between Science and Garbage de Pierre Hébert com música de Bob Ostertag. Imperdível, este final de Julho e início de Agosto, na Gulbenkian.

27/07, 21h30 –  Anfiteatro ao ar livre; Zorn / Moore / Graves – John Zorn: saxofone alto, Thurston Moore: guitarra elétrica, Milford Graves: bateria.
Na primeira noite deste festim dedicado a John Zorn, nada mais apropriado do que uma formação inédita em que o saxofonista se junta a outros dois improvisadores natos da cena downtown nova-iorquina. Depois de, em 2013, se ter encontrado pela primeira vez com a guitarra serpenteante de Thurston Moore na gravação, Zorn propõe-se, agora, expandir essa sonoridade para um trio que inclui Milford Graves (com quem registou um duo de exceção na série 50th Birthday Celebration) e que garante o mesmo nível de música feita no fio da navalha. Um concerto que representa o encontro perfeito entre o jazz e o rock que só Nova Iorque soube empurrar, em simultâneo, para fora de pé.
28/07, 21h30 –  Anfiteatro ao ar livre; Mary Halvorson Quartet / Masada. The Book of Angels; Mary Halvorson: guitarra elétrica, Miles Okazaki: guitarra elétrica, Drew Gress: baixo elétrico, Tomas Fujiwara: bateria. Masada
John Zorn: saxofone alto, Dave Douglas: trompete, Greg Cohen: contrabaixo, Joey Baron: bateria
Dois quartetos imperdíveis na noite inaugural das sessões duplas propostas por Zorn. Foi a esta formação da guitarrista Mary Halvorson que o saxofonista encomendou o magnífico volume final da série The Book of Angels, conjunto de composições baseadas em “escalas judaicas”. É esse imaginário musical, evocador da música klezmer e do Médio Oriente, a unir as duas propostas da noite, sendo o quarteto clássico dos Masada o veículo fundamental para a exploração de um ponto de tangência entre as origens judias e a linguagem jazzística que Zorn tem aprofundado desde a década de 1990.
29/07, 18h30 – Grande Auditório; John Zorn (2016 – 2018), de Mathieu Amalric (filme).
O filme de Mathieu Amalric sobre John Zorn começou por ser uma encomenda de um canal televisivo europeu, no entanto o cineasta colocou este primeiro projeto de lado para filmar um retrato muito mais íntimo do músico, um diálogo contínuo, e que não terá nunca um fim, entre dois amigos. É por isso que, após um primeiro lançamento do filme em 2017, Mathieu Amalric mostra, em 2018, uma versão renovada deste documentário único. A sessão contará com a presença em sala do realizador.
29/07, 19H30 – Grande Auditório; Jumalatteret – Barbara Hannigan: voz & Stephen Gosling: piano.
Estreia europeia do projeto que junta a notável soprano Barbara Hannigan ao virtuosismo pianístico de Stephen Gosling. Jumalatteret é um ciclo de canções para voz e piano de adoração aos deuses, com música composta por John Zorn, que se inspira no texto fundamental da literatura finlandesa, o épico Kalevala, uma recolha de histórias da tradição oral publicado em 1835.
29/07, 21h30 – Grande Auditório; The Hermetic Organ – John Zorn: orgão de tubos, Ikue Mori: laptop.
Incontestável que é o lugar de John Zorn enquanto um dos músicos mais marcantes da viragem do séc. XX para o séc. XXI, permanecem quase desconhecidos os seus talentos enquanto organista. Em 2011, no seu primeiro registo em órgão de tubos, Lou Reed chamou-lhe “uma noite de apogeu e de conquista”. Agora, Zorn estreia uma nova versão do projeto acompanhado pela maga da eletrónica, Ikue Mori.
30/07, 18h30 – Auditório; The Rite of Trio – André Bastos Silva: guitarra elétrica, Filipe Louro: contrabaixo, Pedro Melo Alves: bateria.
André Silva, Filipe Louro e Pedro Melo Alves dão pelo nome de The Rite of Trio, alusão tanto a Igor Stravinsky quanto a Brad Mehldau. Nas suas composições cabem, na verdade, quase todas as músicas, do jazz ao heavy metal, com passagem pelo rock progressivo. É música fragmentária, com constantes guinadas estilísticas, herdeira de uma promiscuidade musical cara a Zorn.
30/07, 21h30 –  Anfiteatro ao ar livre; Nova Quartet / Asmodeus. Bagatelles 1. Nova Quartet – John Medeski: piano, Kenny Wollesen: vibrafone, Trevor Dunn: contrabaixo e baixo elétrico, Joey Baron: bateria. Asmodeus – Marc Ribot: guitarra elétrica, Trevor Dunn: contrabaixo, Kenny Grohowski: bateria
Trevor Dunn, um dos mais ativos colaboradores da imensa esfera de músicos indomados que gravitam em torno de John Zorn, une estas duas formações. A criatividade imparável do músico e a sua necessidade de testar cada livro de composições com os mais variados ensembles levou, nos últimos anos, à criação do Nova Quartet (Dunn, John Medeski, Kenny Wollesen e Joey Baron) ou do trio Asmodeus (Dunn, Marc Ribot e Tyshawn Sorey). Dois exemplos de combinações dessa bolsa de músicos próximos a quem é pedido que deem vida às novas criações que Zorn não cessa de oferecer ao mundo, nas quais o saxofonista só fisicamente não está presente.
31/07, 18h30 – Sala Polivalente; Ikue Mori – Pomegranate Seeds (filme-concerto), Ikue Mori: laptop.
Filme-concerto de uma das mais constantes colaboradoras de John Zorn, exímia na manipulação eletrónica. Ikue Mori compõe em tempo real a banda sonora para um espetáculo que visita um dos contos de Tanglewood Tales, livro em que o escritor norte-americano Nathaniel Hawthorne reescrevia mitos gregos para o público infantil. No caso, os sons ilustram a história da deusa Perséfone.
31/07, 21h30 –  Anfiteatro ao ar livre; Simulacrum – John Medeski: orgão Hammond, Matt Hollenberg: guitarra elétrica, Kenny Grohowski: bateria.
“O trio de órgão mais radical de sempre”, chama-lhe a editora Tzadik. E talvez não seja exagero algum descrever desta forma a união de John Medeski, Matt Hollenberg e Kenny Grohowski para interpretar composições de John Zorn que soam a um salto convicto para um abismo de jazz, heavy metal, música atmosférica, minimalismo, blues, noise e o que mais se consiga imaginar.

01/08, 18h30
– Auditório 2; Robert Dick: flauta contrabaixo.
Atento a todos os músicos que saiam fora da norma e desenvolvam uma linguagem tão singular quanto estimulante, Zorn descobriu em Robert Dick um intérprete incomparável e revolucionário na abordagem à flauta contrabaixo. No universo do jazz, as suas técnicas extensivas têm sido ouvidas ao lado de Steve Lacy, Evan Parker ou George Lewis.
01/08, 21h30 –  Anfiteatro ao ar livre; Kris Davis Quartet / John Medeski Trio. Bagatelles 2. Kris Davis: piano, Mary Halvorson: guitarra eletrónica, Drew Gress: contrabaixo, Kenny Wollesen: bateria. John Medeski: orgão Hammond, Dave Fiuczynski: guitarra elétrica, Calvin Weston: bateria.
Distinguida pela Downbeat como Rising Star em 2017, Kris Davis escalou nos últimos anos até ao topo dos mais fascinantes músicos da cena nova-iorquina. Enaltecida por Craig Taborn como uma rara “improvisadora intrépida”, a solo, em duo, quarteto ou octeto, a sua música é de uma riqueza muito especial, colocada aqui ao serviço do Book of Bagatelles de Zorn. Presente em mais de dezena e meia de álbuns da Tzadik, o organista John Medeski é um dos mais versáteis intérpretes da horda de Zorn, ou não tivesse sido um dos obreiros da obra inclassificável do seu anterior trio Medeski Martin & Wood. Agora, com Fiuczynski e Weston, leva esse legado mais além.
02/08, 17h00 – Sala Polivalente; Bhima Swarga, de Ikue Mori, 2006 (filme).
Bhima Swarga é um projeto cinematográfico fascinante de uma das intérpretes de música eletrónica mais criativa de sempre. Animando de uma forma irresistível as pinturas tradicionais do teto do templo de Kertha Gosa em Bali, Mori retrata a viagem da alma do inferno até ao céu em duas versões: uma primeira versão com música eletrónica assinada por si e uma segunda versão com música assinada por Matt Welch, que inclui uma orquestra de gamelão (instrumento musical coletivo típico das ilhas de Java e Bali), aumentado pelas eletrónicas de Ikue Mori e por Matt Welch no saxofone e na percussão. Uma apresentação audiovisual espetacular para todas as idades.
02/08, 18h30 – Auditório 2; Slow Is Possible. João Clemente: guitarra elétrica, Ricardo Sousa: contrabaixo, Bruno Figueira: saxofone alto, André Pontífice: violoncelo, Duarte Fonseca: bateria, Nuno Santos Dias: piano.
Jazz, rock, música para cinema ou pós-rock, tudo temperado por uma energia explosiva e um jogo de cintura capaz de acolher as mais violentas guinadas estilísticas. Nascidos em 2013, os Slow Is Possible são uma das mais fulgurantes revelações recentes do jazz português e colhem, na sua orquestração inquieta, ensinamentos evidentes dos Naked City de John Zorn.
02/08, 21h30 –  Anfiteatro ao ar livre; Highsmith Trio. Ikue Mori: laptop, Craig Taborn: piano, Jim Black: bateria.
O projeto Highsmith surgiu enquanto duo, em dezembro de 2016, no mítico Village Vanguard, quando pela primeira vez o piano de Craig Taborn se juntou à eletrónica de Ikue Mori. A pertinência do discurso gerado nessa noite foi tão surpreendente que, passados dois meses, registaram em estúdio a sua colaboração, assente numa improvisação livre que não desagua numa troca de notas e sons em diálogo febril. Pelo contrário, há uma escuta atenta e uma busca pela beleza, mais ou menos arredia, que recusa soluções fáceis. A expansão para trio com o acrescento de um baterista tão minucioso quanto Jim Black prenuncia uma noite mágica.
03/08, 17h00 – Sala Polivalente; John Zorn The Book of Heads – 35 etudes for solo guitar performed by James Moore, de Stephen Taylor, 2015 (filme).
Composto entre 1976 e 1978 e estudada atualmente por músicos de todo o mundo, The Book of Heads é uma das composições mais populares e mais tocadas de Zorn. Utilizando uma linguagem hermética de sons inspirados nas técnicas clássicas contemporâneas, as linguagens idiossincráticas da guitarra na improvisação livre, desenhos animados, cinema noir, músicas do mundo, filosofia e muito mais, The Book of Heads é aqui interpretado por James Moore, membro fundador do quarteto de guitarras Dither.
03/08, 18h30 – Auditório 2; Dither plays Zorn Game Pieces. James Moore: guitarra elétrica, Taylor Levine: guitarra elétrica, Josh Lopes: guitarra elétrica, Gyan Riley: guitarra elétrica.
Formação altamente invulgar, Dither designa um quarteto de guitarras elétricas fundado em Nova Iorque, em 2007, dedicando-se desde então à interpretação de composições próprias e de peças encomendadas para o grupo. A gravação para a Tzadik de várias criações de John Zorn foi nomeada pela Rolling Stone como um dos melhores álbuns avant-garde de 2015.
03/08, 21h30 –  Anfiteatro ao ar livre; Insurrection. Matt Hollenberg: guitarra elétrica, Julian Lage: guitarra elétrica, Trevor Dunn: baixo elétrico, Kenny Grohowski: bateria.
Novo projeto erigido por John Zorn, assente, em boa parte, no diálogo entre as guitarras sinuosas de Julian Lage e Matt Hollenberg, acompanhadas de uma secção rítmica frenética assegurada por Trevor Dunn e Kenny Grohowski. Juntando na sua sonoridade referências de jazz, rock, funk, blues ou música clássica, a repetida instabilidade dos temas nunca é colocada em descanso e é garante de uma das invenções mais espetaculares de Zorn nos últimos anos. A busca pela mutação sonora dentro de cada composição tem inspiração direta proveniente nos melhores romances experimentais publicados no século XX.
04/08, 17h00 – Sala Polivalente; Celestial Subway Lines / Salvaging Noise, de Ken Jacobs, 2005 (filme).
Ken Jacobs é reconhecido como um dos cineastas mais experimentais e prolíficos do cinema de vanguarda. Esta colaboração especial com John Zorn e Ikue Mori documenta o melhor de uma série de performances multimédia, originalmente apresentadas no Anthology Film Archives em 2004, com paisagens abstratas, misteriosas e de uma beleza indescritível. Aviso: o presente filme inclui luz estroboscópica.
04/08, 18h30 – Auditório 2; Trigger plays John Zorn Bagatelles and Apparitions. Will Greene: guitarra elétrica, Simon Hanes: baixo elétrico; Aaron Edgcomb: bateria.
Trio amiúde descrito como praticante de uma música na orla do hard-rock, Trigger junta a guitarra de Will Greene, o baixo de Simon Hanes e a bateria de Aaron Edgcomb. Aquilo que fazem, documentado no EP Limousine, é música tão arrebatada quanto obsessiva, qualidades que John Zorn cedo identificou como indicadas para reavivar em palco alguns dos seus “livros” de composições.
04/08, 21h30 –  Anfiteatro ao ar livre; Craig Taborn / Brian Marsella Trio. Bagatelles 3. Craig Taborn: piano. Brian Marsella: piano, Trevor Dunn: contrabaixo, Kenny Wollesen: bateria.
Considerado por muitos como um dos escassos intérpretes inovadores do jazz contemporâneo”, escrevia o New York Times em 2017, o pianista Craig Taborn conquistou na última década este justo reconhecimento enquanto uma das mentes mais criativas e fascinantes da música nascida no contexto atual. A possibilidade de ouvir Taborn a solo é um acontecimento por si só. O Brian Marsella Trio é liderado pelo pianista responsável pelo seu nome de batismo, cujos créditos incluem as formações Banquet of the Spirits ou Zion80, tendo a presente formação granjeado popularidade com a sua gravação do Book of Angels, um dos “livros” fundamentais de Zorn.
05/08, 17h00 – Sala Polivalente; Between Science and Garbage de Pierre Hébert com música por Bob Ostertag, 2004 (filme).
Uma colaboração magnífica entre o premiado realizador de animações canadiano Pierre Hébert e o mago das eletrónicas de vanguarda, Bob Ostertag. O processamento de ruído interage com a animação ao vivo criada espontaneamente neste trabalho revolucionário de improvisação.
05/08, 18h30 – Auditório 2; Julian Lage and Gyan Riley play John Zorn. Julian Lage: guitarra elétrica, Gyan Riley: guitarra elétrica.
Um dos ensembles mais inesperados nesta programação gizada por John Zorn, Julian Lage, cuja notoriedade atingiu um novo cume na capa da Downbeat de Março passado, e Gyan Riley, filho de Terry Riley, com quem toca regularmente, atuam como duo de guitarras acústicas e dão corpo a um reportório inspirado pelo imaginário lunar shakespeariano. É música de uma beleza insuspeita, reflexiva e melancólica, com uma candura inusual na obra de Zorn.
05/08, 21h30 –  Anfiteatro ao ar livre; Secret Chiefs 3 plays Masada. Trey Spruance: guitarra elétrica, Matt Lebofsky: teclados, Jason Schimmel: guitarra elétrica, Eyvind Kang: violino, Shanir Blumenkranz: contrabaixo e baixo elétrico, Kenny Grohowski: bateria, Ches Smith: percussão. Liderados pelo guitarrista Trey Spruance, que conta no seu currículo a passagem pelos igualmente lunáticos Mr. Bungle, os Secret Chiefs 3 são um caleidoscópio de diferentes linguagens, em que podemos encontrar vestígios de surf rock e de death metal, de música de clara filiação nas tradições do Médio Oriente e de música para cinema segundo a escola de Morricone. A sonoridade daqui resultante é uma colagem tão eficaz e delirante, quanto explosiva e destravada de linguagens que lutam todo o tempo pela primazia. Em tempos, a Pitchfork chamou a Spruance “um visionário louco capaz de instigar nos ouvintes tanto medo quanto respeito”.

São 10 dias de devoção absoluta ao fascinante universo de John Zorn, que ficam igualmente ilustrados na contaminação da imagem gráfica desta edição do festival, desenvolvida especialmente para o efeito por Heung-Heung Chin, designer exclusiva da label Tzadik, revelando o ambiente de pura criatividade em que o músico respira. Obrigatório na sua agenda, repetimos. Imperdível no seu verão, de novo a repetição. Tomar nota de tudo e rumar à Gulbenkian! •

+ Jazz em Agosto
© Fotografia: Marc Ribot por Barbara Rigon.

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