A criatividade é um desafio permanente e a disciplina que lhe é indissociável exige cada vez mais desta capacidade humana. A qualidade é outra das partes deste triângulo sinergético, dentro do qual cabem, ainda, a funcionalidade, o conforto, os valores da sociedade, a consciencialização.
Mesh é uma jóia
Saint é peça da Mesh criada para o Dia da Mãe
Comecemos este roteiro pelo Norte, mais concretamente na cidade do Porto, o epicentro da dinâmica da Mesh Jewellery, marca portuguesa de joalharia criada em 2016. À frente estão Tiago, de 32 anos, e João Barbosa, de 29, a dupla de irmãos pertencente à terceira geração de uma família que iniciou este trajecto pelo universo da ourivesaria, na década de 1950, com o fabrico de máquinas e ferramentas inovadoras, na época, para a referida indústria. Enquanto João Barbosa é responsável pela gestão, Tiago Barbosa dá corda à imaginação. A natureza é, em grande parte, a sua fonte de inspiração e, apesar do seu know-how ser uma espécie de legado paterno, denota um enorme cuidado no detalhe. A mesma dedicação é notória nas colecções de linhas geométricas da Mesh.
Quem diria que tudo tivesse iniciado com uma brincadeira! “Começamos a fazer mercadinhos nas cidades do Porto e de Lisboa”, conta João Barbosa, com peças de joalharia. O sucesso foi tão grande, que decidiram avançar com as próprias colecções e, consequentemente, criar uma marca. “O sucesso maior foi em Lisboa, mas pelo facto de já estarmos sediados aqui e pela ligação que temos à empresa da nossa família, decidimos ficar pelo Porto”. A primeira loja abriu portas em 2018, no n.º 48 da Rua Ramalho Ortigão, a dois passos da Avenida dos Aliados; a segunda surgiu em 2019, no n.º 102, do Largo São Domingos, perto da zona ribeirinha da Invicta.
Todas as peças são feitas, em prata, à mão por artesãos que trabalham com a família de ambos há mais de quatro décadas. A personalização é, por essa razão, um dos desafios que as lojas têm à disposição dos clientes. Face ao fecho dos espaços físicos, a loja online terá, em breve, esta possibilidade disponível, prova de que a Mesh nasceu para durar ou não resultasse da criação de valor incutido, desde a infância, a João e Tiago Barbosa.
Josefinas ou a beleza a seus pés
Josefinas Tenderness Blue é o nome desta edição especial da Josefinas
A calcorrear o Norte, chegamos a Braga, cidade onde “mora” a subtileza a criada para os pés mais femininos, as Josefinas ou a concretização do sonho de Filipa Júlio tornado realidade em 2013 e a homenagem a Maria Josefina, avó da fundadora desta marca.
“Na Josefinas acreditamos que podemos mudar o mundo através dos negócios, pelo que a criação de cada par de Josefinas tem um significado enorme – todas as Josefinas têm uma história associada, uma inspiração que fazemos questão de partilhar com as nossas fãs e clientes. Num momento difícil para todos, em todo o mundo, é ainda mais importante que continuemos a trabalhar para oferecer produtos bonitos, de qualidade e cheios de significado. Só isso faz sentido.” Ideias nesta casa faltam! Afinal, as temáticas inspiradas no universo feminino são infindáveis e, por isso, são objecto de uma (já) vasta colecção de sabrinas. “Podemos dizer que a criatividade é uma constante na vida de quem trabalha na Josefinas!” E um requisito muito valorizado pela sociedade.
A mesma importância tem vindo a ser atribuída ao design e à qualidade, “e que já há muita gente que opta, conscientemente, por apoiar marcas e designers nacionais. Num momento em que o mundo é obrigado a parar e a refletir sobre aquilo que realmente importa, acreditamos, também, que a qualidade passará a ser mais valorizada, em detrimento da quantidade, e que o design associado à funcionalidade e ao conforto será, cada vez mais, um ponto decisivo”, remata.
Peças de um laboratório com estórias dentro
Esperança na Vida das Borboletas em faiança das Caldas da Rainha, concebida pelo Laboratório d’Estórias
Vamos, agora, até Caldas da Rainha, berço do Laboratório d’Estórias que conta com mais estórias para contar, desde 2013, ano da sua fundação, quando o casal Rute Rosa e Sérgio Vieira decidiram mostrar o quanto valem no universo criativo. “A imaginação, no nosso universo, é inesgotável. Espontaneamente, trocamos várias ideias sobre algumas temáticas que gostaríamos de explorar.” Para o efeito, “voltar a ler o passado e saber observar, e a valorizar a natureza no presente é q.b. necessário na criatividade, por forma a que cada estória apresente ‘sabores e texturas’ das nossas memórias”, daí que a génese deste projecto reuna a cultura popular e as técnicas da faiança das Caldas da Rainha. O resultado consiste em reinventar objectos tradicionais e cada um está associado a uma lenda ou um conto. Assim, “observar e valorizar a natureza são, sem dúvida, os melhores ‘ingredientes’ para a criatividade”.
Neste fabuloso universo cheio de estórias, e já depois da Esperança na Vida das Borboletas – designação da mais recente criação deste laboratório caldense –, “este momento não nos podia ser indiferente. Precisamos todos de acreditar num momento mágico e de sorte”. Em breve, será a vez de A Libelinha juntar-se à família dos insetos voadores de Rute e Sérgio.
Quanto à criatividade e ao valor atribuído ao design na actualidade, ambos destacam o seguinte: “num mundo de tendências globais, o conhecimento da herança cultural de cada localidade poderá ser a melhor ‘matéria-prima’ na disciplina de design, conferindo ao designer uma responsabilidade social de transmissor de cultura e de contribuir para o desenvolvimento da economia local, e gerar diálogos numa cultura global, de internacionalização.”
Os movimentos do corpo não são deixados em branco
Miss Me I é um dos desenhos de Branca Cuvier
Desçamos até Lisboa e falemos com Branca Cuvier. Outrora conhecida pela Baguera, criada em 2011 e dedicada a peças de joalharia singulares feitas a partir de acrílico, predominantemente, em branco e em preto, em 2016 decidiu dedicar-se ao seu trabalho artístico.
Porém, o estudo do corpo persiste na essência dos seus desenhos e das suas pinturas: “o estudo do corpo e do seu movimento e a forma como ele se estende aos outros e a si mesmo. Neste momento exploro-o através do desenho e da pintura.” Imparável, Branca Cuvier revela o gosto em trabalhar vários materiais, “principalmente tocar neles e transformá-los. Ultimamente ando obcecada com a linha e as camadas sobrepostas. Sei que está obsessão me irá levar a explorar outros materiais para além das tintas, mas cada coisa a seu tempo”. Aguardemos.
Até lá, leiamos o que tem a dizer sobre criatividade no geral, até porque a nossa entrevista vai mais além no que à “boa ideia” diz respeito: “o mais importante de tudo não é perceber se a ideia que tivemos é uma boa ideia, mas sim se essa ideia nos serve, se se encaixa em nós, nos nossos valores, princípios, nas nossas rotinas e nos manifestos e, antes demais, no mundo/sociedade em que vivemos. Se assim não for, é como sermos um caracol a tentar caber numa carapaça de tartaruga. Ou o oposto. Acho que esse é e será o maior desafio, principalmente agora nesta nova era que se aproxima.”
Tomazzzz um copo?
Cheers, o saco da Tomaz, permite o transporte de uma garrafa de vinho e de dois copos, para partilhar
©Estelle Valente
Ainda pela capital, fomos ouvir Eliana Tomaz, a fundadora da Tomaz. A formação em design de interiores na Central Martins, a Universidade de Artes de Londres, no Reino Unido, antecedida pela abertura do seu próprio atelier na área e complementada pela beleza que encontra “nos mais complexos pormenores da vida” requer criatividade permanentemente activa.
“No meu caso, há uma predisposição e libertação maior para pensar, experimentar e desenhar. Como todas as lojas onde tenho a Tomaz à venda fecharam e outros projectos/propostas foram suspensos, a cabeça libertou-se dessas tarefas mais mecânicas – e importantíssimas –, dando mais espaço para aquilo que amo fazer: criar.” Para Eliana Tomaz, ser designer é uma condição, “ou seja, eu não consigo não desenhar, não criar qualquer coisa”. Cada peça sua valoriza, também, pela escolha da matéria-prima, princípio básico neste ofício que se quer de valor acrescentado.
“Uso três matérias: algodão, burel e pele. O algodão por ser dos materiais mais simples e confortáveis que existe. Gosto da textura, nem sempre uniforme, casual mas também muito elegante. É para a vida. O burel por ser lã, quente e por trazer aquele conforto em dias de desconsolo. Gosto do cheiro e da resistência. O tecido mais português e versátil de todos – seja em produtos ou interiores. Também este é um tecido para a vida. A pele pela durabilidade e pela capacidade que tem de construir memória, memória essa que, para muitos, é defeito – manchas, riscos, idade, cor. Memória é vida.” É com este trio de materiais que constrói os seus acessórios e malas, sempre com um cunho pessoal desdobrado em pormenores que enchem os olhos à primeira.
A importância da disciplina design tem vindo a aumentar a sua importância, mas nem sempre é valorizada por quem quer comprar. Eliana Tomaz acredita que esta visão está associada ao facto de, por cá, a generalidade das pessoas não têm poder de compra. “Se os portugueses tivessem mais poder de compra, comprariam muito mais design, seja em forma de serviço, seja em produto.” Quem sabe se ao longo deste tempo em que tivemos de permanecer em casa não terá mudado a mentalidade de alguns. “Este período de confinamento que estamos a viver pôs muitos de nós a pensar na importância no design da casa, na posição e no conforto do sofá na sala, na forma como a luz entra casa adentro, a meio da tarde, na necessidade de ter uma cadeira mais confortável à secretária e, até mesmo, na necessidade de ter uma secretária em casa que, afinal, precisamos de um rato para o computador ou de uma caixa para arrumar coisas diversas: isto é pensar design. Se calhar, cabe a nós, profissionais do ramo, falar mais sobre esta matéria, dar-lhe nome e forma. Consciencializar, porque não tenho dúvidas que o design melhora o nosso dia-a-dia, todos os dias. Há 20 anos que falo sobre isto.”
E para o Dia da Mãe?
Antes de terminar, perguntámos a cada uma sugestão para o Dia da Mãe, a celebrar este Domingo, dia 3 de Maio. João e Tiago Barbosa apresentam Saint, nome atribuído ao conjunto em prata constituído por fio e pendente, da Mesh, criado para esta efeméride. Já para os pés, a marca bracarense elegeu a edição especial Josefinas Tenderness Blue, “cuja compra contribui, em parceria com a CARE, para que meninas, em África, recebam uniformes, dando um passo para um futuro melhor. As Josefinas Rosa Frágil, as mais icónicas são, também, uma excelente sugestão para o Dia da Mãe”.
Rute Rosa e Sérgio Vieira escolhem a Esperança na Vida das Borboletas: “é, sem duvida, o presente ideal. O que todas as mães esperam, acreditar no dia seguinte. Não podia estar mais atual!” E Branca Cuvier opta pela print Miss Me I, da sua autoria, enquanto Eliana Tomaz se mostrou indecisa. No entanto, “porque o Dia da Mãe é um dia de celebração e porque eu celebro a simples razão de ser, escolho o Cheers, aquele saco para transportar uma garrafa de vinho e dois copos de pé alto. Este saco convida-nos a parar e a apreciar o que a vida nos traz de bom, como a companhia de alguém que nos faz feliz, num lugar à nossa escolha a qualquer hora do dia. Este saco convida-nos a apreciar a liberdade, a explorar os nossos sentidos – cheiro e paladar do vinho – e a viver mais devagar. Brindemos, porque a vida não se faz sozinha!”