Adolfo Luxúria Canibal + Marta Abreu / Goela Hiante

“Ó da Guarda! Ele[s] t[ê]m [um álbum]!”… É o que apetece, de goela bem hiante, gritar ao mundo sonoro, com todo o respeito por Vladimir Maiakovski.
Adolfo Luxúria Canibal e Marta Abreu surgem com um trabalho original, pensado, gerado, gravado e editado no confinadíssimo 2020. Nós, não resistimos a ter em mãos esse trabalho, em ouvir de fio a pavio e, agora, em partilhar convosco o que deve ser ouvido por todos. Sem mais demoras, desvendemos um pouco do que é este “Goela Hiante”.

Quando dois criativos, com uma imensidão de tempo para usar, abusar, gastar, perder e encontrar, sem propriamente nada para fazer no imediato nem na incerteza do futuro – tudo fruto e resultado e espelho daquela pandemia que chegou, nos trancou, ainda não foi, mas já não tranca como trancou (ou tranca?) – se decidem a divertir para seu digno e belo prazer e ainda dão a quem os segue o prazer da partilha… Isso é terapia para “Todas as Ruas do Mundo”!

Para Adolfo Luxúria Canibal (com quem falámos aqui, a propósito de outro trabalho, e que escusa quaisquer apresentações) e Marta Abreu (Mão Morta aquando do álbum “Primavera de Destroços” / 2001; Voodoo Dolls / 1994-1998; Cadeira Eléctrica / 2013-2016) a nossa era pandémica foi bem produtiva e juntou-os de novo nas lides da música.

Confinados, (…), decidiram divertir-se e divertir os amigos com os poucos meios de que dispunham em casa: livros, um i-pad e um velho piano eléctrico. Foi assim que começaram, filmando com um telemóvel Adolfo Luxúria Canibal a ler poemas seus ou de poetas da sua eleição e Marta Abreu a criar ambientes sonoros para essas leituras. E foi assim que depois foram convidados para participar em diversos eventos on-line durante os três meses de confinamento total, uns pré-gravados outros em directo. E como, apesar do minimalismo de meios, a recepção das pessoas foi muito positiva, após o confinamento sucederam-se os convites para apresentações ao vivo, tendo-se estreado em Setembro no Café-Concerto Avenida, em Aveiro. Mas antes dessa estreia, instados a registar o trabalho realizado, em meados de Julho entraram em estúdio para gravar este “Goela Hiante”. (…)..” in Rastilho .

O que podemos dizer sobre ou acrescentar a este álbum… A voz continua a ser aquela que nos prende a todos os trabalhos em que a voz se envolve. Inconfundível, dá uma estética e corpo à palavra que, dita por outros diafragmas aliados a outras cordas vocais, dificilmente conseguiriam dar à mesma palavra a mesma negritude, a mesma capacidade de nos envolver na poesia soturna aqui musicada. A música, nas suas teclas e Apps iPad(ianas), é certeira na forma como dá casa à voz para a palavra habitar, cada divisão, de forma singular. Faz-nos sentir cada arquitectura, a cada novo poema.

“Goela Hiante” é a casa que vivemos, sentimos e habitamos durante nove poemas musicados, que traz na voz Adolfo Luxúria Canibal e nos teclados e aplicações iPad Marta Abreu; foi gravado e misturado em julho e outubro de 2020 por Ruca Lacerda no Largo Recording Studio, no Porto, masterizado em novembro por Frederico Cristiano no Mechanical Heart Mastering Sessions, Braga; a capa é de Sónia Teixeira Pinto sobre colagem digital de Marta Abreu. Por fim, o alinhamento deste hiante álbum de palavras musicadas:
Tudo começa nas cifras do “Criptograma” – (Manuel de Castro) para sabermos afinal “Como me Transformei em Cão” – (Vladimir Maiakovski trad. Adolfo Luxúria Canibal) porque na verdade “O Poeta em Lisboa” – (António José Forte) que nos faz sentir aranhas nos cabelos, sentimos como o poeta de “Todas as Ruas do Mundo” – (Adolfo Luxúria Canibal), ruas onde por sua vez nos cruzamos com “Dois Cantoneiros num Camião, Duas Pessoas Giras num Mercedes” – (Lawrence Ferlinghetti trad. Adolfo Luxúria Canibal) que garantidamente não íam para o “Parque de Campismo” – (Mário-Henrique Leiria) onde dizem que “Há Pássaros que são Ruído na minha Noite” – (João Damasceno), provavelmente por causa das “Iluminações” – (Adolfo Luxúria Canibal) do “2 de Abril de 2020: A Livre Circulação do Trânsito” – (Adolfo Luxúria Canibal).

Avisamos que este álbum não se encontra à venda nas lojas habituais/ físicas e que tem de ser adquirido (como nós o fizemos) na conta pessoal de @adolfomoraisdemacedo (Adolfo Luxúria Canibal) no Instagram ou na conta de Marta Abreu no Facebook… E garantimos que mesmo assim, com uma divulgação e acesso tão restrito, este álbum já está a ter o sucesso merecido.

A ouvir. A reouvir e a não perder num palco perto de si, se passarem pela sua cidade. Alinhe e dê voz à nossa cultura. •

+ Adolfo Luxúria Canibal

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