“Nu com Flores”

Pertence às mãos de Alberto Giacometti e foi desenhado em 1960 e vem a nu, com flores, tendo-nos sido dado.

Mas quem se dá a nu, com flores? Proliferam as actrizes e os actores, e mais se solicita o seu aparecimento. Mas quem se dá a nu, com flores? Pululam os ambientes climatizados. Mas quem se dá a nu, com flores? Preparam-nos os olhos todas as noites, por forma a ocultar a verdade, apesar do intenso realismo com que nos tentam apresentar o mundo. Mas quem se dá a nu, com flores? Dão-nos bofetadas bem dadas, castigando-nos por um pecado que não cometemos. Mas quem se dá a nu, com flores? Escreve-se muito, escreve-se, escreve-se, escreve-se. Mas quem se dá a nu, com flores? Fazem-se capas de jornais com letras gordas a dar-nos notícias da actualidade mais necessária e urgente. Mas quem se dá a nu, com flores? 

Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e dar-se a nu, com flores? Todos, mas todos, lamentam profundamente. Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e dar-se a nu, com flores? Todos, mas todos, lamentam profundamente o facto, agora patente, de quase não ser possível encontrar essa rosa, quase para sempre perdida. Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e dar-se a nu, com flores? Muitos, na verdade tratando-se de uma corte praticamente planetária, dizem que isto não anda bem, que os mercados são tiranos, que as pessoas vêm secundarizadas, que não há justiça. Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e dar-se a nu, com flores? 

Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e permanecer com os olhos limpos e dar-se a nu, com flores? Fala-se muito de solidão nestes tempos. Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e permanecer com os olhos limpos e dar-se a nu, com flores? Lamenta-se também a morte das palavras. Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e permanecer com os olhos limpos e dar-se a nu, com flores? Tudo adquire um tom cinzento de despedida, das coisas, das pessoas, das palavras, dos sentimentos. Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e permanecer com os olhos limpos e dar-se a nu, com flores?

Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e permanecer com os olhos limpos e ter nas mãos uma prenda e dar-se a nu, com flores? Muito, quase todos, querem comandar. Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e permanecer com os olhos limpos e ter nas mãos uma prenda e dar-se a nu, com flores? Muitos, quase todos, querem saber o segredo, para melhor prever e orientar a sua vida. Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e permanecer com os olhos limpos e ter nas mãos uma prenda e dar-se a nu, com flores? Muitos, quase todos, precisam de orientação e buscam-na nas crianças. Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e permanecer com os olhos limpos e ter nas mãos uma prenda e dar-se a nu, com flores?

Mas quem, no mais pequeno gesto do seu coração, é capaz de guardar a candura e permanecer com os olhos limpos e ter nas mãos uma prenda e ter o corpo intacto e dar-se a nu, com flores? Alguns, mas poucos.

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