A obra de Gil Vicente é uma marca incontornável nos reportórios d’A Escola da Noite, mestre na sua representação. No décimo-quinto espectáculo vicentino do seu percurso, junta-se ao Bando de Surunyo, para celebrar os 500 anos da “Frágua de Amor”.
Com encenação de António Augusto Barros e direcção musical de Hugo Sanches, “Frágua do Amor” é uma co-produção com o Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV), a produtora Artway, o Centro Dramático de Évora, o Teatro Nacional São João e o Centro Dramático Galego e é a não perder.
Escrita em 1524, a “Tragicomédia da Frágua de Amor” é uma festa sobre amor e mudança. Peregrinos e romeiros ouvem falar da fama dos reis e de como o amor os juntou. Cupido fugira da mãe Vénus para ajudar D. João III a conquistar o castelo maravilhoso, metáfora de Catarina. Vénus, deusa da música, com lágrimas transformadas em canções, procura o filho. Este inventou uma forja especial (a tal frágua) que prepara Portugal para um novo tempo. É uma máquina movida com a música dos planetas e dos gozos de amor, que transforma quem quiser em algo melhor. Vários se apresentam para a refundição: escravos negros, parvos, pagens, frades. Até a justiça – “corcovada, torta, muito mal feita” – quer ser reformada na frágua. A espectacularidade para a festa imaginada pelo autor (visível na cenografia e nas músicas que propõe) não amacia os olhos críticos de sempre: a igreja, através da prática clerical afastada dos princípios espirituais; a fidalguia improdutiva aspirando a regalias; a justiça corrupta, que tem de ser reformada “para o resto não se perder”. A frágua serve afinal para “fazermos refundição / nesta portuguesa gente”, a propósito da anunciada chegada de “rainha tão excelente”.
O espectáculo é apresentado em Coimbra em apenas três sessões, no TAGV, nos dias 14, 15 e 16 de novembro (quinta e sexta-feira às 21h30 e sábado às 18h30). Os bilhetes já estão disponíveis na bilheteira do TAGV.
A Escola da Noite e O Bando de Surunyo
A Escola da Noite assume a dimensão deste novo desafio – pela complexidade da transposição cénica do mecanismo transformador; pela distância temporal e socio-política entre o Portugal do século XVI e os dias de hoje; pela dimensão do elenco (à equipa permanente da companhia, constituída por Ana Teresa Santos, Igor Lebreaud, Miguel Magalhães e Ricardo Kalash, juntam-se Maria Quintelas, Nuno Meireles e a actriz galega Mónica Camaño); pela integração no espectáculo de uma componente musical ao vivo sem precedentes na história do grupo, que inclui a participação de nove cantores/as e instrumentistas.
O Bando de Surunyo é um ensemble especializado na interpretação de música dos séculos XVI e XVII. O grupo, cujo nome é retirado de um vilancico de negro seiscentista português, é uma frente interpretativa e laboratorial do projecto de investigação “Mundos e Fundos” da Universidade de Coimbra, projecto multidisciplinar de estudo e divulgação de música ibérica dos séculos XVI e XVII. Assume como objectivo proporcionar ao público, através da música e da poesia, o contacto com a pluralidade, eclectismo e riqueza do pensamento e imaginário do renascimento e barroco europeus. Para este espectáculo em concreto, o grupo reuniu um naipe de intérpretes que inclui vozes – Eunice Aguiar (soprano), Irene Brigitte (soprano), Patrícia Silveira (alto), Carlos Meireles (tenor) e Sérgio Ramos (baixo) –, alaúde (Hugo Sanches), viola da gamba (Xurxo Varela) e flautas (Carlos Sánchez e Rita Rodríguez).
A equipa artística inclui ainda a cenografia de João Mendes Ribeiro e Luísa Bebiano, os figurinos e adereços de Ana Rosa Assunção e o desenho de luz de Danilo Pinto. A versão do texto utilizada apresenta a tradução dos versos em castelhano feita por José Bento, publicada em 2008 pela Assírio & Alvim.
A colocar na sua agenda do próximo mês de novembro. A não falhar, em Coimbra. •