É hora de celebrar a liberdade numa cidade vibrante e cheia de eventos artísticos e culturais
A primeira vez que fui à Alemanha, tinham passado menos de três anos da queda do muro de Berlim. Foi em finais de junho, corria o ano de 1992 e tinha apenas 15 anos (a poucos dias de fazer 16). Lembro-me perfeitamente da longa viagem de autocarro, que durou mais de 24 horas para atravessar Espanha e França, e chegar a Bretten, uma pequena cidade localizada no distrito de Karlsruhe, estado alemão de Baden-Württemberg, muito próximo da fronteira com a França e a Suíça e a pouco mais de 200 km de Nuremberga.
Estávamos a poucos meses do nascimento do Mercado Único Europeu, que entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 1993, permitindo a livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais entre diversos países da Europa.
Paralelamente, eram dados passos para a criação do Espaço Schengen, que começou com a assinatura do Acordo de Schengen, a 14 de junho de 1985, na pequena aldeia de Schengen, no sul do Luxemburgo, pela República Federal da Alemanha, Luxemburgo, Bélgica, França e Países Baixos. Esse acordo tinha como objetivo suprimir os controlos nas fronteiras internas e instaurar um regime de livre circulação. A Convenção entrou em vigor a 26 de março de 1995 e os cidadãos dos países signatários passaram a poder viajar, trabalhar e viver em qualquer um desses países, sem formalidades especiais.
Atualmente, é possível circular livremente nos 29 países europeus que integram o Espaço Schengen: 25 países da UE (Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária [apenas fronteiras internas aéreas e marítimas], Chéquia, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, França, Finlândia, Grécia, Hungria, Itália, Letónia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Polónia, Portugal, Roménia [apenas fronteiras internas aéreas e marítimas] e Suécia, e ainda quatro países que não são membros da União Europeia: Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça. Portugal assinou o Acordo, juntamente com Espanha, a 25 de junho de 1991. {fonte: Eurocid }
Mas na viagem que fiz, ainda havia controlo nas fronteiras. Era necessário mostrar documento de identificação e levar escudos, pesetas, francos e marcos no bolso. O Euro só começaria a circular, uma década mais tarde, no dia 1 de janeiro de 2002. Não levei cartões bancários nem telemóvel, nem deveria fazer ideia da sua existência. Na aldeia onde morava, penso que nem o telefone fixo tinha ainda chegado… Durante duas semanas não falei uma única vez com os meus pais. Eles sabiam notícias nossas através da Câmara Municipal de Condeixa.
Tinha quase 16 anos e foi a primeira vez que saí de Portugal. O meu filho com a mesma idade já percorreu uma grande parte da Europa, de Portugal à Croácia, e já escreveu um livro sobre a viagem de carro, que fizemos por Espanha e França em 2023.
37 dias por trilhos mediterrânicos e alpinos • diário de Rodrigo Rato. Descubra-o aqui.
Afinal, houve uma evolução geracional nas últimas décadas. Não só de tecnologia, mas de liberdade e circulação. Não a percamos!
Nirvana era a música do momento e, na Alemanha, fiquei a conhecer que, antes do “Nevermind”, havia já um “Bleach”, com sons muito mais crus. Ouvia-se nas rádios e grava-se em K7’s que começavam a perder terreno para os compact disc (CDs). O primeiro CD que comprei foi o “In Utero”, terceiro álbum dos Nirvana, lançado em 1993.
Entre rapazes e raparigas naturais de várias vilas e cidades da Europa e norte de África, foi com um grupo da Alemanha de Leste que melhor me dei. Se não foi por acaso, não faço a mínima ideia da razão. Deviam ser os mais fixes.
Passaram apenas 32 anos, muita coisa mudou, mas não voltei à Alemanha (uma escala de uma hora numa viagem de avião, em 2008, não deve contar).
Alemanha 32 anos depois da primeira visita
Berlim, 35 anos depois da queda do muro
Foi com grande entusiasmo que voei de Lisboa para Berlim, com o objetivo de experimentar o novo smartphone Xiaomi 14T da jovem empresa tecnológica chinesa fundada em 2010. O centro da cidade, que renasceu das cinzas depois do final da Segunda Guerra Mundial, revelou-se o cenário ideal para desafiar as capacidades deste modelo, que incorpora tecnologia de imagem melhorada por IA, com foco na fotografia noturna sem esquecer o dia.
Welkom Berlim!
24 de setembro de 2024
Depois de uma brevíssima escala em Frankfurt, devido ao grande atraso do primeiro voo, em menos de 10 minutos “saltei” de um avião para outro e, mais uma voltinha, cheguei à capital alemã. A tarde caía pintada de um pálido amarelo alaranjado, interrompido pelos últimos raios de um sol envergonhado entre nuvens cinzentas. O outono já se instalou por aqui e eu fui acomodar-me no Hotel Hampton by Hilton Berlin City Centre Alexanderplatz, localizado a curta distância do centro da cidade e dos seus muitos pontos de interesse.
Berlim é uma cidade onde o peso da história recente se mistura com uma boa onda de energia e criatividade. A cidade é plana e circular pelas ruas é muito fácil, por isso optei por andar sempre a pé. Para os mais preguiçosos existem os transportes públicos U-Bahn (metro subterrâneo), S-Bahn (metro de superfície), autocarros a combustão e autocarros elétricos (Metrotram e bondes) que circulam principalmente na zona leste da cidade. Curiosamente, no centro da cidade não assisti ao infernal rebuliço do trânsito comum noutras grandes cidades europeias. Os carros fluíam tranquilamente e raramente se ouvia uma buzinadela. Mas como “não há bela sem senão”, a destoar, assisti a algumas manobras menos ortodoxas por parte de condutores de “Uber’s” .
35 anos depois do 9 de novembro de 1989
Para comemorar a efeméride, estão planeadas exposições, workshops, debates e visitas guiadas, designadamente no novo Humboldt Forum (abriu em 2020). Além disso, diversas mostras irão decorrer no Memorial do Muro, no Museu Stasi (antiga prisão) e no Tränenpalast ou Palácio das Lágrimas.
Há muito mais para festejar em Berlim nos próximos meses, como os 20 anos do Festival das Luzes, os 55 anos da Torre de Televisão de Berlim, os 25 anos da C/O Berlin, os 50 anos da Berlinische Galerie e os 200 anos da Ilha dos Museus. Também a East Side Gallery, a mais longa galeria ao ar livre do mundo, celebrará o seu 35.º aniversário em 2025.
Por onde andámos em Berlim
Alexanderplatz
A poucos minutos a pé do hotel conheci o “Alex”, como os berlinenses lhe chamam. É o centro da zona leste da cidade e um dos pontos turísticos mais importantes de Berlim. Tem como elemento agregador uma das praças mais animadas de Berlim, a Alexanderplatz. À sua volta, além de muito comércio, sobressaem atrações como a Torre de TV Berliner Fernsehturm , o Relógio Mundial e a Fonte da Amizade das Nações.
Memorial aos Judeus Mortos da Europa
A escassos minutos das Portas de Brandemburgo está o Memorial aos Judeus Mortos da Europa , um conjunto de blocos de cimento, que nos fazem lembrar sepulturas anónimas e nos devem levar a refletir sobre o que terá sido o Holocausto e não caia no esquecimento, para que não se volte a repetir algo semelhante. Projetado por Peter Eisenman, o monumento foi inaugurado no dia 10 de maio de 2005.
Do outro lado da rua está o Großer Tiergarten, o maior e mais antigo parque de Berlim, que não tivemos tempo para explorar.
Espaços verdes em Berlim
Em Berlim há muitos parques verdes e centenas de pequenos cemitérios espalhados pela cidade, como os cemitérios St. Marien und St. Nikolaifriedhof Friedhof I e II, interceptados a meio pela rua Prenzlauer Berg. Nas redondezas fica o Volkspark Friedrichshain, por onde também me demorei.
Onde comer em Berlim
Em Berlim há uma grande variedade de opções gastronómicas, do mais simples ao mais criativo. A cidade conta com 21 restaurantes com estrelas Michelin, onde se destaca o Rutz como sendo o único com três estrelas e uma estrela Michelin Verde. O Nobelhart & Schmutzig também foi distinguido com a classificação Verde e é um dos 50 melhores restaurantes do mundo (43º lugar). O restaurante Tim Raue consta igualmente nessa lista (30ª posição), cujo chefe irá abrir um novo espaço em 2025, o Sphere, na alta Torre de TV de Berlim.
Nós optámos por restaurantes mais característicos e históricos da cidade, como o Hackescher Hof, e o restaurante central do Hackescher Höfe, com vista para o Hackescher Markt. No Hackescher Hof, o salão Art Déco vai tendo várias vidas ao longo do dia com menus de pequeno-almoço, almoço, jantar e sazonal. Começa como um café e termina a noite como uma Brasserie.
Para beber uma cerveja e almoçar fomos ao restaurante Lindenbräu, uma cervejaria localizada no centro da Potsdamer Platz. Ambiente descontraído com diferentes espaços, como o Jardim da Cerveja, o Lobby da Cerveja e o salão alpino, com iguarias austríacas.
Na despedida de Berlim, fomos almoçar ao restaurante Zur Last Instance, um dos mais antigos da cidade, aberto desde 1924. Por aqui passaram nomes ilustres, como Jack Nicholson, Jacques Chirac, Henny Porten, Charly Chaplin, Jake Gyllenhaal, Loriot, Clara Zetkin ou Heinrich Zille. Duas salas aconchegantes são o local ideal para apreciar os sabores dos clássicos da casa, como o joelho grelhado, com xarope de malte e couve roxa temperada.
O tempo passou a voar e já é hora de regressar a casa. Duas noites é muito pouco para tanta coisa. Dá apenas para ter uma pequena amostra de uma cidade marcada por mais de 700 anos de história e um presente bastante dinâmico e criativo. Que assim se mantenha por muitos e longos anos de liberdade. Voltarei com mais tempo, com certeza! Quem sabe, no próximo ano e em família.