Altitude, frescura, potencial de guarda. Portalegre é um Alentejo à parte?

Há 20 anos, Rui Reguinga deu prioridade à compra de vinhas velhas, algumas centenárias, na Serra de São Mamede, distrito de Portalegre, e à vinificação das uvas. Só em 2021 abre as portas da Adega Terrenus, no concelho de Marvão. 

Os tons mil de verde tomam conta da paisagem do Parque Natural da Serra de São Mamede. No centro desta joia da coroa do distrito de Portalegre, com mais de 56 mil hectares densamente partilhados por carvalhos, sobreiros, castanheiros, azinheiras, oliveiras, está a Adega Terrenus. Trata-se do ponto de encontro com o projecto vitivinícola pessoal do produtor e enólogo Rui Reguinga, localizado na freguesia de São Salvador da Aramenha, no concelho de Marvão.

Depois de contemplar os esquissos do tempo da vizinha Cidade de Ammaia, construção romana que remonta ao século I d.C., são dadas as boas-vindas na adega e espaço de enoturismo de Rui Reguinga. O edifício foi um armazém de café, a partir do qual se fazia contrabando para Espanha, e uma mercearia, da qual são originais o balcão e o armário, peças recuperadas e transformados em montra das referências vínicas e do azeite do produtor, bem como de objectos de outrora, desde 2021.

Natural de Almeirim, concelho ribatejano abrangido pela actual Região Vitivinícola do Tejo, Rui Reguinga fez a primeira vindima em 1991, na Tapada do Chaves, no concelho de Portalegre. Com o tempo, aumenta a paixão pela sub-região de Portalegre, pertencente à Região Vitivinícola do Alentejo. “O potencial desta serra é a guarda dos vinhos”, justifica o produtor quando lhe perguntam a razão pela qual elege Portalegre e, em particular, a Serra de São Mamede. Além disso, “a altitude vai ser um factor diferenciador nos vinhos”, acrescenta o produtor, que destaca a frescura de cada uma das referências em prova. “Nunca estou preocupado se os meus vinhos têm muito álcool”, porque “álcool é o equilíbrio dos vinhos”, sublinha o produtor em contraciclo com as o que, hoje, chamamos de “tendência”. 

A Serra de São Mamede e os muros das vinhas

Em 2004, estreia-se em nome próprio, com a produção da colheita Terrenus Reserva Vinhas Velhas tinto. Este field blend (as vinhas tem as castas misturadas) é feito a partir de 12 castas tintas vindimadas em vinhas muito velhas, delimitadas por muros em pedra. A idade média destas plantas varia entre os 90 e os 100 anos, e a matéria-prima é utilizada na produção do Terrenus Reserva tinto, também dos anos de 2007, 2009, 2011, 2012, 2013, 2015 e 2017 – este último está no mercado. Para 2025, está guardada a apresentação, ao mercado, do Terrenus Reserva Vinhas Velhas tinto 2018.

Um ano depois, ou seja, em 2005, Rui Reguinga compra a Vinha da Serra constituída por terraços e com vista para a Serra de São Mamede. Mas não sem antes fazer vinificações com as uvas colhidas nesta vinha, em relação à qual verificou que “tinha muito potencial para brancos”, também por causa da localização. “Aqui, no topo da vinha, estamos a 770 metro de altitude”, declara o produtor e enólogo ribatejano a respeito desta vinha com cerca 100 anos. “O antigo dono tinha 90 anos e já contava que vinha para aqui brincar quanto era criança”, justifica. Terrenus Clos dos Muros branco 2022 é a boa nova feita a partir das uvas brancas aqui colhidas, entre as quais estão Arinto, Fernão Pires,Bical, Roupeiro, Malvasia e Tamarez.

Em 2015, adquire a última vinha, a Vinha Clos dos Muros, de aproximadamente 0,7 hectares, “com 120 anos. Deve ser a vinha mais velha do Alentejo”, afirma o produtor, que das uvas brancas fez os novos Terrenus Clos dos Muros tinto 2021. As castas deste vinho são, entre outras, Grand Noir, Trincadeira, Aragonez, Alfrocheiro, Moreto,Castelão, Alicante Bouschet e Corropio. 

Há ainda a questão da produção de uva, uma vez que Rui Reguinga obtém dois cachos por cepa, o que resulta em 400 gramas por cepa. Este factor é determinante para se conseguir a “concentração natural” de cada cacho. “É uma carolice, mas prefiro manter esta identidade.”

Boas novas com destaque em almoço

As duas novidades foram feitas a partir de uvas vinificadas na Adega Terrenus, onde cubas, ânforas e ovos em betão são objeto das constantes de experiências levadas a sério por Rui Reguinga e “para poder diversificar a vinificação”. Já no copo na Adega Terrenus fizeram companhia aos pratos preparados pelo chef José Júlio Vintém, do restaurante Tombalobos, situado no centro da cidade de Portalegre. Os cogumelos amanitas cesareas foram panados e os ovos-de-rei foram finamente cortados em fatias, carpaccio de carne Kobe.

A perdiz do Tombalobos não pôde faltar, nem as famosas pétalas de toucinho. Queijo fresco de cabra, enchidos e tomate de inverno tornaram a refeição ainda mais generosa, bem como o chambão com boletos e castanhas. Boleima de maçã de Portalegre, Fartes e bolo de chocolate deliciaram os gulosos.

Tal como os vinhos de Rui Reguinga, a ida à Vinha da Serra e à Vinha Clos dos Muros merece tempo. A viagem pode ser conduzida pela Old School, empresa de viagens turísticas sediada em Marvão, com lugar reservado num UMM, nome da emblemática marca nacional fabricante de veículos 4×4.

A Adega Terrenus está de portas abertas durante a semana, das 09h00 às 18h00, mas impera a reserva para visitas e provas, com visita à adega. Disponíveis estão a Prova Clássica (€25), com degustação de quatro referências: Terrenus branco, Terrenus tinto, Terrenus Reserva branco e Terrenus Reserva tinto. Em alternativa, há a Prova Premium (€50), que inclui Terrenus Reserva branco, Terrenus Reserva tinto, Terrenus Vinha da Serra branco e Terrenus Clos dos Muros tinto.

Brindemos!

Terrenus
© Fotografias: D.R.

Já recebe a Mutante por e-mail? Subscreva aqui