Educação

“Um homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.”
Immanuel Kant

Immanuel Kant nasceu a 22 de abril de 1724. Natural de Königsberg, cidade pertencente ao Reino da Prússia, atualmente um enclave russo de nome Kaliningrado, Kant foi um dos filósofos mais influentes da filosofia ocidental moderna.
Com 16 anos, ingressou no curso de Teologia na Universidade de Königsberg, tendo aprofundado muito os conhecimentos em Filosofia.
Em 1746, passou a trabalhar como preceptor de filhos das famílias abastadas da sua cidade natal, o que lhe permitiu integrar-se no meio intelectual de Königsberg. Esta ligação deu-lhe oportunidade de integrar a Real Academia das Ciências de Berlim, destacando-se devido à sua inteligência acima da média, além de que era um homem muito sociável, tendo como hábito receber convidados em casa.
No ano de 1754, doutorou-se em Filosofia, na Universidade de Königsberg, passando a lecionar esta disciplina na mesma instituição de ensino. Dezasseis anos mais tarde, integrou a cátedra de Lógica e Metafísica da referida universidade, cargo que ocupou até à data da sua morte, a 12 de fevereiro de 1804, com 79 anos.
Em 1781, publica a primeira edição daquela que se tornou a sua obra mais conhecida “A Crítica da Razão Pura”. Já em 1787, publicou a segunda edição, com alterações importantes no conteúdo.
Ao longo da vida, escreveu muitas outras obras. Graças à fama e reputação que alcançou, frases e expressões ficaram na memória de leitores e seguidores. Uma destas foi “O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.”
À semelhança de outras citações, tanto de Kant, como de todos os outros autores, esta poderá ter várias interpretações, dependendo do ponto de vista e do objetivo de quem reflete e como reflete ao lê-la, bem como dos seus conhecimentos e instrução.

O propósito da educação é mostrar às pessoas como aprender por si próprias.
O outro conceito de educação é a doutrinação.

Os nossos primeiros anos de vida marcam profundamente a nossa vida futura, não só por aquilo que aprendemos, mas também por todas as experiências que possamos ter. O nosso processo de aprendizagem começa a partir do momento em que saímos da barriga da nossa mãe. Este é um processo longo, que decorrerá até à data da nossa morte. Podemos definir alguns objetivos, os quais nos distinguem dos restantes animais, os irracionais. Nós conseguimos andar sobre duas “patas” – os pés -, utilizamos uma linguagem, não só falada, como também escrita, através de símbolos. Em Portugal, aos seis anos, entramos para o primeiro ano da escola primária, onde as principais competências que desenvolvemos são a aprendizagem da leitura, da escrita, do cálculo mental e… algo tão importante como a capacidade de pensarmos pelo nosso próprio cérebro. Como escreveu Noam Chomsky, filósofo e escritor norte-americano: “O propósito da educação é mostrar às pessoas como aprender por si próprias. O outro conceito de educação é a doutrinação.”

Uma boa educação permite-nos enfrentar o mundo como o conhecemos, não nos bastando saber ler ou ver notícias, mas também saber como e onde procurar a informação, pois há muita disponível.
Desde cedo, nos testes de português do primeiro ciclo, respondemos a perguntas de interpretação textual. Mas, e se nos perguntássemos qual é a razão pela qual isso acontece? Em teoria, para nos ensinar ou, melhor dizendo, mostrar-nos como aprender a interpretar, analisar e criticar.
Todavia, como muitos filósofos salientam, tal como o acima referido Noam Chomsky, ou mesmo Kant, existe uma linha entre educação e doutrina. A educação faz parte da razão de sermos seres humanos e não meros seres vivos, que se limitam a sobreviver, vulgo alimentar-se, dormir e reproduzir-se. Já a doutrina, ensina-os a estarmos de acordo com a norma instituída. Qualquer indivíduo que faça algo considerado “anormal” arrisca-se a ser excluído socialmente. Esta pressão social exercida não só pelos nossos pares, como pelos políticos, pelos nossos pais, pelos nossos professores, ou seja, pelas pessoas que exercem algum tipo de influência sobre nós, impede os indivíduos de pensar de maneira diferente, de se manifestarem, deixando de existir a tão adorada liberdade de expressão. Voltando à escola, os nossos professores primários acabam por exercer um papel fundamental nessa distinção entre os que se tornam seres reflexivos e os que se tornam apenas recetivos ao que lhes é incutido.

Avançando no percurso escolar, chegam o segundo e o terceiro ciclos, uma aproximação ao secundário. Neste momento, os alunos passam a contar com vários professores, o que resulta numa maior variedade de pontos de vista aos quais estão submetidos, o que acaba por ser benéfico, pois desperta o espírito crítico, visto que alguns temas são abordados em mais que uma disciplina, o que demonstra que não existem somente os pontos de vista e o conhecimento do(a) professor(a) primário(a) e dos pais. No secundário, o número de disciplinas diminui. Uma das novidades é a Filosofia. O português passa a partilhar com esta nova disciplina a oportunidade de, durante o processo escolar, proceder-se ao desenvolvimento do espírito crítico, pelo menos em teoria. Visto que os alunos somam já 15 anos, é mais difícil desafiar os alunos a refletir sobre a sua mentalidade (ou doutrina), pois está já instalada no cérebro. Entretanto, atinge-se a chamada maioridade, aos 18 anos. Com esta, surgem novas responsabilidades, sendo necessária muito mais maturidade do que até então. Os que ainda não estão preparados para este desafio, ficam mais suscetíveis quanto à tomada de más decisões, não excluindo o facto de que todos podemos incorrer nestas situações. Porém, o problema não reside, na totalidade, no cerne de quem não é capaz de recorrer ao pensamento reflexivo – não querendo desculpar ninguém pela inadequação dos seus atos – pois o método de ensino ao qual foram sujeitos pode não ter sido o melhor, tanto em casa, como na escola, ou mesmo por parte dos pares.
Alguns destes erros podem ser mais graves e, consequentemente, marcantes, como a toxicodependência, ou relativamente mais simples, como a escolha entre o ensino regular e o ensino profissional, além das variadas áreas dentro de ambos. Por menos importância que lhe possamos dar, esta decisão é determinante para o futuro do jovem: o caso agrava-se quando são os pais a levar os filhos a tomar uma má decisão, ou quando são eles próprios a tomá-la, o que poderá vir a revelar-se um aspeto muito negativo na futura vida do jovem, sendo que, neste caso, este não tem responsabilidade pela escolha.

Posto isto, podemos perguntar-nos “Que seria de nós se não tivéssemos uma boa educação?”. Afinal, é a educação que define a nossa personalidade, “ajudando-nos a chegar ao nosso cerne mais profundo”, como defendia Immanuel Kant, para quem “Um homem não é nada além daquilo que a educação faz dele.”.

Ilustração: Martim Oliveira