Os solos graníticos, a altitude e o clima de montanha, traduzido pela expressão maior da serra da Estrela, caracterizam grandemente a produção na vinha e na adega desta casa pertencente à região do Dão.

O enólogo Paulo Nunes é, desde 2008, enólogo de corpo e alma na Casa da Passarella, propriedade vitivinícola com mais de 130 anos de historia, no Dão
Com mais de 130 anos de história, a Casa da Passarella, localizada em Lagarinhos, no município de Gouveia, na sub-região da Serra da Estrela, preserva a tradição inerente à cultura vitivinícola. “É assim que se fazem os vinhos, a partir do conhecimento do vinho”, reforça Paulo Nunes, para quem as castas autóctones da região do Dão permaneçam vivas nas sete vinhas desta propriedade centenária, cujo portefólio soma três novas referências “de grande responsabilidade”.

A colheita de 2021 de Uva-Cão marca a estreia desta casta branca autóctone do Dão ao lado da célebre Encruzado, variedade de uva estrela da região
É o caso da variedade de uva branca rainha do Dão, a eleita para o Villa Oliveira Encruzado 2022 (€51,50), a qual é vindimada em diferentes parcelas da Casa da Passarella. O processo de vinificação das uvas desta casta segue a tradição, em que a fermentação da matéria-prima é feita em contacto pelicular. Segundo o enólogo, “o perfil desta referência tem um ADN muito clássico”. Já a acidez promete longevidade. “É um vinho que eu quero para daqui a 10 ou 20 anos”, justifica Paulo Nunes.
Do território vitivinícola do Dão, onde os solos graníticos, a altitude e o clima de montanha são factores preponderantes para a produção vínica, o enólogo destaca uma casta branca quase extinta, a Uva-Cão. Sobre esta variedade de uva autóctone da referida região, plantada, em tempos idos, em redor da vinha, para evitar o decréscimo do rendimento da mesma causada por animais gulosos, Paulo Nunes enaltece o trabalho de viticultura iniciado em 2012, nas vinhas velhas da Casa da Passarella, com o propósito de reforçar a aposta nesta casta branca. Esta ação determina a plantação de uma vinha de Uva-Cão dois anos depois, em 2014. Em paralelo, é plantado um hectare de vinha constituído por clones desta casta. O objetivo de Paulo Nunes consiste em verificar quais os mais viáveis face às condições edafoclimáticas (clima e solo) que influenciam a propriedade, no sentido de se preparar para o futuro.
Deste trabalho em contínuo, o enólogo conta, no portefólio, com dois vinhos feitos a partir de vinhas velhas e da vinha mais recente de Uva-Cão. Tratam-se de duas colheitas Fugitivo Uva-Cão, uma de 2018 e outra de 2020. Segue-se, agora, a terceira, o Villa Oliveira Uva-Cão 2021 (€60). A diferença entre as duas referências e esta última colheita incide nos procedimentos inerentes ao final de fermentação e ao envelhecimento deste Villa Oliveira, visto este que foi distribuído, em partes iguais, em cuba de cimento e em barrica. O resultado traduz-se num vinho que comprova a acidez marcante da Uva-Cão, atributo indicativo de longevidade da colheita de 2021. Para Paulo Nunes, esta apresenta “um lado neutro muito subtil, que me agrada particularmente e favorece muito a Uva-Cão”, a respeito da qual assume como uma das “castas do futuro”, a par com a variedade de uva tinta Baga.

2014 é a colheita que marca a terceira edição do já irónico Casa da Passarella Vindima tinto
Do Villa Oliveira é feita a passagem para a estrela do dia, o Casa da Passarella Vindima tinto 2014 (€285). Na lista de produção desta referência constam castas autóctones da região, como a Baga, da Vinha do Quintal, a Jaen, da Vinha das Pedras Altas, e a Touriga Nacional, da Vinha das Dualhas. Após a vindima, as uvas permanecem no lagar de granito até atingirem a fermentação espontânea. Chegada esta fase, a manta é mergulhada, duas vezes ao dia, com o auxílio da tranca (utensílio comprido em madeira), por respeito ao saber empírico, que dá razões de sobra para se manter preservado na Casa da Passarella.
Já em relação ao estágio de 24 meses em tonel, Paulo Nunes destaca os invernos rigorosos registados na serra da Estrela, factor que permite a estabilização natural do vinho, uma mais-valia para a qualidade do produto final. Ou não fosse esta mais uma colheita que comprova a longevidade dos vinhos Casa da Passarella, um legado de vinhas velhas, que compensa o tempo de espera escrito pela história. Afinal, só ao fim de quase 11 anos, o Casa da Passarella Vindima tinto 2014 é colocado à venda no mercado.
Brindemos!