“Como Se Matam Primaveras” é o nome do segundo álbum do açoriano Filipe Furtado e editado no passado dia 30 de maio. O novo trabalho sedimenta o formato trio junto dos músicos Filipe Fidalgo (saxofone) e Paulo Silva (bateria). Segue-se ao muito bem recebido “Prelúdio” (de 2022), não baixado a bitola, mas sim elevando-a.
Na passagem pelos muitos palcos desde da estreia de “Prelúdio” (Marca Pistola, 2022) e nos novos processos de escrita e composição, gradualmente, foram deixando a guitarra em segundo plano, para que o piano e os teclados continuassem esse universo que o single “Uma Coisa Linda Morrer” prometia.
O single de apresentação “Ada” é cantada a duas vozes na companhia de Ana Maria Pardal, que sabe navegar naturalmente essa intemporalidade dos timbres da tradição popular. O dueto é uma leitura musical sobre o romance de Vladimir Nabokov. A excepção que confirma a regra, um álbum que abraça deliberadamente os desvios e as ramificações instrumentais, aqui entregue a uma balada sem estradas paralelas ou desvios da canção. Um single que nos embala e vicia, um álbum que cremos que irá conquistar, novamente, ouvidos sequiosos de jazz novo.
Os temas do novo disco abraçam sem medo o espaço, cada vez maior e assertivo, entre as letras e instrumentais do trio. As influências do jazz e do cancioneiro tradicional imiscuem-se nos universos indie e bebem de referências mais cinematográficas. Importa a viagem e cada um dos seus portos de abrigo.
Gravado entre Lisboa e Coimbra, nos estúdios da Escola Superior de Música e da Blue House, este compêndio de novas canções envolve a relação umbilical e musical com Alexandre Furtado, irmão mais novo e conhecedor íntimo dos primeiros esboços das composições, que assume a captação, mistura, masterização e assina a produção do álbum.
Filipe Furtado Trio é uma formação que parte da canção para explorar territórios de improvisação, influências jazzísticas e sonoridades contemporâneas. Com raízes em Coimbra, o trio afirma-se como um espaço de criação colectiva, onde as composições ganham corpo através do diálogo entre piano, saxofone e bateria. Ao vivo o grupo ganha com a electrónica e voz.
O projecto nasce em 2022, a partir do repertório autoral de Filipe Furtado — músico e compositor açoriano radicado em Coimbra desde 2010 — e do encontro com Paulo Silva (bateria e parte integrante do projecto desde 2018, quando ainda se traçava as primeiras experiências em estúdio) e Filipe Fidalgo (saxofone, voz e electrónica), músicos com ampla experiência no jazz e em múltiplos universos musicais. Ao longo do demorado trabalho, o trio foi consolidando uma linguagem própria, abraçando as várias camadas da música instrumental e improvisada.
Embora alguns temas do álbum Prelúdio (2022) — lançado por Filipe Furtado a solo e gravado nos estúdios da Blue House com o selo da editora açoriana Marca Pistola — integrem o repertório do grupo, o trabalho do trio tem vindo a expandir esse universo, através de novas composições e da reinvenção contínua do que já foi escrito. É neste espírito de re-descoberta permanente que os músicos têm vindo a apresentar-se ao vivo, com destaque para os palcos do Festival Tremor, Cistermúsica, as primeiras partes de Jay-Jay Johanson no Porto e em Coimbra, e, mais recentemente, como finalistas do Festival Termómetro 2024, no Capitólio.
A ter de ouvir, em todas as estações do ano – Filipe Furtado Trio. Caso esteja por Coimbra no próximo dia 24 de junho, pelas 21h30, o trio sobe ao Palco Carlos Paredes, na Praça do Comércio, no âmbito da Feira do Livro de Coimbra. •