Guimarães Jazz’ 25

Festival reconhecido pela sua longevidade e filosofia, em 2025 o Guimarães Jazz volta a assumir-se como um espaço de liberdade criativa, onde o jazz serve de ponto de partida para uma celebração da diversidade musical. Mantendo a identidade que determinou o seu sucesso, na sua 34.ª edição aquele que é considerado um dos festivais mais importantes do país volta a equilibrar tradição e inovação e a ser marcado pela diversidade estilística, geográfica e geracional do seu programa.

De 06 a 15 de novembro, não faltarão motivos para rumar a Guimarães e viver a cidade que nestes dias será contagiada pelo jazz encarnado por nomes como Immanuel Wilkins, Maria João e Orquestra de Guimarães, Fred Hersch, Mark Turner, Craig Taborn, Tomeka Reid e Ches Smith, Danilo Pérez com Bohuslän Big Band, André Carvalho, Alex Hitchcock, entre muitos outros.

De acordo com Ivo Martins, diretor artístico do Guimarães Jazz: “Toda a música, e especificamente o jazz tendo em conta as suas características próprias, é um espaço de abertura para a singularidade expressada pelo músico, vinculando-nos assim a uma visão pessoal da realidade. Assim sendo, é o nosso dever enquanto agentes culturais organizadores de um festival privilegiar o conhecimento da maior diversidade possível de mundivisões, ou seja, de estilos e linguagens musicais, porque só assim poderemos alcançar uma compreensão minimamente inteligível das nossas audições no contexto de um mundo instável e em fase de projeto.”.

Ao longo do seu tempo de existência – 34 anos cumpridos este ano –, o Guimarães Jazz tem sempre tentado manter-se fiel a este princípio de programação e, por isso também, a sua atuação foi sempre pautada pela contenção discursiva e pela tentativa consistente de evitar classificações rígidas que apenas prejudicam a música. Sobretudo no momento de polarização em que se vive, a desaceleração retórica afigura-se um imperativo ainda mais urgente para a realização desse objetivo de abertura. Isto significa, no fundo, focar na essência do papel deste festival enquanto divulgador da história passada e presente do jazz, tentando simultaneamente sublimar o que de mais valioso o passado tem para nos oferecer e destacar o que, no momento atual, os músicos tentam construir para o futuro. Em 2025, o Guimarães Jazz volta a abraçar este exigente desafio e apresenta, uma vez mais, um elenco de músicos e projetos que deverão encaixar nesta filosofia e dignificar o festival e o seu público.

O primeiro e o segundo concertos da programação oficial do festival serão marcados pela presença da voz por via de dois projetos protagonizados por músicos muito distintos estilística e geracionalmente, mas que partilham uma dimensão elegíaca das raízes musicais do jazz. No primeiro caso, trata-se de “Blues Blood”, o mais recente trabalho criativo de Immanuel Wilkins (06 novembro), um compositor e saxofonista ainda muito jovem, mas que é já um dos nomes mais destacados da sua geração a operar no circuito jazzístico, que neste concerto se apresentará acompanhado de uma formação expandida pela contribuição de três vocalistas com o propósito de homenagear a tradição musical afro-americana. A segunda noite, por seu turno, marcará o regresso, vinte anos depois, ao Guimarães Jazz de Maria João (07 novembro), uma das figuras mais carismáticas e influentes do jazz português e que, nesta edição do festival, celebrará, apoiada pela sua banda, por um coro de vozes e pela Orquestra de Guimarães, 40 anos de carreira com um novo projeto (“Abundância”) em que retorna às suas raízes africanas. O concerto de encerramento do primeiro fim de semana do festival trará pela primeira vez a este palco o trio de Fred Hersch (08 novembro), um pianista incontornável do jazz contemporâneo, com uma obra multifacetada e desafiante, que aqui se apresentará acompanhado por dois excelentes instrumentistas para uma atuação que se espera ao mais alto nível do cânone jazzístico. 

O piano é, a par da voz, uma das presenças fortes desta edição do Guimarães Jazz. A responsabilidade da abertura do segundo fim de semana caberá, porém, a um quinteto formado por um naipe notável de músicos e liderado por um grande saxofonista, Mark Turner (13 novembro), cujo trajeto na música ao longo das últimas três décadas, em nome próprio e como colaborador de grandes nomes do jazz, merece novo destaque e o reconhecimento do público. As duas noites seguintes serão, essas sim, preenchidas pela música de dois projetos ancorados em pressupostos radicalmente divergentes, mas em que os pianistas assumem igual protagonismo. A 14 de novembro teremos um concerto de um trio composto por Craig TabornTomeka Reid e Ches Smith, três músicos de exceção operantes nos territórios intersticiais de abertura do jazz às tendências contemporâneas de hibridismo musical, e que aqui se encontram num afluente invulgar e desafiante de piano, violoncelo e bateria. O encerramento do Guimarães Jazz assistirá a mais um regresso ao festival, neste caso o do multipremiado pianista panamiano Danilo Pérez (15 novembro), um músico e compositor com um percurso de grande prestígio no jazz, o qual surgirá acompanhado na interpretação das suas composições por uma orquestra histórica da Suécia, a Bohuslän Big Band, concluindo assim este ciclo anual de concertos com a fusão harmoniosa de classicismo e exotismo musical que carateriza a obra de Pérez.

Em paralelo à programação do grande auditório do Centro Cultural Vila Flor, a 34ª edição do Guimarães Jazz apresenta, tal como tem acontecido ao longo dos anos, vários concertos de perfil adaptado ao auditório secundário, nomeadamente aqueles que resultam das parcerias do festival com várias instituições e coletivos com um trabalho de relevo no âmbito da música contemporânea em Portugal. No primeiro sábado do festival, 8 de novembro, haverá uma sessão dupla: no primeiro momento terá lugar a atuação do Hugo Santos 5tet, o grupo vencedor do Concurso Internacional de Jazz promovido pela Centro de Estudos de Jazz da Universidade de Aveiro, dedicado à promoção do trabalho de jovens músicos no início do seu percurso profissional na música; a seguir apresentar-se-á o projeto “Of Fragility and Impermanence” liderado pelo contrabaixista André Carvalho e que reúne um naipe de músicos importantes do jazz português atual. O domingo do primeiro fim de semana, 9 de novembro, será ocupado pelo espetáculo proposto pela associação Porta-Jazz, que desta vez terá como protagonistas os quatro músicos e um diseur de um quinteto internacional liderado pela jovem pianista Clara Lacerda e que, como habitualmente, se centrará no cruzamento interdisciplinar do jazz com outras artes – este ano esse eixo extramusical é a literatura, manifestado pela presença da voz e poesia de Vasco Gato. A fechar o capítulo de parcerias do festival, a Sonoscopia apresentará durante a tarde do último dia do Guimarães Jazz, 15 de novembro, o Trio Kvelvane-Østvang-Vermeulen, uma formação recente composta por três músicos oriundos de duas das mais dinâmicas cenas de improvisação livre europeia – a Noruega e a Bélgica – que serão nesta edição os representantes dos idiomas de experimentação que constituem um dos vetores criativos fundamentais da música contemporânea.

A fechar, uma nota final de atenção para o grupo que este ano terá a responsabilidade de liderar as tradicionais jam sessions e as oficinas de jazz que acompanham todo o festival e constituem uma das suas fontes principais de vitalidade. O Alex Hitchcock Quintet, liderado por um saxofonista britânico sedeado em Nova Iorque, é formado por um grupo eclético de jovens músicos com uma experiência já relevante no circuito jazzístico internacional e, tal como habitualmente, além das referidas atividades paralelas, subirá a palco para dois concertos, respetivamente em nome próprio com o seu quinteto (15 novembro) e em conjunto com a Orquestra de Jazz da ESMAE (9 novembro), espetáculo no qual se apresentarão os resultados do trabalho em residência com os alunos desta instituição de ensino na interpretação das composições de Alex Hitchcock.

Programa da 34.ª Edição:
06/11, 21h30 – Immanuel Wilkins / Blues Blood. CCVF / Grande Auditório Francisca Abreu.

07/11, 21h30 – Maria João e Orquestra de Guimarães / Abundância – Celebração de 40 anos de Carreira. CCVF / Grande Auditório Francisca Abreu.

08/11, 16h00 – Projeto Centro de Estudos de Jazz Univ. Aveiro / Guimarães Jazz / Hugo Santos 5tet. CCVF / Pequeno Auditório.

08/11, 18h00 – André Carvalho / Of Fragility and Impermanence. CCVF / Pequeno Auditório.

08/11, 21h30 – Fred Hersh Trio. CCVF / Grande Auditório Francisca Abreu.

09/11, 17h00 – Projeto Orquestra de Jazz da ESMAE / Guimarães Jazz   dirigida por Alex Hitchcock Quintet. CCVF / Grande Auditório Francisca Abreu.

09/11, 21h30 – Projeto Porta-Jazz / Guimarães Jazz. CIAJG / Black Box.

13/11, 21H30 – Mark Turner Quintet. CCVF / Grande Auditório Francisca Abreu. 

14/11, 21h30 – Craig Taborn, Tomeka Reid e Ches Smith. CCVF / Grande Auditório Francisca Abreu.

15/11, 16h00 – Projeto Sonoscopia / Guimarães Jazz / Trio Kvelvane – Østvang – Vermeulen. CCVF / Pequeno Auditório.

15/11, 18h00 – Alex Hitchcock Quintet. CCVF / Pequeno Auditório.

15/11, 21h30 – Danilo Pérez com Bohuslän Big Band. CCVF / Grande Auditório Francisca Abreu.

Actividades Paralelas
06 a 08/11, 23h59-02h00  – Jam Sessions / Alex Hitchcock Quintet. Convívio.

11 a 14/11, 14h30-18h00 – Oficinas de Jazz / Alex Hitchcock Quintet. CCVF.

13 a 15/11, 23h59-02h00  – Jam Sessions / Alex Hitchcock Quintet. CCVF / Café Concerto.

A tomar nota de tudo. A não perder uma nota nem um improviso, em Guimarães, no próximo mês de novembro. Um festival que há muito se tornou obrigatório e uma referência no nosso panorama musical. •

+ CCVF
© Fotografia de destaque: Mark Turner, DR.

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