Preparando-se para subir a palcos de terras de cá, acedemos à proposta de Herbert Diener para trocar umas notas breves com os Pink Opake (São Paulo, Brasil) e tentar despertar ouvidos mais curiosos para sonoridades Punk que nos chegam directamente do outro lado do Atlântico.
Os Pink Opake nascem em 2022 pela mão de Tatiana Meyer (voz e synths) e Paulo Beto (programações, synths e guitarras). Dois veteranos da cultura brasileira que criam “Matéria”, o primeiro álbum de originais de Pink Opake. Hoje, encontrando-se já a gravar um novo trabalho de originais, temos de juntar à equação Mari Crestani (baixo e saxofone), novo parceiro Pink Opake.
Com um oceano pelo meio, eis umas notas breves trocadas com Paulo Beto (PB) para tentar deslindar, ao de leve, um pouco da banda. Quem são, então, os Pink Opake que se apresentam, este verão, em Portugal?
De onde vem a ideia para darem, ao vosso projecto, o nome de Pink Opake? O que se esconde por detrás deste nome?
PB: Somos, eu e Tati, apaixonados por Cocteau Twins. Tive essa ideia, para nome ao nosso projeto, que se refere a uma famosa coletânea da banda do selo 4AD para que a Tati ficasse alegre e motivada. É algo que amamos ouvir juntos. Só que inventámos um jeito diferente de escrever, para que não houvesse confusões com o original.
Como apresentarias a Tatiana que tanto querias que ficasse feliz e motivada?
PB: Tatiana é o amor de minha vida. Temos muito em comum na vida e na música. A voz de Tatiana é algo que acho muito lindo. É uma pessoa com quem eu tenho para amar para o resto de minha vida.
Como se cruzam os vossos caminhos a ponto desse cruzamento dar origem a uma banda já afirmada no Brasil e que agora começa a conquistar o seu lugar, por cá?
PB: A Tati tinha um programa de rádio online chamado CºLD que eu ouvia e curtia muito. O destino traçou o nosso encontro na vida real e descobrimos-nos para além de grande amigos. Aos pouco fui integrando a Tati no meu projeto chamado Anvil FX até que decidimos experimentar uma música nossa, em particular, e criámos o Pink Opake como uma experiência paralela.
Na busca por dados sobre a vossa música, deparamos-nos como chavões como “procuram o peculiar, o fora da caixa, melodias dissonantes e harmonias combinando timbres noisy, ritmos pulsantes e guitarras não óbvias, reminiscentes do estilo pós-punk” e na lírica “temas que incomodam e urgentes, como os direitos humanos e os autoritarismos“.
Posto isto, podemos dizer que a vossa essência é Punk pelo modo de estar na vida?
PB: Sim, o Punk é o que nos define. Artisticamente, buscamos uma forma menos óbvia de ser Punk.
O álbum de estreia que está aí para ser ouvido: “Matéria”, com oito músicas espelho da sonoridade que vos caracteriza e gravado no vosso home studio, em São Paulo.
Como vêem, hoje, uma certa “preferência” por gravar nos designados home studios? Fruto das novas tecnologias e a democratização do acesso à criação artística?
PB: Para criar nada melhor que o seu próprio ninho. Os registos caseiros estão cada vez mais próximos dos profissionais. A tecnologia tem dado, cada vez mais, recursos facilitados e certamente isso é bastante democrático e socialmente inclusivo. Na hora de masterizar eu busco um amigo profissional.
“Matéria”. Um álbum necessário na atualidade? O que é “Matéria” para os Pink Opake?
PB: Matéria é um álbum que só aconteceria hoje. Uma mistura de amor, protesto e maturidade. Mais comum de se ver jovens gritando por atenção e reclamando por sentimentos e necessidades.
Tentando dar um twist nestas notas, agarrámos nos títulos de sete das oito músicas para vos desafiar a responder, ou a (des)responder.
Por onde é que “A Luz não passa” e deveria passar?
PB: A maior parte dessa letra foi criação minha. Sem dizer diretamente, ela trata sobre a volta da ameaça do fascismo por meio do obscurantismo. Uma sombra que nos persegue.
“A Pátria é nada”. O que é, então, tudo?
PB: Tatiana encontrou um jeito poético e muito minimalista de dizer que as fronteiras de pátria são conceitos humanos, porque as plantas e a natureza provam que o planeta é nossa casa.
Que “Ilha Urbana” gostavam de reinventar?
PB: A banda que criou essa música, Muzak, convidou-me a criar um remix para um relançamento do trabalho deles marcando com um lançamento em disco a volta deles aos palcos. Fiz o que eles queriam e mais três outras versões diferentes. Duas delas criamos com a voz da Tatiana e acabou entrando no disco.
Qual é para o verdadeiro “Joy Delirium” do momento?
PB: Uma coisa curiosa é que essa música também é uma versão só que de uma antiga banda antiga: os Silverblood. É possível de ouvir no youtube. Foi acrescentado um poema de autoria da vocalista original dos Silverblood. O Joy Delirium seriam as redes sociais na internet?
“Minha Voz Minha Vez”. Que voz é essa?
PB: Em particular, essa é uma voz que grita por direitos mínimos de viver em contrapartida ao Patriarcado. Às vezes, vocalizar é mais importante que ser ouvido. Dizer para não morrer!
A banda Pink Opake está “Pronta” para este lado do Atlântico?
PB: Já nascemos prontos faz décadas!
Que futuros imaginam para os Pink Opake?
PB: Continuar a dizer o que é preciso. Levar a voz que precisa ser ouvida a quem gosta e precisa da mensagem.
O que nunca vos é perguntado e adorariam poder responder?
PB: “Qual a banda mais incrível na sua opinião”? Eu responderia Malaria!
Os Pink Opake têm agendados dois concertos, por cá. A saber: 22/08, 17h00, no Extramuralhas, Jardim Luís de Camões, Leiria; 24/08, 21h00, (com So Dead) no BOTA, em Lisboa.
Com uma atitude desafiadora que aborda temas socio-políticos sem medos e uma música com influências do post punk, coldwave, minimal synth e um travo a experimental, eis as sonoridades que nos chegam do Brasil que vos desafiamos a descobrir, neste verão. O álbum “Matéria” está disponível nas plataformas habituais e é para ser ouvido ao vivo, nos palcos acima mencionados. Alinha? •