Património de Capa Traçada / Coimbra da UNESCO

Folha branca, séculos de história, estórias e vidas para contar. Síntese, suma, resumo, contenção é tudo negação. Método. Discurso. Começar. Acabar. E não ousar tentar. E o que é afinal Património na minha matriz?

Panteão Nacional – Igreja de Santa Cruz

É Universidade, saber que quase se funde, confunde, com a Fundação de Portugal. São as pancadas de um Molière, em 1290, pela pena d’El Rei D. Dinis. É o documento “Scientiae Thesaurus Mirabilis” assinado pelo autor de Cantigas d’Amor. É o século XIII com as Faculdades de Artes, Leis, Cânones e Medicina. É a Universidade mais antiga da nação e das mais antigas a mover-se além fronteiras. É um complexo vário, denso, cheio do material e imaterial. É a língua portuguesa, pátria de Pessoa e nossa. É cultura e saber. É a arquitetura que tudo alberga, guarda e separa. São as Escadas Monumentais que nos tiram o fôlego; é El Rei D. Dinis que nos recebe; é um conjunto arquitetónico moderno retilíneo, racional, de eixos definidos, de uma arquitetura de Estado (Novo). É, à direita, mirar o Colégio de São Jerónimo e o das Artes, seguir e ver o Chimico. É no meio de tanta razão e exatidão tentar acreditar no etéreo, diluindo-nos na Sé, que é Nova. É o desejo travado de encontrar o Cardus e o Decumanus que se cruzam no Machado de Castro, de sua Loggia amante. É recuar sem andar para trás e retomar o eixo moderno, e seguir. É de frente ver a Férrea que é a Porta de encantos, arrepios e saudades… É passar e método, contenção, suma. É inspirar e sentir o Pátio das Escolas, é na Via Latina subir as escadas que quando em miúdos são monumentais na escala, é descer as escadas que quando em graúdos são monumentais no saber. É desejar ouvir a Cabra tocar na sua altaneira torre.

Alta de Coimbra

É ir aos Capelos e pensar nas borlas. É a síntese que quer fugir ao ver D. João III e à porta da Capela fica porque a síntese, fiquem a saber, não é crente nem descrente, mas na Capela diz que não entra. É, para quem os livros são alma, vida e desejo, entrar na Biblioteca Joaninha e ficar em suspenso e recordar Almada a falar “Entrei numa livraria. Pus-me a contar os livros que há para ler e os anos que terei de vida… Não chegam! Não duro nem para metade da livraria! Deve haver certamente outra maneira de se salvar uma pessoa, senão estarei perdido”.
É acenar à Trindade. É deixar a Universidade na toada e é sentir a Alta. É descer sinuosas vielas, é querer ouvir um tunante e desejar sentir uma guitarra. É o nosso Fado… É chegar à Sé. Senhora Velha de nome, velha de idade e Especiosa de Porta. São mais de mil anos, cem serenatas, dez histórias. É descer pelo Largo da Sé e olhar alto a Torre que não nos abandona. É descer sem quebrar, é descer pelo Quebra Costas. É olhar a tricana com o Fado de Coimbra traçado na capa. É passar o Arco d’Almedina e a Barbacã. É descer a Alta que é trama entramada de cantos, recantos e encantos. É, na saudade, sentir Aeminium de outrora, Lusa Atenas de sempre, Coimbra de hoje.

Rua da Sofia e a Alta

É deixar a encosta íngreme e seguir pelo eixo que é Luz e passar Santa Cruz. É parar na Cruz. É saber quem ali dorme sono eterno, quem nos fez portugueses e é continuar o caminho. É entrar, devagar, na Sofia dos Colégios: Boaventura e São Domingos, São Pedro ao lado do da Graça seguido do Carmo e do Espírito Santo… e o das Artes, de outrora, que a Inquisição arrecadou; e um Pombal que todos esvaziou. É a cada passo dado um Colégio acabado, uma lição aprendida de saber e ensino. É, numa contenção dissimulada, a Universidade de Coimbra, a Alta e Rua da Sofia da UNESCO, na cidade de Coimbra.
A (re)visitar para (re)descobrir… •

+ Fotografia de entrada: Pátio das Escolas – Universidade de Coimbra
© Fotografia: Bruno Pires