O convite para um chá é o mais feliz pretexto para contemplar as criações de Anna Westerlund. Na mesa, a delicada composição de peças de cerâmica rematadas por padrões originais e tecidos, que oferecem as cores e o encanto do detalhe a cada objeto, testemunham a feminilidade de um gesto por detrás de uma obra prima exquisite.
A história começa na meninice, com os desenhos, os recortes, as colagens. O fascínio pelos trabalhos manuais. Uma paixão escondida por muitos anos, aquando dos desfiles de moda e do curso de Economia, tempos em que preenchia o pequeno roteiro das viagens pelas capitais da moda com idas a exposições e a lugares fiéis ao artesanato local. Até ao dia em que põe os pés na Ar.Co, em Lisboa, decidida a abraçar a arte numa performance mais criativa, mais escultórica, versatilidade demarcada pela cerâmica. Foi amor à primeira vista.
A dedicação perdura no espaço temporal com a criação de peças ímpares, feitas à mão. O mesmo trabalho e dedicação é repartido com os moldes. “Nada aqui é mecânico”, garante Anna Westerlund, criadora de peças com personalidade, em que cada detalhe demarca a diferença entre os objetos da sua autoria. Imperfeições, diriam muitos. “Não são defeitos, são a personalidade da própria peça”, reforça.
Com razão, dizemos nós. Porque são as mãos que atribuem a forma ao barro, de onde nasce uma chávena, um açucareiro, rematado pela cor suave que o envolve; um prato, uma taça preenchidos por um padrão nascido de um desenho seu de cores aos pares; um bule ou um jarro cuja pega é envolvida, com a delicadeza de um conto de fadas, pelo tecido de cor garrida. Detalhes que definem o gosto “de poder aumentar as possibilidades das paletas de cores e de materiais”. Assim, “sinto que posso brincar todos os dias, no bom sentido”.
Agora é tempo para os preparativos da nova coleção primavera-verão 2014 com a ajuda, uma vez mais, de Ana Oliveira que, apesar da não-formação em cerâmica, mas sim em relações públicas e publicidade, põe também as mãos na massa, “porque sempre quis fazer algo criativo”, confessa Ana, o braço direito de Anna Westerlund no atelier, onde fomos muito bem recebidos.
Porém, o tempo corre pelo ponteiro dos relógios. Por isso, tanto faz estarmos a quatro ou cinco, ou a seis de um qualquer mês do ano.
O certo é que todos os dias o chá é servido à hora, bem quente. Há lugar para mais um? Claro que sim! Dentro de casa ou… à sombra da árvore do jardim. Sejam bem-vindos àquela que poderia ser a história de “Alice no país das maravilhas”. •
+ annawesterlund.com
© Fotografia: Sanda Pagaimo