“E havendo aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu…”
Apocalipse 8:1
Para muitos da dita comunidade cinematográfica de filmes independentes, embora os demais da comunidade mainstream, digam o mesmo, este filme de Ingmar Bergman é considerado um dos melhores filmes de sempre, uma obra prima da sétima arte. De facto o é, e o título 7, e 7.ª a arte, é algo que me deixa curioso. Será o selo a 7.ª arte ou é o filme de Bergman a arte da 7.ª arte. Isto são somente suposições… Enquanto espectador, e sobretudo realizador, estas ideias explodem na minha cabeça.
“O sétimo selo” ou no seu título original “Det sjunde inseglet”, de 1956, é baseado numa peça de teatro que o próprio Bergman escreveu. O filme cujo ambiente de nuances apocalípticas situa-se na idade média, período caracterizado pelo apocalíptico, pela destruição e pelo caos, é conotado pela a epopeia das Cruzadas e da peste negra.
Como anteriormente escrevi a frase de Apocalipse, além de apocalíptico poderemos observar, na visão de Bergman, a revelação da morte, da vida, da religião, do ser humano, do questionar… mas o que importa ressalvar é o termo revelação.
“O sétimo selo” revela uma alegoria, a preto e branco, sobre a busca infinita pelo sentido da vida e da morte num mundo caótico: O mundo do século XIII, devastado pela peste negra.
Antonius Block (Max Von Sydow) regressa das Cruzadas e encontra a sua vila destruída pela doença. A Morte aparece para levá-lo, mas Block recusa-se a morrer sem ter entendido o sentido da vida. Propõe então um jogo de xadrez, numa tentativa de burlar a única certeza que o habita.
Apesar de perder o jogo de xadrez, a Morte continua a perseguí-lo enquanto viaja pela Suécia medieval. Block descobre os aspectos mais repugnantes do fervor religioso: a tortura, a caça às bruxas, o espectro da Morte alimentando-se da fraqueza humana.
O fundamentalismo assassino de hoje é a celebração nefasta do mundo evocado em “O sétimo selo”.
Nas palavras do próprio Bergman sobre o filme, “a ideia de um Deus Cristão tem algo de destrutivo e terrivelmente perigoso. Ele faz emergir um sentimento de risco eminente, e por consequência, traz à luz forças obscuras e destrutivas”.
Um pequeno trecho memorável do filme :
Block: Quem és?
Morte: Sou a Morte.
Block: Vieste buscar-me?
Morte: Ando contigo há muito tempo.
Block: Eu sei.
Morte: Estás preparado?
Este diálogo, no meu ponto de vista, revela todo o filme e todo o cinema de Bergman, o questionar a vida através da morte, o de um cinema nada fácil mas, ao mesmo tempo, humanamente compreensível pois, de facto, o cinema, a 7.ª arte, os cineastas têm o dever de questionar a vida e a morte, e de o mostrar nos seus filmes. Bergman faz isso e muito mais. Os filmes de Bergman levantam imensas questões, mas no cinema o dito cinema normal tem muito de anormal como de nefasto. O mainstream e filmes de fábrica tendem sempre a contar o óbvio, o entretenimento fácil. Para o comum dos espectadores claro que é mais fácil compreender um filme com uma história insípida do que compreender o sentido da vida e questionar a morte. E Bergman fá-lo abertamente sem receios, mostrando todas as fragilidades do ser humano e as suas fragilidades. Bergman, o cineasta frio, metódico e, em contrapartida, sem receio de mostrar e evidenciar a sua visão e questionar-se a si próprio.
Bergman, o selo do cinema normal ou o selo do cinema vérité, do cinema da arte da 7.ª Arte. •