…ou de bulício, que é o que se respira quando se caminha pela capital da Colômbia. Há vida em cada esquina, há arte em movimento, e história a relembrar a razão de ser desta metrópole tão ordenada e simultaneamente tão surpreendente como o tempo, que ali muda de feição num ápice; do sol escaldante à chuva incómoda, num piscar de olhos. Um dia em Bogotá tem um pouco de tudo, um tudo cheio de tanto…
Este B de Bogotá também é de Bolívar. À semelhança das capitais de outros países latino-americanos, o Libertador ocupa o centro de uma praça que ostenta o seu nome. É o epicentro da cidade, esta ampla plaza que jaz diante da Catedral e da Capela do Sacrário, dois bonitos monumentos que – se afortunadamente abertos – são de visita obrigatória. Ao fundo da praça, depois dessa grande mancha que aglomera animais, vendedores ambulantes, turistas e ociosos, está o Capitólio, com as suas colunas majestosas a impor o respeito a que a instituição obriga, mesmo lá de longe.
Antes de sair do centro histórico e se repentinamente sentir saudades de casa, pergunte pelo Teatro Cristóbal Colón, também ele de admirar. Porém, o motivo maior deste desvio é um majestoso painel de azulejos representando Lisboa antiga e coroado com o brasão português, que encontrará no edifício em frente e que foi oferecido por Portugal em 1938, por ocasião dos 400 anos da fundação de Bogotá.
Ali ao lado, na Candelaria, o turista deve perder-se pelos pequenos comércios, pelas ruelas e afins. Há um pouco de tudo, desde banana com sal acabada de fritar a montras de doçaria tradicional que agitam as papilas gustativas, e também opções saudáveis, que promovem sabores locais como o da quinoa e o do amaranto, dois cereais originários dos Andes. Tudo sem descurar, claro está, o afamado chá de coca, o qual garantem tratar-se de uma infusão impregnada de benefícios para a saúde. Se ao invés prefere sabores mais intensos, opte pelo aromático café colombiano. Ou arrisque provar o canelazo, elaborado com aguardente, canela, lima e cana de açúcar. O lugar mais pitoresco para degustá-lo é naquela que foi a primeira casa estabelecida na cidade, no ano de 1538 e situada na Plaza del Chorro de Quevedo, hoje convertida num bar que tem tanto de confuso como de acolhedor, sobretudo se tiver a lareira acesa.
Restabelecidas as energias, é tempo de dirigir a atenção para o imponente Museu Nacional, implementado num antigo estabelecimento prisional e detentor de um vasto e distinto acervo. Já no moderno e exemplar Museu do Ouro, um dos maiores do mundo, pode contar com um espaço totalmente dedicado a esse metal nobre, à volta do qual giraram muitas civilizações, entre as quais as pré-colombianas. Poder-se-á dizer que este museu foge ao padrão dos museus latino-americanos, estando na senda da modernidade, privilegiando a interacção com o visitante e sendo notório o cuidado e empenho vertido em cada uma das suas salas.
Outro espaço museológico imperdível é o Museu Botero. Sim, porque o B de Bogotá também é o de Botero. O artista que tanto gosta de arredondar as mulheres e o mundo, tem ali um fabuloso espólio que convive com Picasso, Dali, Renoir, Monet e Giacometti, entre outros, tornando-a numa das mais relevantes colecções de arte da América Latina. Acresce que está à mercê de todos, graças ao protocolo com uma entidade bancária que permite visitar gratuitamente centenas de obras expostas pelas alas de uma encantadora casa de estilo colonial, com ensolarados pátios e janelas abertas de par em par.
E já que estamos em maré de personalidades, não esqueçamos Gabriel Garcia Márquez. O génio da literatura dá nome a um centro cultural que fica no lado oposto da rua e que alberga espaços diversos, com destaque para a Librería FCE, onde se encontram publicações para todos os gostos e de todas as áreas, inclusive um avultado número de obras traduzidas de autores portugueses contemporâneos. Já a literatura local está bem e recomenda-se: naturalmente a do supracitado Nobel, mas também autores como Laura Restrepo ou o premiado Juan Gabriel Vásquez.
Não por acaso, o espírito académico serpenteia pelas ruas da cidade, junto às muitas faculdades que mantêm em seu redor uma comunidade jovem que se sente activa, irreverente e que dá especial cor à cidade, cidade essa que tem tantas outras faces que mal cabem nestas linhas. Tem paredes vestidas com poemas, tem mercados de velharias que pululam de rua para rua, tem as infindáveis e ordenadas avenidas que se estendem até às cosmopolitas Zona T e Zona Rosa; e tem um generoso manto verde, de parques e jardins, praças e pracetas com árvores que parecem gente e gente que parece árvores.
Tudo isto, todas estas facetas da belíssima Bogotá – sim, o B é sobretudo um B de bela – são dignas de ser admiradas, a qualquer hora do dia, desde o Cerro de Monserrate. Dali tudo nos parece um admirável mundo novo. Dali Bogotá é-nos irresistível, uma mancha de aparência tranquila que, no entanto, sabemos transbordar de vida. Os sons que emite não nos chegam; mal avistamos figuras humanas, mas sabemo-las lá em baixo, sarapintando cada uma das mil ruas que entroncam entre si e desaguam todas na Plaza Bolívar, quais veias bombeadas por um coração que bate tão intensamente como o nosso. •