Os encantos de Sintra em exposição / Tivoli Palácio de Seteais

A artista plástica portuguesa Mariana Gillot convida os amantes da arte a embarcar numa “Viagem aos confins encantados de Xentra” na companhia das palavras de Eça de Queiroz e, quem sabe, de ilustres personagens do célebre livro de Lewis Carroll…

“Aspirando o Amor”, umas das peças criadas para esta exposição

Em jeito de introdução, Mariana Gillot esclarece: “A exposição foca a mulher, a mulher de Eça de Queiroz”. Para que dúvidas não existam sobre o seu trabalho que, de 25 de setembro a 25 de novembro, complementa o belíssimo cenário do Tivoli Palácio de Seteais, na poética vila de Sintra. Assim, esta “Viagem aos confins encantados de Xentra”, a primeira de um reiniciar de um ciclo de exposições.

Composta por 15 peças – umas novas, criadas especialmente para este lugar mágico, e outras de coleções antigas – dispostas por salas e pelos recantos dos labirínticos jardins do épico edifício oitocentista, começa com uma evocação à lenda dos sete ais imortalizados na obra revestida de moedas de tom escarlate, patente no jardim da entrada do palácio, batizada de Sete Ais. E “do grito da mulher” passamos para “O Transcendente”, objeto que jorra dinheiro, excedendo qualquer limite.

A dedicatória ao romântico perdura pelo interior do Palácio de Seteais com “Dream Me”, “Dá-me música” e “Aspirando o Amor”, que sorve uma pauta de notas musicais saídas do vetusto e belo piano Steinway da sala que une as duas alas do edifício. Do ar soltam-se os sete ais que, demoradamente, se esvaem… E a mulher surge, feminina, em três obras da série “Queens”, esta composta por nove peças.

“Catch Me” / “O sete de ouros”
“Open your Heart” / “A Amnésia do Coelho”

De novo o amor. Desta vez com “Catch Me”, uma harpa cata-vento com uma seta convertida numa utopia, porque por mais voltas que dê “não acerta em nada”, comenta Mariana Gillot, para quem o tom dourado desta e de outras obras revestidas por moedas, e que compõem este roteiro por Seteais, representam um dos ícones do seu trabalho, assim como o número sete e as chaves. “A Chave de D. Mendo de Paiva”, cavaleiro ao servido de D. Afonso Henriques que tentou salvar a princesa moura dos sete ais, está no jardim, à vista de todos que por ali passarem durante estes dias, assim como “Open your Heart”, um coração imenso, escarlate, repleto de chaves. Quem o irá abrir? Ninguém sabe… Talvez o imaginário de cada um de nós, apreciadores do fantástico livro de Lewis Carroll, “Alice no país das maravilhas”, do qual sai a “Rainha de Copas” de Mariana Gillot, representada por uma cadeira em forma de coração, pois a artista plástica considera-a “uma mulher mal amada, que se sentia sozinha”; e o Coelho Branco, em “A Amnésia do Coelho”, representada pelo relógio de bolso colocado junto a uma árvore do jardim que preguiça junto ao palácio. O  Gato que Ri também está por lá… Na lista faltam “O Sete de Ouros”, com uma mensagem secreta, e uma outra obra, a última, para fechar este périplo por Seteais.

Sobre a autora desta “Viagem aos confins encantados de Xentra”, Mariana Gillot (Lisboa, 1975), Sintra é a eleita para se inspirar, viver e trabalhar e, depois do curso de Arquitectura da Universidade Lusíada, em Lisboa, com frequência do terceiro ano, e do curso de Escultura, na Arco – Centro de Arte e Comunicação Visual (1997-2000), dá início à participação em exposições coletivas, primeiro, a individuais. Ao longo dos anos de formação académica, e nos seguintes, realiza diversos trabalhos em feiras, abrangendo diferentes áreas, workshops de artes plásticas, nas áreas de pintura, desenho e modelagem com barro, em atelier próprio, infantários e escolas primárias; explora e dirige, com Salvador Reis, o ‘Atelier 13’, em S. Pedro de Sintra; é convidada a apresentar um projeto de artes plásticas, para crianças de um aos dez anos de idade, no Colégio Catarina de Bragança, onde exerce a função de professora do ensino especializado artístico, no qual dirige e organiza a participação na 15.ª Mostra de Teatro da Câmara Municipal de Sintra. A expressão dramática, a escultura em barro, de pintura, a joalharia e o artesanato estão muito presentes no seu currículo, mas é a escultura e a instalação que se impõem na sua obra atual, tal como podemos ver em Seteais.

A propósito, há quanto tempo não vai a Sintra? •

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© Fotografia: Patrícia Serrado