O outono soma e segue no Conservatório de Música de Coimbra que, depois de receber gigantes do Hot Club Portugal, traz a palco o projeto Noa Noa que trabalha, de forma sábia, a música com a língua falada.
A melhor forma de vos apresentar o projeto Noa Noa, que subirá ao palco na próxima quinta-feira, dia 6 de novembro, pelas 21h30, na Lusa Atenas, é deixar que um dos seus criadores, Filipe Faria, o apresente: “Todas as línguas mudam com o tempo. Evoluem e adaptam-se aos usos inovadores das comunidades, às suas idiossincrasias e hábitos. A língua não pode ser entendida como uma entidade imutável, estanque, parada ou desenhada no tempo e pelo tempo. Ela é, pelo contrário, resultado de uma dinâmica imensa da mesma forma e com o mesmo fulgor da comunidade ou da humanidade que muda… vagarosa mas imparável. Língua é o título do novo projecto Noa Noa dedicado à memória colectiva definida pelas diversas culturas e línguas ibéricas, uma manta de sons «para além do Ebro» que resulta no português, castelhano, mirandês, galego, asturiano, basco ou catalão.”. É dar voz e música as palavras ibéricas vivas, é viver identidades e preservar as mesmas pela e através da música.
Assim se anuncia o trabalho do duo constituído por Filipe Faria e Tiago Matias, em 2012, onde a cada instante os músicos tentam explorar diversas fronteiras: as que se estabeleceram entre o tradicional e o erudito, as da liberdade criativa tão almejada pelos artistas na viragem do século XIX para o século XX, ou mesmo as que decorrem da “redescoberta dos instrumentos históricos e das suas técnicas de execução”, uma redescoberta que inspirou já inúmeros compositores contemporâneos e contribuiu, dessa forma, para o aparecimento de novas linguagens e estéticas. É um trabalho que, sem dúvida, merece a sua atenção para redescobrir sonoridades de instrumentos que, provavelmente, não ouve há muito ou até talvez desconheça, para ouvir cantares com ritmos singulares, palavras que sente suas embora não as fale; um projecto rico e de valor histórico, cultural, musical. O Conservatório lança-lhe o desafio de ir fazer esta redescoberta, e não só, no seu Auditório.
O conhecido João Gobern, no Hotel Babilónia/ Antena 1, no passado dia 12 de julho, disse sobre este trabalho – “Língua, Vol.1”, Noa Noa – de Filipe e Tiago: “Eu amo esse disco! (…) Esse é um grande, grande disco! (…) É absolutamente admirável. É um daqueles trabalhos que nos faz pensar em tudo o que andamos a desperdiçar na nossa história musical.” Caindo, um pouco, na repetição, será um concerto que o fará viajar na história da música e da palavra, novas leituras de tempos idos, com sonoridades revividas de forma ímpar.
O programa da próxima quinta-feira, para vos espicaçarmos:
No piense Menguilla ya, José Marín (?1618/19-1699) (Castellano).
Baila nena (Galego).
Pur beilar el pingacho (Mirandês).
Díme, paxarín parleru (Asturianu).
Ganinha, minha ganinha.
Cantiga da ceifa (Português).
Aurtxoa seaskan (Euskara).
El mestre (Català).
Mira-me Miguel (Mirandês).
Agora non (Asturianu).
Meu amor me deu um lenço I/II (Português).
El testament d’Amèlia (Català).
Negra sombra (Galego).
Tanchão (Português).
Ayer vite na fonte (Asturianu).
La Margarideta (Català).
E no palco vão estar: Filipe Faria – Voz, Adufe, Bombo, Vassouras, Udu, Unhas de cabra, Chocalhos, Guitarra barroca, Viola beiroa, Flauta doce, Flauta bansuri, Assobio, Melódica; Tiago Matias – Vihuela, Guitarra barroca, Alaúde, Guitarra romântica, Colascione, Voz, Bombo, Vassouras, Assobio, Unhas de cabra; e João Hasselberg – Contrabaixo.
O concerto a ir, em Coimbra, no Auditório do Conservatório de Música, para ouvir um dos álbuns de música erudita mais vendido em Portugal, nos últimos meses.