A Garagem Sul – Exposições de Arquitectura – do Centro Cultural de Belém (CCB) prepara-se para inaugurar duas novas exposições de arquitetura, neste mês.
A exposição “Homeland, News from Portugal” – representação de Portugal na 14ª Mostra Internacional de Arquitectura, La Biennale di Venezia -, e a “Carlo Scarpa – Túmulo Brion. Guido Guidi”. Dois momentos a tomar nota.
Sobre a primeira, a inaugurar no dia 9 de dezembro, pelas 18h00: “Homeland – News from Portugal” é um jornal impresso que constituiu a representação oficial portuguesa na 14ª Exposição Internacional de Arquitectura, La Biennale di Venezia, sob o tema “Fundamentals, 1914-2014 Absorving the Modernity” e teve a direcção curatorial de Rem Koolhas. É um jornal de ideias, projetos, desafios, e temas de arquitetura, em Portugal, nos últimos 100 anos. Em Veneza, duas reflexões estiveram inerentes a este dispositivo expositivo nada convencional: uma cronológica, com diversas perspetivas e pequenos estudos, de forma a entender a evolução da habitação em Portugal; outra propositiva, versando seis temáticas através de seis processos urbanísticos protagonizados por seis equipas de arquitetos, com base em 6 cidades do país – Porto, Matosinhos, Lisboa, Setúbal e Évora – e sobre seis tipologias habitacionais – (Coletiva, Unifamiliar, Informal, Reabilitação, Rural, Temporária). “Homeland” conjuga assim duas dinâmicas complementares: retrospetiva crítica e trabalho projetual, teoria e prática. As três edições do jornal impresso foram lançadas nos meses de junho, setembro e outubro, em Veneza, estando igualmente disponíveis online no site “Homeland” (ver link no final do artigo). “Homeland” contou com 12 autores e cerca de 90 contribuidores que construíram, debateram, refletiram e expuseram as temáticas delineadas no início do projeto, cumprindo assim o percurso ambicionado. No dia 9 deste mês, “Homeland” termina com esta exposição no CCB, que resume o exercício de reflexão e prática desenvolvido ao longo dos seis meses da Bienal, trazendo-nos Veneza a Portugal. Um dos grandes objetivos da participação portuguesa, em Veneza, era o de criar algo de concreto e construtivo em Portugal. Assim, esta exposição mostra uma pequena parte do movimento que já está em marcha no país, ilustrando-o para quem habita nele.
Pedro Campos Costa, curador do “Homeland”, dizia, no editorial da 1ª edição do jornal, que “o projecto não é só uma reflexão crítica, para ser impressa numa exposição como um catálogo – pretende ser muito mais do que isso”. Um movimento com o qual se tem de deixar envolver pois todos habitamos arquiteturas, em Portugal (e/ou lá fora).
Seguindo para “Carlo Scarpa – Túmulo Brion. Guido Guidi”, que também inaugura a 9 de dezembro, mas mais tarde, pelas 21h00, na Sala Luís de Freitas Branco com uma conversa com Guido Guidi. Desde 1996 que Guido Guidi tem conduzido inúmeras campanhas fotográficas no cemitério de Brion, desvendando a temporalidade cíclica desse campo sagrado, que Carlo Scarpa desenhou para a família que lhe dá o nome, ao espaço da imagem eterna. São campanhas que “desvendam a temporalidade cíclica deste campo sagrado, levando a pensar numa inversão de vectores, hipotizando que o projecto aprendeu das imagens.” Numa reflexão lógica, se a função durar mais que a arquitetura que lhe dá a casa, “são as imagens e não os usos que mudam a arquitectura. As imagens de Guidi revelam as modulações e os ciclos desta mutação: a assonância, a variação, a fuga, a lateralização, ou o salto entre narrativas“. Nesta exposição, as imagens de Guidi são o modo de expor, de colocar em diálogo a arquitectura de Scarpa, o modo de sentirmos a evolução/mutação do espaço traçado pelo arquiteto, para a família Brion. “O tempo eterno da modernidade é o tempo das imagens. A imagem fotográfica é o centro imóvel do vórtice do novo, o mesmo novo que dessacralizou a vida eterna e engendrou a materialização física de lugares do nada para sempre, os cemitérios modernos. Projectar um cemitério encerra o absurdo funcionalista de projectar para a eternidade, para uma singular função mais perene que a sua materialização. São lugares outros da modernidade e da sua aparente superação, lugares que se descobrem nas imagens. ” É o convite a viajar pela lente de Guidi com um tema que não é de fácil trato, mas sim complexo nas emoções, na forma, no conceito, na função, no tempo. Uma exposição que se crê forte. “Tudo no Túmulo Brion, que Carlo Scarpa projetou e construiu entre 1969 e 1978, é excessivo: a encomenda, o projeto, o desenho, a construção e o detalhe, o simbolismo, a interpretação crítica, a temporalidade e o devir, ou a relação com a visibilidade e a imagem fotográfica. A simples ideia inicial de Giuseppe Brion, o industrial que produziu os icónicos aparelhos eletrónicos Brionvega, era acrescentar um túmulo familiar ao cemitério da sua terra, San Vito de Altivole. Mas o resultado desta vontade, cumprida pela viúva Onorina Brion, é um campo-santo de 2200 m2 e também um extraordinário jardim público. (…) Mas esta encomenda não era nem efémera, nem um restauro. Aqui podia fazer um projeto lento para um tempo imóvel. E Scarpa decidiu ficar para sempre junto da sua obra. Foi a recusa de aceitar a morte como separação, implícita na decisão de Onorina Brion de não voltar a casar, que convenceu Scarpa a projetar este memorial familiar. Nem um cemitério público nem um mausoléu privado, este projeto é um memorial do amor conjugal, onde jazem lado a lado Giuseppe e Onorina. Scarpa confessou que talvez o melhor tivesse sido simplesmente plantar 1000 ciprestes. Mas o decoro social necessário para ampliar o cemitério local implicou a construção de um novo muro, de uma nova capela, e a duplicação de acessos, direto da alameda dos ciprestes e através do cemitério existente.“, Joaquim Moreno.
Duas exposições que urge visitar, patentes até dia 28 de fevereiro de 2015, no CCB. Tome nota e faça a sua visita! •
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© Imagem de destaque: Guido Guidi.