Há duas propostas do norte da Europa no sul português, com Mette Rasmussen (Dinamarca) e Gard Nilssen’s Acoustic Unity (Noruega). Um duplo concerto da Combat Jazz Series “pensado para virar do avesso os pontos cardeais de quem for à SMUP” – Sociedade Musical União Paredense – na Rua Marquês de Pombal, 319 2775-265 Parede, Lisboa – e não se preocupe com mapas, dizem que “o eixo da Terra vai descambar…“
Comecemos por Gard Nilssen’s Acoustic Unity com André Roligheten (saxofones), Petter Eldh (contrabaixo) e Gard Nilssen (bateria). Gard Nilssen é considerado um dos mais importantes bateristas da música criativa da Noruega. Pode encontrar-lo nos mais diversos grupos (Team Hegdal, Cortex, Lord Kelvin e Zanussi 5 são apenas alguns deles) e é o “frontman” – ou o co-líder – de vários outros, como os Puma, onde também está um dos mais conceituados guitarristas da atualidade, Stian Westerhus, ou os roqueiros, mas ainda muito “jazzy”, Bushman’s Revenge, que já tocaram em terras lusas, mais do que uma vez. Com o projeto Acoustic Unity é outra procura, na construção musical de Nilssen: um jazz em linha com o começo do novo milénio, mas desligado da eletricidade conforme se pode ouvir no trabalho que agora apresentam, “Firehouse” (Clean Feed, 2015).
Além do próprio mentor deste trio, conhecido pela sua taquicárdica energia, a Unity é servida pelos inigualáveis Andre Roligheten e Peter Eldh. O primeiro é saxofonista que todos querem ter consigo, bastando dizer que tanto a prestigiada Trondheim Jazz Orchestra como os psicadélicos Motorpsycho requisitaram os seus préstimos. O outro, contrabaixista que se diz influenciado por Peter Brotzmann e Charlie Parker como por… Dr. Dree – o famoso produtor de hip-hop que esteve por detrás do fenómeno Eminem – é um exímio “segurador de pontas”. Mantém a música colada e dirigida para um só ponto, algo que foi muito apreciado por parceiros como Django Bates, Peter Evans e Tobias Delius. Vai querer perder este concerto?…
© Gard Nilssen Trio por Andreas Ulvo.
Seguindo para Mette Rasmussen (saxofone alto). O seu nome acrescentou-se de forma natural ao conjunto de mulheres saxofonistas surgidas, nos últimos anos, na área do jazz, com destaque para Lotte Anker, Ingrid Laubrock, Christine Sehnaoui, Jessica Lurie e Maguelone Vidal. Dinamarquesa de origem, mas residente em Trondheim, na Noruega, Mette Rasmussen desmente todos aqueles que identificam o expressionismo da improvisação como algo de especificamente masculino. Nela o saxofone é um prolongamento do corpo e da mente. Na linha da “estética do grito” de Albert Ayler, mas entrando pelos domínios da música que troca o fraseado pela textura, Rasmussen tem como principal propósito explorar os limites físicos do saxofone alto, com ou sem preparações, e fazê-lo aproveitando a crueza natural do seu instrumento. O seu grupo com Sam Andreae e David Meier – Trio Riot – surpreendeu pela forma como colou uma atitude punk ao jazz, incluindo os típicos “riffs” dessa área do rock, e muito aplaudidos têm sido os seus duos com Chris Corsano, Stale Liavik Solberg, Dennis Tyfus e o histórico Alan Silva, este não como contrabaixista, mas em sintetizador. O som de Mette é rouco, texturado, mas extremamente fluido, fazendo um uso surpreendente das notas mais agudas, bem como dos mais inacreditáveis multifónicos. Umas vezes pode parecer free jazz, mas em outras entra em território da noise music. No seu percurso teve já ocasião de tocar, para além dos mencionados, com músicos como Alan Wilkinson, Pat Thomas, Rudi Mahall, Tobias Delius, Wilbert De Joode e Axel Dorner Falta ouvi-la na companhia de Mats Gustafsson, com quem é, mais mal do que bem, habitualmente comparada. Agora vamos tê-la a solo, formato que permite ouvir, sem distracções, tudo o que vem trazendo para a cena, e que é muito seu.
Dois concertos, Mette Rasmussen solo e Gard Nilssen’s Acoustic Unity, no dia 27 de setembro, pelas 18h30, na SMUP. Alinha neste Combat Jazz Series, na Parede? •
+ SMUP
© Fotografia em destaque: Mette Rasmussen por Peter Gannushkin.
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