Elogios da crítica internacional, bem merecidos, não têm parado de distinguir a voz, a música, a postura e a entrega ao trabalho por Dom La Nena. “Soyo”, o seu novo trabalho, é o que vem na sua bagagem e que vai querer ouvir e reouvir.
O disco conta com produção do bem conhecido Marcelo Camelo, artista de méritos mais do que reconhecidos em Portugal, e o cantor e compositor só tem palavras que temos de reproduzir para falar de Dom La Nena. Depois de ler estas palavras, era-nos impossível não reproduzir o texto de Marcelo, aqui:
“Dom é exemplo raro das contradições que carregamos. Uma menina doce de rosto franco e olhos determinados, que compõe com frescor germinal as canções que ainda queremos ouvir, canções sobre os sentimentos que nos são tão verdadeiros que as vezes escapam desapercebidos entre as luzes e presenças de apelo mais cintilante. Canções de leveza feminina, de olhar indireto, dos assuntos que se enredam no silêncio.
Tudo parece fazer os olhos correrem no mesmo sentido até ela se sentar ao pé do violoncelo e começar a arrumar-se pra tocar. As luzes diminuem, as cores se intensificam, as paredes se ajeitam, tudo vai tomando outra forma e o ar entre nós e ela se adensa. Seu rosto fica sério de um jeito a conseguir anunciar o que vem. Mas é quando o seu arco encosta nas cordas do violoncelo que você tem verdadeiramente o outro espectro de Dom em estado bruto. Pelo som que ele causa mas também pelo que o som causa nela.
As dualidades se entrelaçam, se enamoram, se confudem e transformam. Não somos capazes de isolar características nossas umas das outras. A compositora encontra a violoncelista que encontra a menina. Todas se tocam. Transformam-se mutuamente em cena criando uma visão destas que pode fazer parar o tempo.
E um tempo parado parece mesmo o apropriado pra ouvir o que ela tem a nos dizer. Uma história não daquilo que é absurdo e excepcional, mas daquilo que encontra seu caminho na sombra dos grandes acontecimentos. A verdade perene escondida injustamente dos menos sensíveis por alguma explosão oportunista. São nossas pequenas saudades, pequenos desencontros, as ausências que nos fazem mais humanos e mais reais.
Dei-me aos seus versos como se fossem meus, com carinho e identificação com ela e suas histórias. Fazíamos graça ao descobrir o samba ou algum dos seus desdobramentos em quase todas as músicas, logo ela gaúcha, crescida em Buenos Aires e residente em Paris. Fazendo ecoar ranchos e rodas de Jacarepaguá, meu bairro de infância no subúrbio carioca.
Fizemos isso no estúdio do meu compadre, com a presença do importante Jérôme, companheiro de Dom e muso dos seus feitiços. Embalados por um carinho mútuo e um volume de trabalho que fez as horas parecerem minutos.
Assim como eu, naqueles dias de inverno todos em volta deste projeto sentiram-se envolvidos pela beleza das canções e pela fluidez com que elas decorrem. Todos se encantaram com Dom e seu mundo e eu me senti honrado e agradecido por estar dentro dele por um breve momento. Testemunhar as suas transformações e a sua alegria viva, poder dançar imaginariamente o samba que está em tudo que é bom, me fez também mais feliz.“, Marcelo Camelo.
Nas nossas palavras, que ficarão sempre aquém das acima escritas, temos a dizer que Dom La Nena é obrigatória, é viciante. Uma voz doce, quente com leve acre no ponto exacto, que dados momentos consegue fazer-nos lembrar a voz inesquecível de Lhasa de Sela (cantora compositora, 1972-2010) numa certa rouquidão que tem tudo de natural e de belo. Dom la Nena é ela própria, com uma identidade musical que o vai deixar preso à sua música… Carregue no play, por favor.
Por fim, para lhe relembrar todos os concertos do Misty Fest 2015, eis os nomes e datas alinhadas:
Dom La Nena: 31/10 – Auditório de Espinho, 03/11 – Salão Brazil (Coimbra), 04/11 – CCB (Lisboa).
Iron & Wine: 01/11 – Teatro Tivoli BBVA (Lisboa), 02/11 – Casa da Música (Porto); reler aqui.
Mayra Andrade: 04/11 – Coliseu do Porto, 05/11 – CCB (Lisboa), 07/11 – CAE (Figueira da Foz); reler aqui.
Dead Combo: 06/11 – CCB (Lisboa); reler aqui.
Lenine: 07/11 – CCB (Lisboa), 10/11 – Casa da Música (Porto); reler aqui.
The Cinematic Orchestra: 07/11 – Theatro Circo (Braga), 08/11 – CCB (Lisboa), 09/11 – Casa da Música (Porto); reler aqui.
Um festival com um cartaz muito apetecível e onde cremos que vai marcar presença em todos, ou quase todos, os concertos. Bons concertos, a não perder, neste Misty Fest 2015. •
+ Misty Fest
+ Misty Fest’15 na Mutante
+ Dom La Nena
© Vídeo 1: Dom La Nena, “Juste une Chanson“.
© Vídeo 2: Dom La Nena, “Batuque“.
© Fotografia: Dom La Nena.
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