Linhas minimalistas e depuradas versadas na mestria da manufatura são o registo das coleções da designer de raízes minhotas que nos traz boas novas para este universo da joalharia contemporânea de cunho português.
A minúcia e a delicadeza de um trabalho reflete-se nesta elegante peça da coleção Elementos
Falamos de Liliana Guerreiro, a criadora portuguesa de jóias e uma apaixonada pela arte da filigrana, a base de inspiração do seu trabalho de joalharia, que conta com 12 anos de dedicação e é tecido, sobretudo, pelos elementos básicos de tão vetusto ofício – o filum, um fio de metal; e o granum, o grão. Assim nasceram as coleções Elementos, Cheio de Ramo, Leveza, Era e Estrutura, bem como as recentes Malha, Bocais, Fio e Cores, apesar desta última ilustrar a modernidade do design na sua essência.
Os fios da coleção Malha desenvolvida com base nos relicários do século XIX
Começamos pelas coleções atuais. A Malha é, segundo Liliana Guerreiro, inspirada nos relicários do século XIX que eram feitos na oficina de Póvoa de Lanhoso, uma das mais antigas do país, onde o seu trabalho sai do traço em papel para as mãos de uma dupla de artesãos, que compõem delicadas peças individuais, feitas a partir do fio de metal enrolado, e cada uma é, depois, soldada a preceito. Um minucioso trabalho que requer delicadeza e paciência, pois evoca a complexidade do desenho de peças tradicionais aliado à clareza da geometria.
A coleção Bocais parte de um pormenor das contas minhotas, os chamados bocais que, agrupados de forma irregular, dão azo às mais variadas formas; enquanto a Fio nasce do fio explorado de infindáveis maneiras, para combinar espessuras, matérias (ouro e prata) e texturas – com três possibilidades: fio simples, fio torcido ou fio batido.
Três das múltiplas composições possíveis de anéis da coleção Cores
Cores é, como o nome indica, uma coleção colorida, composta por uma palete divertida de 30 cores distintas que proporcionam 50 mil combinações possíveis entre anéis de cinco tamanhos, além de brincos, alfinetes de peito, pendentes para fios e botões de punho. Um verdadeiro convite à imaginação em muito semelhante ao conceito criado pelo movimento da Bauhaus.
Sobre o seu trabalho versado pelo diálogo entre o mimimalismo e a volumetria do traço, e a mestria da manufatura de um legado muito antigo, uma narrativa pautada pela elegância e pela sofisticação primada pela reinterpretanção de uma tradição muito antiga no universo da joalharia, a designer de origem minhota afirma: “Não mexi nas formas tradicionais da filigrana (…) porque acho que está tudo tão bem feito.” No fundo, usa a criatividade para enaltecer uma tradição na joalharia portuguesa e “desenho as peças que gosto e penso usar”, confessa.
E eis que nascem jóias contemporâneas que viajam por todo o mundo, da Europa ao Japão e aos Estados Unidos onde, em outubro de 2014, expôs a sua coleção no MAD – Museu de Arte e Design de Nova Iorque. Na sequência dessa mostra, uma das peças foi selecionada para integrar a loja do museu, espaço em que o seu trabalho passou a estar disponível para compra em permanência, um passo gigante ao qual se soma o Museu de Chicago, um ponto de venda importante para Liliana Guerreiro, uma presença internacional, sobretudo nos EUA e no Japão, rendidos à arte da filigrana, além de Itália, Bélgica e Alemanha, países onde a coleção Cores é a mais procurada.
Em Portugal, a coleção encontra-se à venda nas lojas Elements, do Porto e de Lisboa, no Museu de Serralves, no Porto, na sua loja online.
Liliana Guerreiro nasceu Viana do Castelo, em 1975, onde cresceu com a herança dos trajes deslumbrantes e do peito carregado de ouro, costumes culturais que a despertaram para o mundo da joalharia tradicional, sobretudo por causa dos colares de contas da mãe e das peças de família. Assim, em 1999 concluiu a licenciatura em arte/joalharia na ESAD – Escola Superior de Artes e Design de Matosinhos, e a sua formação especializada teve início na Escola Profissional de Ofícios Artísticos de Vila Nova de Cerveira (de 1990 a 1993), na Escola de Artes Decorativas da Fundação Ricardo Espírito Santo, em Lisboa (de 1993 a 1994) e no Centro de Joalharia do Porto (1998) integrando, assim, o primeiro grupo de pessoas em Portugal com formação superior em joalharia.
+ Liliana Guerreiro
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