Noites de Verão / MNAC

No seu sétimo ano de vida, o ciclo de concertos Noites de Verão produzido e programado pela Filho Único, dividir-se-á este ano entre o Jardim do Palácio Pombal, sito na Rua do Século, e o Jardim das Esculturas do Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (MNAC), em Lisboa, mantendo-se o habitual horário das sextas-feiras, pelas 19h30, com entrada livre. Perfeito para terminar uma semana de trabalho.

Sem mais demoras, eis o alinhamento da edição 2016 das Noites de Verão:


© Pega Monstro

15/07 – PEGA MONSTRO (PT)/ Palácio Pombal. Banda de rock lisboeta formada pelas irmãs Maria (voz e guitarra) e Júlia Reis (bateria e voz), afiliado à Cafetra Records que ajudaram a criar e desenvolver desde 2008. Lançaram há 4 anos o homónimo LP de estreia, produzido por B Fachada. O segundo álbum intitulado “Alfarroba” foi lançado no Verão do ano passado pela editora londrina Upset The Rhythm. “Alfarroba” continua a ser, “da raiz da sua intenção, imaginação e materialização, um álbum magnífico e raro. Directo, simples e comovente porque subtil, complexo e excitante“. No final de 2015 foi-lhe atribuído o prémio ‘Disco do Ano’ pela revista Time Out. Depois de um ano intenso de concertos em Portugal e no resto da Europa, sendo exemplo mais próximo na memória as datas em França e Espanha a abrir para os Animal Collective, as Pega aprestam-se a entrar em estúdio este Verão para gravar o terceiro álbum.


© Luís Severo

22/07 – LUÍS SEVERO (PT)/ Palácio Pombal. No final de 2015, Luís Severo lançou o seu quarto LP “Cara D’Anjo” na editora Gentle Records, o primeiro depois de ter deixado cair o anterior nome artístico O Cão da Morte, escolhido ainda na adolescência. Já bebia (da) e convivia com a nova guarda – B Fachada, Samuel Úria, Pega Monstro -, e nos últimos anos conduzido pela sua sede de (se) conhecer, teve aulas de canto, continuou a comprar equipamento de estúdio, e mergulhou na história do fado, com particular paixão por Argentina Santos, descobrindo novas, clássicas, formas de trabalhar a língua, dicção e métrica. Reuniu uma banda, para o disco, e para tocar ao vivo o mais possível, e continuou a dar fogo à peça nos Flamingos, duo com o seu parceiro a Norte, Coelho Radioactivo. “A voracidade da ideia musical com apetite pelo registo imediato deu lugar à sua noção de tempo na escolha assertiva de melodias e arranjos, com a consistência pela experimentação patente nos discos até aqui a dar lugar a um patamar interessante de aprimoramento que importa continuar a seguir.”


© Katuta Branka

29/07 – KATUTA BRANKA (CV)/ Palácio Pombal. Katuta Branca é um dos nomes mais importantes da história do Funaná, uma música que teve a sua origem com a chegada do acordeão a Cabo Verde no início do século XX. O que sucedeu, conta a tradição oral, foi que o camponês do interior de Santiago apropriou-se deste instrumento para cantar a sua alma e a sua vivência típica; com muita pobreza, revolta e contestação escondidas, motivos que levaram a que essa música fosse proibida em lugares públicos, durante a época colonial. Katuta é natural da ilha de Santiago, a viver na Damaia, Grande Lisboa, desde 1994, tendo mantido um trajecto sólido em festivais internacionais e no circuito europeu da diáspora cabo-verdeana ao longo dos anos. Os concertos de Katuta são descritos como uma festa que se gera sem pedir licença. Traz a cultura de Funaná consigo numa genuidade à flor da pele, “com aquele sentimento de liberdade eufórica que nos tempos coloniais apenas se podia sentir ao fim do dia, e fugindo aos ouvidos da Polícia. O Funaná nasceu e permaneceu como desafio à autoridade, à submissão.”, Celeste/Mariposa numa apresentação sua de Katuta.


© Norberto Lobo

05/08 -NORBERTO LOBO (PT)/ MNAC. Norberto Lobo é já nome reconhecido na música portuguesa como um “artista independente e empírico, que não ironiza sobre o futuro ou o destino, antes age, opera e materializa, e assim no curso da sua carreira vai transformando o seu mundo e o de quem o ouve e acompanha“. Contando já cinco álbuns na sua discografia a título individual, sabe-se que depois do verão virá um novo trabalho que sucederá a “Fornalha” (2014).


© Evan Parker

12/08 – EVAN PARKER (GB)/ MNAC. Evan Parker é, desde há praticamente 50 anos, um dos grandes saxofonistas e músicos em actividade. Nascido em Bristol em 1944, foi ao assistir a um concerto do quarteto de John Coltrane em 1962, momento que determinou – como diz – a sua “escolha de tudo”, que começou a ser para ele mais clara a área estética onde viria a investir. Ajudou de forma crucial a desenhar um jazz britânico, mas também europeu, que com os anos vem chamando de livre improvisação, termo e prática que passou a partilhar com uma pequena comunidade de contemporâneos seus nos anos 1960, e que entretanto se expandiu ao mundo inteiro. Olhar para a discografia de Parker é como ler a história desta herança e metodologia musicais que não cessam de se desenvolver e reconfigurar. Por entre mais de 200 registos discográficos e milhares de atuações, formações que mantém há quatro décadas e outras ad hoc, o solo permanece um dos veículos de expressão que lhe é mais querido. Dos raros históricos que permanece tão vital e inquisitivo hoje como na sua juventude, para uma actuação, como sempre quando se trata de Evan Parker, irrepetível.


© Inga Copeland

19/08 – INGA COPELAND (EE)/ MNAC. Música a viver e trabalhar entre Londres e Tallin, natural de Samara, Rússia, com formação em artes visuais, tendo integrado o grupo Hype Williams com Dean Blunt onde se notabilizou especialmente pela sua voz doce embaciada. As suas produções de música electrónica desde o finamento do duo mestre do fascínio do intangível têm revelado uma estética insigne; exigentes, discordantes, contudo melódicas e sensuais. Tem também escolhido por publicar a sua música de forma independente, em edições de autor. O seu trabalho editado mais recente, sob a assinatura autoral de Lolita, é “Live in Paris”, lançado online em formato video em Março, chegando a versão em CD um par de meses depois. No filme, a artista é vista em palco cercada por uma projecção multiscreen do jogo de tabuleiro ‘Monopólio’, numa possível apocrifia conceptual sobre as dinâmicas sócio-económicas-culturais que se trocam em Londres, curiosamente com pontos de contacto interessantes com o actual veículo Babyfather de Dean Blunt.


© Mike Cooper

26/08 – MIKE COOPER (GB)/ MNAC. Lenda viva por direito próprio, o guitarrista britânico Mike Cooper tem vindo a desenvolver um legado nobre vai para cerca de 50 anos, cujo trabalho continua a ser indevidamente desmerecido. Os Rolling Stones convidaram-no para se juntar à banda no início da década de 60 (história verídica; Brian Jones ficou com o lugar), preferindo a imersão nas cenas de folk e blues do Reino Unido – andou em digressão com Michael Chapman e serandou nos mesmos círculos de Bert Jansch, Wizz Jones e Davey Graham, entre outros. Pela década de 1970 progrediu de uma escrita de canções parametrizada por uma leitura pessoal do free jazz, para territórios informes de improvisação livre e, ainda mais tarde, experimentação nos campos da composição electrónica e instalação audio-cénica. O seu percurso caracterizou-se por uma elusividade e pontuação por sucessivas partidas e chegadas, resultando em diversas transformações sonoras. Possuidor de um conhecimento denso da música do Pacífico, tem levado a cabo desde a década de 80 um estudo apaixonado dos limites da exotica, produzindo música e vídeo, consumido positivamente pelas suas viagens. Nos últimos tempos alguns dos seus títulos descatalogados foram alvo de reedição, de “Places I Know/The Machine Gun Co With Mike Cooper” e “Trout Steel” na Paradise of Bachelors a “New Kiribati” na Discrepant, e lançou um novo original e elogiado duplo LP “White Shadows In The South Seas” no início deste ano, voltando a transpor a sua síntese da história do blues e da guitarra slide avant para um espaço mental distante e onírico adornado por ritmos tropicais e gravações de campo.

Noites para colocar na sua agenda e terminar as suas semana de verão com sonoridades de respeito. •

+ MNAC
© Imagem de capa: Luís Severo, do vídeo “Cara d’Anjo”.

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