Neste mês de novembro a Galeria 111 prepara-se para apresentar uma nova exposição de pintura sob o título de “Layer 0”, de Martinho Costa, com as suas mais recentes pinturas.
Martinho Costa nasceu em 1977, vive e trabalha em Lisboa. No ano de 2002 concluiu a licenciatura em Pintura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Em 2003 obteve o grau de mestre em Teoria e Prática de Artes Plásticas Contemporâneas, na Universidade Complutense de Madrid. Já em 2012 realizou a residência artística, CERRca, Centro de Creacio y Reserca Casamarles, Barcelona (Bolsa da Fundação Gulbenkian) e em 2013 a residência artística, Festival Tempo D`Aldeia, São Pedro do Rio Seco, Guarda. Um curriculum académico que desperta a atenção.
Na Galeria 111, em Lisboa, irá apresentar as suas mais recentes pinturas na exposição intitulada “Layer 0”. Nela, o pintor brindar-nos-á com estranhas e encriptadas imagens pictóricas. A pintura realista, a que nos habituou no passado, está agora imersa num ludibriante e meticuloso processo digital que constrói uma realidade indecifrável. Ao adicionar esta ferramenta de tratamento de imagens digitais (PhotoshopTM) Martinho Costa reage, numa primeira instância, às premissas de construção de qualquer imagem, nomeadamente, sobre as escolhas de cortar, de colar, de enquadrar, de cor, da relação figura-fundo, das transparências, e por aí em diante. Contudo, num segundo momento, as escolhas não se fixam apenas no digital, aquando a passagem da imagem para a pintura o artista continua a nomear e a escolher como fazia anteriormente. As relações, exageradas ou atenuadas, entre os diversos elementos que compõem a imagem continuam a ser consideradas. Estas imagens compostas resgatam partes de uma realidade existente (fotografias de paisagens, pessoas, objectos, etc…), mas também comportam padrões de azulejos ou de tijolos decorativos produzidos digitalmente. A relação aleatória entre as imagens revela a interação entre as diferentes camadas, ora se traz a camada para o primeiro plano, ora se leva a mesma para o último plano. Porém, a relação é sempre bidimensional, porque estamos na dimensão da pintura. De facto, é aqui que reside, em grande parte, a pertinência da obra de Martinho Costa, o olhar do espectador persiste na superfície da tela enquanto viaja pelas diferentes imagens nas suas específicas camadas. Este olhar estabiliza um grau diminuto de tridimensionalidade. Ao descansar na superfície plana da pintura, o olhar dá sentido ao que vê. A presença de pequenos restos de pintura que dão textura à tela não devem ser deixados ao acaso, pois podem funcionar como pontos superficiais que nos mantêm nesta cativante superfície.
Conjuntamente com as pinturas em tela, o artista pontua a exposição com pinturas em pedaços de mármore e pequenos tijolos decorativos. Os motivos pictóricos são os mesmos que as pinturas sobre tela e também se mantêm a mesma lógica construtiva, mas o efeito parece extrapolar as premissas iniciais. Se nas telas a imagem pictórica indicava a construção em camadas de realidades que se sobrepunham e que apareciam como diversas possibilidades, estas pinturas parecem edificar o objecto, ou seja, objetivam o que já é por si um espaço tridimensional, fazendo um efeito de entrada para uma realidade imaginária e delirante, mas simultaneamente a película pictórica parece residir naquela bidimensionalidade que a torna existente.
Pode-se aferir que as imagens fragmentadas e os objectos revelam-se numa realidade arqueológica. As imagens parecem ser resgatadas do léxico passado do próprio artista, ou seja, conseguimos reconhecer a imagética utilizada anteriormente, bem como o modo de pintar a que nos habituou. A fragmentação das imagens escolhidas também aponta para uma análise arqueológica das imagens, como se fosse possível dissecar camadas de realidades e de imagens para garantir um conhecimento mais amplo, apesar de difuso, de uma dada realidade. Os pedaços de mármore e os tijolos também nos remetem para essa arqueologia que vai sobressair das diversas realidades que nos apresentam. Neste sentido, ou sentidos, o espectador ao perder-se na superfície pictórica vai-se encontrando em pequenos pormenores e vestígios que lhe são familiares, como se algo estranhamente familiar se apresentasse perante si.
A inauguração está agendada para este sábado, dia 12 de novembro para as 16h00 e a exposição estará patente até dia 31 de dezembro na Galeria 111, em Lisboa. A visitar. •