Já imaginou se a música fosse uma abstração sobre o simbolismo, se fosse a natureza envolvente a falar em voz própria? Se sim, é porque viajou com Meredith Monk com “On Behalf of Nature”.
A norte-americana coreógrafa, compositora, cantora e performer Meredith Monk começou sua carreira nos idos anos 1960 e desde aí que há todo um trabalho conseguido e construído assente em três pontos fundamentais: dança, dramaturgia e música. Um não vive sem os outros. Um não faz sentido sem os outros.
Sons de flauta de madeira, violino, harpa, piano, uma união de percussões incomum e outros inusitados instrumentos estruturam “On Behalf of Nature”, no estilo incomparável de Monk, com acordes depurados, numa musicalidade minimalista com vozes que são mais do que a palavra não formada… ou não fosse a narrativa o pensamento abstracto sem a necessidade da comum palavra cantada; ou não fosse Monk o nome que associamos a sonoridades totalmente fora do mainstream. A voz é um instrumento próprio que se torna protagonista. A ideia é clara. O objetivo evidente. Neste álbum Monk quer ligar-nos à natureza pela música e fazer-nos sentir o movimento cantado da mesma. Sobre a importância da voz e da não palavra, Monk afirma: “Sempre me interessei pela expressão primordial, o som vocal não-verbal que está sob linguagem e delineia energias para as quais não temos palavras. Trabalhar com a minha voz como um instrumento, desde há mais de cinquenta anos, levou-me a descobrir e a desenvolver um amplo espectro vocal. (…). Em ‘On Behalf of Nature’ as vozes e os instrumentos têm o mesmo peso: por vezes cada um é ouvido sozinho; por vezes são misturados para formar um misterioso novo som; por vezes são combinados para criar intrincadas camadas de paisagens sonoras transparentes.”
Monk diz-nos sobre o álbum que “uma das primeiras inspirações para ‘On Behalf of Nature’ foi o artigo de um poeta, ativista ambiental e praticante da religião Budista, Gary Snyder, intitulado ‘Writers and the War Against Nature’. Nele, ele escreve sobre o papel do artista como sendo o porta-voz dos elementos não humanos para o universo humano através da música ou da dança. Este ato de compaixão, de ‘falar em nome da natureza’, encarna e dá voz aquelas forças que tantas vezes seguem não reconhecidas e não valorizadas.” E numa suma “‘On Behalf of Nature’ é uma meditação sobre nossa íntima conexão com a natureza, seus círculos internos, a fragilidade da sua ecologia e nossa interdependência“. É a música do que nos torna diferentes do que nos envolve.
Editado pela ECM Records e produzido por Manfred Eicher, este último trabalho de Meredith Monk, com uma alinhamento de 19 composições, é novamente um confirmar da forma singular como Monk faz da sua voz ritmo, movimento, com vocalizações que são elementos vivos da nossa envolvente. Um álbum que é também perfomance de uma dança que nos leva no movimento.
A ouvir. A descobrir este novo trabalho de Meredith Monk. •