Este dezembro, na Black Box da Plataforma das Artes e da Criatividade, em Guimarães, “A Máquina de Emaranhar Paisagens”, peça dirigida e interpretada por Dinarte Branco que sobe ao palco para dar vida aos textos de Herberto Helder, poeta maior da literatura portuguesa que nos deixou no ano passado. A peça conta com música original e interpretação ao vivo de Cristóvão Campos.
Dono de uma obra vasta e criador de uma nova linguagem, Herberto Helder marcou para sempre a literatura portuguesa e estará para a poesia da segunda metade do séc. XX como um nome incontornável. “Um visionário, um génio na criação de novos símbolos, um ‘eremita’ que rejeitou todas as formas de mediatização para que a sua obra pudesse viver e falar por si. Criou poemas soberbos, desenhou universos inteiros e na sua morte torna-se mito“.
Dinarte Branco traçou como objetivo criar um espetáculo inteiramente erigido a partir de textos do autor: poemas, textos de caráter biográfico, ensaios sobre a criação literária e artística, textos com caráter humorístico e obras poéticas da literatura universal “mudadas” para português pelo próprio. Este interesse em abordar toda a obra do autor tem como premissa aliar o seu pensamento, impresso em textos mais analíticos ou biográficos, com os textos poéticos, procurando criar possíveis relações ou encontros entre os vários textos.
A partir da voz e do corpo do ator acredita-se que a imagética, a musicalidade e o ritmo impressos nos poemas de Herberto Helder tornem real uma outra possibilidade de comunicação, um outro entendimento que a oralidade e a fisicalidade podem trazer aos textos, não na tentativa de os explicar, ou de os resolver, mas de os pensar e receber de uma forma diferente. A exigência e hermetismo dos textos de Herberto Helder questionam uma escrita meramente mental e racional e as palavras ganham densidade e vida também pela sua sonoridade e musicalidade. Diz Herberto Helder aquando da sua chegada a Antuérpia: “percebi logo que ali ia ser muito difícil, e por conseguinte, que só ali valia a pena procurar”. Será esta a proposta: procurar os poemas em palco, com os espetadores.
Dinarte Branco vai buscar a obra indelével de Herberto Helder para nos oferecer “A Máquina de Emaranhar Paisagens”, espetáculo cuja dramaturgia é construída unicamente a partir dos textos e poemas do poeta e onde a voz e corpo do ator se cruza num diálogo íntimo com a música de Cristóvão Campos, que atua ao vivo. Nasce assim uma peça que procura materializar a imagética da obra de um dos mais fascinantes autores da história da literatura portuguesa.
Esta sexta e sábado, 02 e 03 de dezembro, às 22h00, na Black Box da Plataforma das Artes e da Criatividade em Guimarães, é a não perder este espetáculo de música e literatura de um nome maior. •