Depois de ouvirmos de fio a pavio a Luísa com o seu “Luísa”… eis que nos perdemos numas palavras sobre e à volta de um alinhamento de 12 músicas que não enganam na identidade.
Depois de “Lu-Pu-I-Pi-Sa-Pa”, um álbum que há muito fazia falta na música portuguesa para o público mais pequeno e que, inevitavelmente, agarrou os maiores, eis que a doce Luísa Sobral surge com a simplicidade de “Luísa”, um álbum que é o espelho de um percurso já seguro, da maturidade conseguida enquanto artista e que deixa a nu as suas influências primordiais que passam pelos grandes nomes do jazz e da folk.
Tudo começa só, mas bem acompanhado com “Alone” num traço com travo de uma América folk que nos faz bater o pé na caminhada de Luísa, caminhada que nos atinge o coração com “Cupido” onde a a percussão dita um ritmo que nos embala de sobremaneira. E porque quem tem a maturidade de Luísa sabe que um álbum vive melhor com um ritmo sinusal que desenha ondas diferentes na batida cardíaca que é o todo, temos um momento de saudade calma e serena com “I’ll be home with you tonight” e que nos leva, tão bem, para nos ensinar “Learn how to love” porque se queremos estar com alguém, é melhor saber amar e aqui, a música já é um garantido amor, tão bem esgalhado na identidade já definida de Luísa Sobral. Um ponto surpresa, um álbum que não é nem todo em inglês, nem todo em português e que, por tal, se “Cupido” já nos tinha levantado o sobrolho, “Jardim Roma“, a música que se segue, deixa a confirmação que Luísa quis, com certeza, dar-nos um álbum com dois mundos linguísticos que sente seus e, neste Jardim, curiosamente, lembra-nos um pouco “Lu-Pu-I-Pi-Sa-Pa”, mas com uma lírica para crescidos. Rumamos serenamente para o single de estreia do álbum: “My man“. Um momento deliciosamente boémio, no momento certo, que nos faz sentir um certo universo de Dead Combo (não cópia, claro), um universo que nos pede a meia-luz e uma temperatura mais elevada (e que vicia). A folk de “Janie” tira-nos da noite boémia para nos conduzir a “Paspalhão” e, de novo, o travo do álbum anterior, mas para aqueles que não vêem o amor à sua frente, que não vêem os sinais de piropo que é coisa namorados, uma música que traz o humor no regaço. Na calma “On my own“, o álbum segue para “Je t’adore” e… afinal, não há apenas português e inglês, mas há também francês porque é, esta, a língua rainha dos enamorados. Não, não é uma peça solta. A música está alicerçada na espinha dorsal jazzística do álbum e a lírica, essa, para quem segue Luísa Sobral, vê-a no mundo dela. “And so it goes“, serenamente, para esta viagem fechar com um “Stormy weather“. Uma tempestade que nos aquece na voz e corpo musical (na composição e interpretação de Luísa e seus convidados).
Este quarto álbum de estúdio foi gravado nos United Recording Studios e contou com a participação de músicos de excepção, como Marc Ribot (guitarra), Greg Leisz (guitarra), Jay Bellerose (bateria), Patrick Warren (teclados), David Piltch (contrabaixo) e Levon Henry (saxofone, clarinete). Na produção do disco esteve Joe Henry, um dos mais reconhecidos produtores de hoje, vencedor de três Grammy Awards, e responsável pela assinatura de trabalhos de artistas como Elvis Costello, Solomon Burke, Beck, Hugh Laurie, Emmylou Harris, entre outros. Este álbum é uma viagem que se faz e se volta a querer fazer. É música que se se põe a tocar e que nos faz esquecer o tempo que passa. É uma mistura de influências que, afinal, não queremos resumir só aquelas duas acima ditas. É muito mais e tudo bem calibrado.
E porque músicos como a Luísa Sobral não vivem sem as emoções de um palco, já há datas para a digressão de apresentação de “Luísa”, para este último álbum de originais editado há cerca de um mês e em que, segundo a artista, “o piano cede o seu protagonismo à guitarra.” No palco, estará com a boa companhia de Mário Delgado – guitarra, João Salcedo – teclados e piano, João Hasselberg – baixo e contrabaixo, e Carlos Antunes – bateria, a cantora, guitarrista e compositora percorrerá o país de norte a sul, visitando algumas das mais emblemáticas salas do país, como é o caso do Tivoli BBVA – Lisboa, da Casa da Música – Porto, e do Theatro Circo – Braga. Eis as primeiras datas para tomar nota:
27/01 – Teatro Aveirense, Aveiro.
01/02 – Teatro Tivoli BBVA, Lisboa.
08/02 – Casa da Música, Porto.
11/02 – Centro Cultural, Benedita.
14/02 – Theatro Circo, Braga.
23/02 – Teatro José Lúcio da Silva, Leiria.
11/03 – Teatro Diogo Bernardes, Ponte de Lima.
18/03 – Cineteatro Louletano, Loulé.
22/04 – Casa da Cultura Teatro Stephens, Marinha Grande.
06/05 – Cineteatro Alba, Albergaria-a-Velha.
27/05 – Teatro Municipal Joaquim Benite, Almada.
17/06 – Teatro Municipal, Guarda.
22/07 – Teatro de Vila Real, Vila Real.
16/09 – Auditório Municipal, Lousada.
23/09 – Centro de Arte, Ovar.
13/10 – Teatro das Figuras, Faro.
Concertos a ir. Álbum para ouvir e reouvir, de bons sons feitos por cá. •