Pode perder-se, e encontrar-se, em estórias: portugal_áfricas. Se possuir uma estória, e memória, que se inscreva neste eixo geográfico, então, a plataforma aguarda pela sua escrita, pela sua fotografia ou pela solução imagética que considere mais sugestiva.
estórias: portugal-áfricas trata-se de um projecto de que já aqui se deu notícia, concretamente, quando escrevi sobre o arrebatador Natureza Morta-Visages d’une Dictature, realizado por Susana de Sousa Dias. Na realidade, a ocasião da projecção do filme no CAPC-Círculo de Artes Plásticas de Coimbra no dia 1 de Novembro, e que haveria de replicar-se por mais quatro dias, tal foi a curiosidade e impacto da obra, relacionou-se com este projecto. Por outro lado, a sua coordenadora, Maria Teresa Cruz, deixaria nesse momento bem explícita a dívida que endereça a Natureza Morta, em boa parte reserva encantatória que desembocou em estórias: portugal-áfricas.
De que se trata, então? Dando a voz a quem o enunciou, pode constatar-se que “ tem como objetivo a produção coletiva de um Atlas cultural sobre a ligação entre Portugal e África com raiz em experiências individuais, familiares e comunitárias presentes ou passadas. A partilha destas histórias visa a valorização da afrodescendência no Portugal contemporâneo, mas também o reconhecimento de uma grande diversidade de experiências de entrosamento entre Portugal e África como uma realidade pregnante e transversal na sociedade portuguesa. Com efeito, provimos todos em alguma medida de uma experiência partilhada de África, do mesmo modo que partilhamos hoje Portugal com muitos Africanos e Afrodescendentes, desde logo através da língua.”
Com base em tal produção, o projecto adensa-se numa multiforme e plástica memória colectiva, embora se constitua de entrelaçamentos proporcionados pelos contributos, tanto individuais, como familiares ou comunitários; seja através da expressão escrita, seja através da imagem, as memórias tornam-se plásticas e proporcionam fugas impressivas extremamente sugestivas.
Entretanto, o projecto integrou uma conferência, ocorrida no dia 26 de Novembro na Biblioteca da FCT-UNL, Campus da Caparica, e espelha-se ainda numa exposição interpelante; quanto à primeira intitulou-se “Imagens & Narrativas: Portugal_Áfricas”; quanto à segunda, que inaugurou precisamente no mesmo dia, intitula-se “O outro quando (não) estamos a olhar”, e sobre ela se explanará proximamente. Assim, e no que respeita à conferência do dia 26 de Novembro, em parte fixante do tom conceptual do projecto, realço a explanação acerca do projecto Memoirs, afecto ao Centro de Estudos Sociais, de Coimbra; a alusão à desconstrução do mito do luso-tropicalismo; a narração enquanto exercício de uma capacidade de liberdade e de resistência; a menção ao projecto Narrativas Identitárias, cujo ponto de partida residiu na forma como as narrativas se mesclam com as representações da história; a problemática da liberdade, que se cruza, ou determina, através de marcadores fortíssimos, assinalando-se a cor da pele como um deles; a disparidade entre a memória pública, tendencialmente homogénea, e as que se laboram solitariamente; a ilusão da língua, nomeadamente a portuguesa, como elemento facilitador; a necessidade de uma revisão epistemológica.
Com efeito, um elo enleia todos estes projectos: a revisão da epistemologia das ciências sociais e humanas, a que subjaz uma cristalina crítica à construção científica, aos conceitos que produz e à ideologia que sintetizam. Haveria ainda de apontar-se uma estratégia de entre-lugares, passíveis de albergar subjectividades inovadoras; não sem estar atentas ao perigo das singularidades irredutíveis. Posto tal, o Atlas cultural que deriva de estórias: portugal_áfricas, age por vagas e recontros, associações e contágios, reconfigurações sistemáticas.
Convido-vos, portanto, a entrarem na plataforma, que se pretende que tenha pelo menos um ano de continuidade, mas cujo horizonte temporal de permanência poderá vir a ser dilatado. Nesse mesmo local, estarão disponíveis as entidades que conceberam e implementaram o projecto, as que o apoiaram, as entidades parceiras, bem como os contactos.
+ estórias: portugal_áfricas
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