Ocorreu no Museu Monográfico de Conímbriga, localizado em Condeixa-a-Velha, especificamente no dia 29 de Julho. Foi o penúltimo de uma miríade que tem pontuado o país, este, claro: Portugal, portanto.
Até chegar a Conímbriga, mais concretamente, ao cenográfico peristilo do elegante edifício museográfico, Frederico Dinis criou 16 momentos-estações: desde Coimbra e Idanha-a-Nova, passando por Vila Nova de Foz Côa e Porto, Viseu e Alcobaça, Luz-Mourão e Montemor-o-Novo, ou Santa Maria da Feira. Última estação: prometida para Mire Tibães, em Braga, a decorrer no singular Mosteiro de Tibães. Pela minha parte, entrei na viagem tarde, apenas em Conímbriga, mas compreendi, creio, a sua velocidade sintomática.
[de]construction insere-se num programa de investigação que se desenrola em torno de Site-specific Performances, sendo que, ocasionalmente, convoca a intervenção de um/a outro/a criador/a; foi o que aconteceu agora, com a primazia do movimento a ser encarnada por Rita Grade. Portanto, além do som e da imagem, matrizes do trabalho desenvolvido por Frederico Dinis, introduziu-se um corpo em movimento.
Reproduza-se parte da literatura a constar da folha que permanecia em cada uma das cadeiras destinadas ao público: “[de]construction é uma performance inspirada na história e nos valores culturais das diferentes apropriações de Conímbriga ao longo do tempo, e que transportam o público para novas representações e significados deste local, combinado diferentes meios. Os ambientes sonoros e visuais das ruínas são abordados no seu contexto, enfatizando-se, pelas suas características espaciais, formais e acústicas, alguns estados presentes simultaneamente no som, na imagem e nas próprias ruínas. Assim, destacam-se nos elementos sonoros e visuais os ambientes figurativos do espaço que facilmente podem passar despercebidos num lugar tão intensamente preenchido.”
Programaticamente, dividiu-se em três partes: opening – old ambiguities; movements – a sense of belonging; a reminiscente drive; the enounced decline; closure – into perpetuity. Abriu com um ambiente sonoro intrigante, enquanto nas duas telas frontais, que ocupavam o espaço delimitado por três colunas do peristilo, se aguavam imagens das ruínas, recompostas numa outra paisagem. O momento foi sentido como longo, cravando-se na pele. Surgiu o corpo em movimento, sendo que, e tornando manifesta a pertença, enceta um abraço sugestivo na coluna que fendia as duas telas, em câmara lenta, e algures permeabilizado de luz, pela sobreposição das imagens. Então, deu-se início a uma coreografia que percorreu o chão, o ar e a água: como se se ritualizasse o acesso aos tempos. O corpo não estava em guerra, mas também não devolveu a paz: como se nos transmitisse uma etérea existência, pelos gestos delicados, mesmo quando repetia consecutivamente a possibilidade de evadir-se.
Sim, parece-me que [de]construction foi precisamente a proposta de uma evasão. Ora, num tempo, o nosso, em que o real se impõe impiedoso e tirânico, a que pode aspirar a arte senão a isso: a uma evasão?