Turbulências – Obras da Coleção “la Caixa” de Arte Contemporânea

Exposição Turbulências – Obras da Coleção “la Caixa” de Arte Contemporânea chega a Lisboa neste setembro e estará patente na Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional.

Cerca de 40 obras da Coleção “la Caixa” de Arte Contemporânea vão estar em exibição na Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria Nacional desde o próximo dia 08 de setembro até 03 de dezembro (terá tempo suficiente para visitar a exposição). A exposição intitulada Turbulências é realizada no âmbito de Passado e Presente – Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura 2017 que integra o tema da criação contemporânea e marca a crescente presença da Fundação Bancária “la Caixa” em Portugal.


© Adrian Paci

Em 1998, a artista visual iraniana Shirin Neshat criou uma instalação de vídeo em que dois cantores, Shoja Azari interpretando o papel do vocalista masculino e a cantora experimental Sussan Deyhim na voz feminina, criavam uma poderosa metáfora. Em dois ecrãs paralelos, a partir da música e poesia antigas da Pérsia, a instalação propunha emergir uma reflexão sobre a complexidade dos papéis de género e do poder e opressão cultural dentro da estrutura de uma sociedade. A esta peça Shirin Neshat deu o nome de Turbulent, o mesmo que nomeia agora a exposição que estará patente no Torreão Nascente da Cordoaria Nacional a partir de 8 de setembro.

A exposição, com curadoria de Nimfa Bisbe, Diretora da Coleção “la Caixa” de Arte Contemporânea, reúne uma seleção de obras no âmbito do quadro conceptual do programa Lisboa Capital Ibero-Americana de Cultura 2017, e destaca a diversidade de abordagens, estratégias e relatos da criação contemporânea, tendo como pano de fundo a narrativa de crítica social que a Coleção “la Caixa” tem vindo a criar. Através da fotografia, escultura, instalação e pintura, artistas de diferentes registos dão voz a uma exposição que, não só, mostra uma pluralidade de critérios artísticos como também perscruta novos olhares sobre o mundo em que vivemos e propõe auscultar as sociedades contemporâneas, criando pontes de leitura.


© Walid Raad

Um olhar crítico perante o mundo. Turbulências é uma exposição, como o próprio nome sugere, que pretende evocar a inquietação necessária para nos fazer observar as contradições de uma sociedade contemporânea que exige olhares diversificados. A exposição exibe um número considerável de obras de artistas latino-americanos que dão forma à narrativa da crítica social predominante na coleção. As realidades e contradições sociais de países como a Argentina, o Brasil, Cuba, México ou Venezuela estão representados, por exemplo, através do olhar crítico do artista Carlos Amorales perante a ameaça de um mundo corrompido, ou pela exposição da fragilidade da vida nas ruas das grandes cidades trazida pelo José António Hernández-Díez. Carlos Garaicoa questiona e enfatiza a importância dos ícones e personalidades nas operações populistas do poder, enquanto Paulo Nazareth evidencia o desgaste dos ideais nacionalistas e o materialismo levado ao extremo; Cao Guimarães valoriza o engenho e criatividade de quem vive na precariedade e somos relembrados do tão elevado número de objetos esquecidos através da fotografia do Gabriel Orozco.


© José Antonio Hernández Díez

Aos artistas latino-americanos juntam-se outros de realidades geopolíticas diferentes, mas nem por isso menos controversas, expostas a conflitos sociais, lugares onde o capitalismo global intensificou as desigualdades sociais e os movimentos de violência, xenofobia e racismo se agravaram. Adrian Paci, artista albanês, vem relembrar o abandono dos imigrantes à sua sorte, enquanto a iraniana Shirin Neshat nos confronta com as desigualdades de género nas sociedades fundamentalistas; Thomas Hirschhorn, artista suíço, recicla imagens de arte imortalizadas pela História, enquanto Apichatpong Weerasethakul reintroduz novas ficções para povos cuja história foi suprimida pela violência. De Espanha chegam-nos os olhares de Asier Mendizabal evocando a ideologia política e a simbologia das bandeiras, Bleda y Rosa relembram-nos que parte do mal-estar atual da Humanidade tem origem nos processos de expansão para o Ultramar e Juan Ugalde assinala com um olhar solidário o que está por detrás da marginalização. A contrapor o sentido perscrutador e realista que impera nas obras destes artistas contemporâneos, na composição da coleção são também evidentes as ligações transnacionais e a força dos diálogos interculturais valorizando o sentido de que a arte, não tendo como papel apresentar soluções, deve contribuir para fortalecer laços e gerar uma maior consciência social.

Uma exposição para visitar, numa ida a Lisboa. •

Cordoaria Nacional
© Fotografia de destaque: Carlos Amorales.

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