“Antropocenas” que chega à Black Box da Plataforma das Artes e da Criatividade em Guimarães, esta semana, é fruto de uma colaboração entre Rita Natálio e João dos Santos Martins, que levará a palco um debate imperativo nos dias de hoje.
Esta peça, para a qual ambos convocam agentes de outras áreas do conhecimento, debate a pertinente questão do “Antropoceno”, terminologia utilizada por alguns cientistas para descrever as alterações provocadas pela ocupação humana do território e a exploração dos recursos do planeta Terra. Uma peça de enorme atualidade, centrada num dos assuntos que maior preocupação gera a nível global num período em que se questiona o alarmante tema das alterações climáticas.
A peça que chega dia 20 de outubro, pelas 21h30, a Guimarães, parte do conceito ”Antropoceno”, “a propósito do debate da ocupação humana do território e das condições de sobrevivência, a somar a uma chamada de atenção para uma mudança drástica dos nossos modos de vida. Esta noção vem subverter alguns aspetos que, até aqui, pareciam bem seguros e até positivos, como a ideia de natureza e cultura, humano e não humano, ciências sociais e ciências naturais. É daqui que parte esta conferência dançada, onde modelos (e não-modelos) de natureza e humanidade estão em conflito ou são colocados em confronto. É neste campo de disputa, de arena de negociação política, que a peça se lança, sendo um desafio a repensar o nosso modo de viver e de existir.”
“Antropocenas”, como já referimos, é uma colaboração entre Rita Natálio e João dos Santos Martins com a contribuição de diversas áreas como ecologia, dança, antropologia e artes visuais. Será uma “palestra dançada onde plantas, pedras, gatos, dildos e relva nas axilas podem ser os principais oradores, onde samambaias discutem os seus direitos jurídicos, sacos de plástico suicidam-se, animais fazem petições contra a sua extinção, jardineiros cortam cabelos de plantas, onde abraçamos ursinhos de poluição, comemos terra. Um requiem celebratório, enlutado e mais próximo da catástrofe do que da purificação. Ecologia melancólica ou arte de aprender a desesperar“.
No texto, ideias da história de arte e da antropologia contemporânea “misturam-se, opõem-se, matam-se e esfolam-se para destituir certos ideais de natureza“. O ponto de partida para esta viagem é discussão em torno do “Antropoceno” e da atual crise climática, mas também das cosmologias ameríndias, das etnografias multi-espécie, do racismo estrutural, do blues dos robots e de um tronco de sumaúma cortado para que os humanos pudessem dançar sobre ele. “Sabemos que ecocídio=genocídio e que não vamos mudar o mundo porque este já acabou. O meio ambiente é um ambiente partido ao meio. O capitalismo é um eterno garimpo do ou(t)ro. Ecoologia não desce a temperatura.”, afirma Rita Natálio.
A mesma, partindo de um exercício de inverter ou suspender alguns lugares comuns, faz-nos refletir nas seguintes questões: “e se em vez de pensarmos a natureza como mãe, pensássemos a natureza como amante ou paciente em estado terminal? E se tentássemos pensar ecologia sem natureza? E se abandonássemos o conceito de humano e nos assumíssemos como máquinas de compostar? E se nos deixarmos levar pela empatia com o não-humano, um submundo onde convivem simultaneamente a ideia que temos de mundo natural mas também certos corpos humanos desumanizados, escravizados?”.
Rume à Black Box em Guimarães e embarque nesta viagem. •