“A Casa da Democracia: entre Estado e Poder”

A Casa da Arquitectura (CA) – Centro Português de Arquitectura e a Assembleia da República inauguraram no passado sábado, dia 17 de fevereiro, na Galeria da Casa, a exposição “A Casa da Democracia: entre Espaço e Poder”, sobre a forma como se cruzam a transformação arquitetónica do Palácio de São Bento e a evolução política de Portugal.

“A Casa da Democracia: entre Espaço e Poder”, com curadoria da arquitecta Susana Ventura, pretende dar a conhecer a um público mais vasto os vários espaços que compõem o conjunto edificado da Assembleia da República (AR) e também estabelecer um pensamento crítico sobre as relações entre espaço e poder (ainda no seguimento da exposição inaugural da CA Poder Arquitectura) fundamentais para a disciplina da Arquitetura. Esta mostra corresponde ainda a um momento inaugural do protocolo celebrado entre a CA e a AR para o “Tratamento arquivístico dos projetos dos edifícios a Assembleia da República”.

A atual Assembleia da República, assento do Parlamento Português, foi cenário e palco de importantes movimentos sociais e regimes políticos que determinaram o nosso destino histórico: a Revolução Liberal de 1820, que dois anos depois deu origem à primeira Constituição Portuguesa; a abolição da Monarquia e consequente implantação da República em 1910; a ditadura do Estado Novo e o seu fim, após a Revolução de 25 de abril de 1974, com a desejada restauração da Democracia.

A história que o edifício acumula é igualmente inseparável da história da arquitetura portuguesa, remontando ao final do século XVI, aquando da fundação do Mosteiro de São Bento da Saúde, desenhado pelo Arquiteto Balthazar Álvares e considerado um dos mais relevantes exemplos do estilo chão devido à sua monumentalidade e marca territorial, o que terá, certamente, potenciado a sua posterior adaptação a Palácio das Cortes.
As histórias entrecruzam-se ao longo dos séculos, estimulando uma compreensão que não deve ater-se à sucessão dos acontecimentos para procurar pensar o próprio sentido do que é o espaço político no nosso presente. O sistema político condicionou, por diversas vezes, a arquitetura do edifício (incluindo a coreografia dos corpos e a iconografia) e do pedaço de cidade onde se insere, enquanto a arquitetura, por sua vez, contribuiu para a criação e afirmação de um centro de poder ou da cidade enquanto espaço de liberdade.

A peça que ocupa o espaço central da galeria, desenhada por Luísa Bebiano, é um espaço elíptico. Num dos lados, apresentam-se algumas das hipóteses sobre a relação entre espaço e poder, cruzando as linhas temporais em elipses virtuais, e, no outro lado, expõem-se as fotografias de Paulo Catrica dos vários espaços da Assembleia da República que muitas vezes permanecem ocultos, revelando-nos, simultaneamente, o edifício institucional e o espaço comum de trabalho e debate.

A vontade de promover uma estrita relação entre a arquitetura e a sociedade tem pautado a atividade da Casa da Arquitectura incentivando a reflexão e a intervenção sobre a absoluta necessidade de a arquitetura voltar a assumir a dimensão social e política que perdeu nas últimas três décadas”, afirma o Diretor-Executivo da CA, Nuno Sampaio, realçando que se “inicia agora, com esta exposição, uma absolutamente nova e concreta leitura sobre a relação entre o exercício do poder e a arquitetura, expressa nas transformações operadas no edifício do Palácio de São Bento ao longo da história”.

Uma exposição a não perder até dia 15 de abril, na Casa da Arquitectura, em Matosinhos. •

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