A Arte da Comédia / CCVF

“A Arte da Comédia” prepara-se para pisar o palco do Centro Cultural Vila Flor (CCVF) esta semana. A estreia desta primeira criação de 2018 do Teatro Oficina, “A Arte da Comédia” é um texto do comediante (e chefe de companhia) italiano Eduardo de Filippo (1900-1984) em que a bela representação e o disfarce parecem enganar os novos políticos locais, numa trama em que o virtuosismo dos atores é posto à prova e discutido o papel do teatro numa cidade de província.

As personagens centrais são o ator/diretor da companhia de teatro local (interpretado por João Pedro Vaz) e o novo Presidente da Câmara nomeado pelo governo para gerir a cidade (interpretado por Valdemar Santos), que debatem entre si o papel do Teatro Municipal. Um espetáculo considerado ideal para início de mandato. “‘A Arte da Comédia’ nasce de uma série de conversas com o incontornável encenador Luís Miguel Cintra – que esteve recentemente em residência artística em Guimarães – sobre o que é o Teatro Oficina, a sua história, a experiência e vivência do teatro no território. Foi a partir desse encontro que surgiu a sugestão deste texto, que imediatamente despertou o interesse do diretor artístico da companhia vimaranense“.

Nesta nova criação, a companhia de teatro de uma cidade que não é um grande centro, “mas ainda assim é uma capital”, viu o seu antigo barracão arder, local onde representaram “dois mil anos de teatro” e que estava sempre esgotado. No pequeno barracão, o público era assíduo mas, quando a companhia se muda para o teatro municipal (por favor do antigo Presidente da Câmara), o público não quer entrar, apesar do preço ser o mesmo. Ao teatro municipal ninguém vai ver os seus trabalhos porque as pessoas cultas da cidade não gostam das peças populares e o povo tem vergonha de entrar no teatro municipal. E assim o teatro vai ficando vazio provando que “a crise do teatro é medonha em toda a parte”.

Este é o ponto de partida da trama d’“A Arte da Comédia”. “Na primeira parte do espetáculo são colocadas estas problemáticas entre as duas personagens centrais e é então que acontece um equívoco entre elas e se gera um conflito. Tudo se passa quando o diretor da companhia de teatro local pede ao novo presidente da câmara para assistir e reforçar o apoio da câmara ao seu novo espetáculo, ao que o presidente responde que já fez teatro amador quando era novo, mas hoje em dia não gosta de nada do que se faz e que ninguém escreve bem para teatro, é sempre a ‘caldeirada do costume’ e recusa-se! E acrescenta que, no pouco tempo disponível que tem, se senta a ver televisão e, portanto, não vai! Isto causa um desaguisado, com o diretor da companhia a ser expulso do gabinete.
No momento em que o presidente no seu primeiro dia em funções (vindo de fora da cidade por nomeação do governo, desconhecendo, por isso, completamente as pessoas locais) se prepara para receber as individualidades da cidade, o diretor da companhia de teatro rouba a lista das pessoas que o presidente da câmara irá receber, ameaça-o e diz-lhe que pode perfeitamente enviar os seus atores e que, sendo eles tão bons, o presidente não se vai aperceber se, de facto, estará a receber as forças vivas da cidade, como o médico municipal, o padre ou a professora primária, ou atores virtuosos bem disfarçados. A partir daqui, instala-se a dúvida e toda a gente que entra no gabinete do presidente da câmara pode bem ser um ator disfarçado de uma pessoa real, situação que acaba por explodir em vários casos ‘reais, grotescos, cruéis, trágicos’ mas que não se sabe se são cenas bem ensaiadas.

Neste espetáculo, que estará em cena sexta e sábado, dias 23 e 24 de Março, sempre pelas 21h30, embora as personagens principais sejam o Presidente da Câmara e o Diretor da Companhia de teatro local, aparecendo, pelo meio, as tais individualidades da cidade, no centro está o papel do teatro na vida das pessoas. O papel das autoridades em relação ao teatro e do teatro em relação às autoridades locais. Em “A Arte da Comédia”, o “teatro é questionado permanentemente como imitação da vida e como reflexão sobre o que isso traz de útil, ou não, e até que ponto é um instrumento de modificação das pessoas, até político. Uma certa nostalgia irrompe aqui e ali mas a ironia é incessante e é nessa ‘caldeirada’ que a peça se torna uma comédia, no sentido alargado, não só do género, mas desta forma de arte ‘singular, sublime e única’. É pois, com a eleição deste texto, que o Teatro Oficina inaugura o ano em que quer investigar a arte do teatro.

A juntar às duas personagens centrais, o elenco desta nova criação da companhia de teatro de Guimarães é recheado por atores e atrizes pertencentes ao Gangue de Guimarães (artistas de artes performativas cartografados pelo Teatro Oficina que são provenientes de Guimarães ou com íntima relação com este território, encontrando-se espalhados pela cidade, pelo país e pelo mundo), entre estes Carolina Amaral, Diana Sá, Emílio Gomes, Gil Mac, João Ventura e Mário Alberto Pereira, contando ainda com a presença de Nuno Preto e as participações especiais de António Matos e Elvira Oliveira.

Por tudo isto, este fim-de-semana se estiver por Guimarães, rume ao Grande Auditório do CCVF. •

+ CCVF
© Fotografia: DR.

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