Léxico Punk por The Parkinsons

Primeiros anos. Londres. Anos do meio. Concertos incendiários. Japão. Pausas. Imprevistos. Documentário. Regressos. Continuação. Álbuns. Futuro. Caos. Contágio. A sucinta suma do resumo de um possível texto introdutório para aquela que é desde os primeiros acordes uma banda referência internacional do universo Punk-Rock e que não se pode sintetizar em artigo algum: The Parkinsons.

Com já quase tudo questionado, dito, despido, redito e retido. Tudo respondido e lido. O novo álbum de originais desta entidade patriarcal do Punk, em boa verdade, escusaria quaisquer apresentações cá e mais além. Faz parte daquela memorabilia que é imprescindível a quem se diz um connoisseur do amplo universo musical, a quem se acha indomesticável, a quem gosta de música que, como diria Iggy Pop, “Gosto da música que é mais agressiva. Gosto que soe como unhas a passar num quadro de ardósia, deixa-me doido.”. The Parkinsons são para quem gosta de sentir a música não à flor da pele, mas nas entranhas.

E toda esta divagação tem por única e só culpa a apresentação da forma do nada… ou do tudo que ainda está por vir. O que está em loop é “The Shape of Nothing to Come”. Numa onda contra-corrente, e sem garantias algumas de que tal fosse funcionar, juntámos 33 palavras para decifrar em contra-relógio o léxico Punk-Rock aos olhos dos The Parkinsons. Porque é um momento Punk-Parkinsons, não estará por ordem alfabética ou qualquer outro tipo de organização, naturalmente.
Todavia e antes de mais, a impossível e necessária suma do apocalipse naturalmente glorificado dos The Parkinsons, para quem ainda não ouviu ou viveu uma experiência que não se esquece.


© Vera Marmelo

No portfolio, álbuns que se tornaram base de uma discografia Punk que se preze, a saber: quatro LP’s (sem contar com singles e compilações) – “A Long Way to Nowhere” (2002); “Reason to Resist” (2004); “Back to Life” (2012); e este 2018, apanágio musical que nos traz a este artigo, o veementemente desejado “The Shape of Nothing to Come”.

Victor Torpedo, Pedro Chau, Afonso Pinto – o trio conimbricense acidental original, unidos desde a origem do não mito -, João Jorri Silva – há três anos a ser anti-herói – e Ricardo Brito – desde 2017 a partir baquetas na bateria – são a antítese consumada do moderado organizado, do recato sossegado, da música programada para ouvir sem sentir o ímpeto de mandar algo pelos ares. Nus, semi-nus, totalmente vestidos (a vosso cargo fica o decifrar de quem por todos os estados já passou), em cada música eles são a representação mais genuína do que é ser genuinamente Punk e nada Pop.
Em Inglaterra (com epicentro em Londres) foram e são reis – God Save The Parkinsons – no Japão foram loucura incendiária, Espanha e França já foram ambas contaminadas, Portugal é o ADN supremo.

Em termos práticos, são mais eficientes que uma máquina de reanimação tornando-nos prisioneiros frenéticos da sua adrenalina magnetizante.
Gigantes admirados, irreverentes, incómodos, inconformados, desorganizados, provocadores, imprevisíveis, garantiram merecidamente a reputação de caos histórico por onde passam. Ninguém lhes fica indiferente. Ninguém esquece um concerto dos The Parkinsons. Se esquece é porque a ressaca ainda está activa. Se tem dúvidas, confirme no Documentário ímpar realizado por Caroline Richards – “The Parkinsons, A Long Way to Nowhere”.

E voltando lá atrás, ao Léxico Punk-Parkinsons, para o decifrar sentámos Victor Torpedo numa cadeira e João Jorri Silva num banco. Apenas dois. Afonso Pinto perdido em Londres. Ricardo Brito achado em Castelo Branco. Pedro Chau em universo paralelo. São The Parkinsons com Torpedo e Jorri Silva em representação soberana onde o primeiro tomou as rédeas sem saber do quê e o segundo ia acenando em consentimento consentido.

O Léxico anunciado em contra-relógio. (Sem o requisito de resposta à velocidade da bala, não era Parkinsons).

Niilismo – Uma filosofia de vida ou a vida da filosofia?
Victor Torpedo (VT) – Tem de ser niilismo com futuro, isso é que é, no caso dos Parkinsons. Do positivo. Vida após a morte; após a destruição.

Caos – Um Estado ou um modo de existir?
VT: Vou ter de te dizer arte, simplesmente arte. A maneira de fazer arte (música) é através do caos.

Motim – Espontâneo ou apenas lírica?
VT: Espontâneo, sempre.

Deboche – Inevitável ou irresistível?
VT: Irresistível, tenho pouca resistência ao deboche, no meu caso. E na banda também.
Jorri Silva (JS): É irresistivelmente inevitável.

Politica – Obrigatoriedade ou inevitabilidade?
VT: Inevitabilidade, completamente.

Imprevisibilidade – Constante ou pontual?
VT: Constante. Está tudo ligado aos imprevistos.

Crowd Surfing – Mergulho ou elevação?
VT: É andar sobre a água. É Jesus Cristo. É Cristo Afonso andando sobre as águas.


© Sara Quaresma Capitão

Despir – Verbo ou atitude?
VT: Um verbo.

Ruído – Acompanhamento ou prato principal?
VT: Eh pá! É a sobremesa.

Indivíduo – Um entre todos ou todos num?
VT: Todos num, claro.

Acidentalismo – Doutrina filosófica ou corrente artística?
VT: As duas coisas. E a prova está aí, agora temos mais um acidentalista. Afonso Pinto, um artista por acidente.

Sátira– Expressão ou necessidade?
VT: Necessidade inevitável.

Literatura – Poesia ou prosa?
VT: Prosa, apenas por uma questão de gosto.

Swing Mic – Uma dança ou um tique?
VT: Um tique.

Anti-Ídolo – Ser ou não ser ídolo?
VT: Não ser, sempre.

Punk – Existência ou acção?
VT: Acção, sem dúvida

Sexo – Tema inevitável ou natural?
VT: Inevitável… nas nossas conversas, sobretudo.

Ideologias – Ter ou desprezar?
VT: Ter, sem hesitar.

Estética – Afirmação ou manifestação?
VT: As duas coisas, simultaneamente.

Vícios – Êxtase ou ressaca?
VT: Êxtase.
JS: Falam os que não usam da ressaca. Somos a versão não ressaca.

Stooges – Inspiração do início ou para sempre?
VT: Para sempre.

Extremos – Forma de vida ou testar limites?
VT: Forma de vida.

Atitude – O que nos faz ou o que fazemos?
VT: O que fazemos.

Coimbra – Cidade ou marasmo?
VT: Cidade de marasmo, sim.

Religião – Ficção ou romance?
VT: Ficção.


© Vera Marmelo

Liberdade – Esgazeada ou disfuncional?
VT: Está no limite das duas… Disfuncional mesmo.

Valores – Com direitos e deveres ou ausência?
VT: Com direitos e deveres.
JS: Tem alturas…
VT: Bom, depende dos valores.

Tédio* – Uma banda ou o estado cultural?
VT: Uma Banda!

Londres – Berço ou eterna casa?
VT: Casa eterna.

Viver – Difícil ou complexo?
VT: Complexo.

Música – Estúdio ou palco?
VT: Tem de ser ambas.

Japão – Incendiário ou apocalíptico?
VT: Incendiário.

Silêncio – Aparição ou tumulto?
VT: Tumulto.

Próximos (des)concertos depois da apresentação do álbum em Lisboa e da tour que os levou a Espanha, França e Inglaterra:
26/05 – (AMANHÃ), Festival T.N.T., Teatrão; Coimbra.
16/06 – Festival A Porta; Leiria.
30/06 – Proença-A-Nova Rock Fest; Proença-A-Nova.
06/07 – Morrasound Rock Festival; Moana, Espanha.
19/07 – Festival Super Bock Super Rock; Lisboa.
09/08 – L’Agosto 2018; Guimarães.
05/10 – Festival Bardoada e Ajcoi; Pinhal Novo.
06/10 – Faro Alternativo; Faro.

Trailer do Documentário (obrigatório para um esmiuçar da banda): “The Parkinsons: A Long Way to Nowhere”, de Caroline Richards.

A não perder quem segue esta trupe de perto. A ir para saber o que é Punk-Rock para quem ainda não ouviu o original ou nada mesmo (abra horizontes, arrisque).

E para terminar, Dante dizia na sua magnânima Divina Comédia “No Inferno, os lugares mais quentes são reservados àqueles que escolheram a neutralidade em tempo de crise”. Mutantes, não tenham dúvidas, esta trupe tem garantido refrescantes lugares, seja onde for. •

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*Referência a Tédio Boys (banda).
© Fotografia de capa: DR.

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